Para muitos brasileiros, parcelar compras no cartão de crédito virou um hábito. Tornou-se quase automático, sobretudo em casos de valores mais robustos, buscar a informação, na hora do checkout, de em quantas vezes é possível quitar a dívida adquirida, de preferência sem juros na comparação com o pagamento à vista.
O uso do cartão para fracionar débitos acabou sendo uma evolução do velho crediário, mas não é acessível a todos. O crediário tradicional, mesmo com juros, acabava sendo a única escolha para uma parcela da população poder adquirir bens mais caros. Como o produto acabou sendo muito usado por aqueles que não tinham limite de crédito disponível ou não eram aprovados para um cartão de crédito, houve uma seleção adversa que resultou em alta inadimplência, o que tornou o carnê pouco atrativo para o comerciante muito em razão de uma análise de risco pouco assertiva.
Com a crescente digitalização, os clientes passaram a buscar meios online para pesquisar produtos de alto valor, e a oferta de opções de financiamento online passou a ser fundamental para ganhar a escolha do consumidor.
Para os que possuem cartão de crédito, ele é mesmo um instrumento muito usado na hora de parcelar as compras. Entre as carteiras de crédito para pessoa física no Brasil, o cartão de crédito foi o que apresentou maior percentual de crescimento entre 2011 e 2021: 243,4%, de acordo com levantamento da Abecs, representante oficial do setor de meios eletrônicos de pagamento no país. Segundo uma pesquisa de 2021 da Fundação Dom Cabral com o apoio da Brink’s, entre as principais razões apontadas pelos brasileiros que preferem o cartão de crédito como meio de pagamento, estão facilidade (36,1%) e a possibilidade de parcelamento (31,4%).
Mas quem não dispõe desse mecanismo também quer comodidade. E opções para diluir seus gastos ao longo do tempo em um contexto de virtualização que foi amplificado pela pandemia. Como qualquer mercado, o de meios de pagamento segue a lógica da oferta e da demanda. E da satisfação dos consumidores – essa é a finalidade a ser atingida pelo sistema. Nada mais natural, então, que surgisse uma alternativa que reunisse características de boletos e do cartão de crédito com benefícios tanto para vendedores quanto para os compradores e seus anseios: o chamado “Buy Now, Pay Later” (BNPL), que nada mais é do que um crediário digital.
O cliente que escolhe essa forma de pagamento na hora do checkout receberá as cobranças por e-mail, WhatsApp ou outro canal eletrônico, sem a necessidade de ter um cartão de crédito – e sem entraves burocráticos. O lojista, por sua vez, não fica desassistido em relação ao perigo da inadimplência. O comprador passa por uma avaliação de perfil, geralmente realizada por plataformas especializadas. Nesse processo, novas técnicas de analytics e o uso de dados alternativos tornam-se fundamentais: quanto mais vastos os recursos utilizados dessa seara, maior a precisão da análise de risco.
Hábitos mais sustentáveis
Como avanço em relação ao crediário tradicional, estamos falando de tecnologia. Na comparação com o parcelamento via cartão de crédito, o ganho se dá em inclusão, uma vez que não é preciso ser cliente de uma bandeira para ter acesso ao BNPL.
Importante ressaltar, também, que o Buy Now, Pay Later caiu no gosto de consumidores mais jovens, e isso no mundo todo. A proximidade das gerações mais novas com o universo digital explica em parte essa adesão, mas é possível inferir ainda que tal movimento se explique pelo processo de aprovação mais simples do BNPL, que se destina a uma compra única, ao passo que o cartão é para uma relação de longo prazo. Além disso, mesmo quem tem um cartão de crédito pode se valer do Buy Now, Pay Later para não comprometer o limite do cartão com parcelas futuras. O novo modelo é ainda um facilitador na aquisição de bens por meios online, já que as lojas físicas nem sempre têm exposto todos os seus produtos.
Novos tempos pedem costumes renovados. Em certa medida, o advento do BNPL mostra que os meios de pagamento também tentam se alinhar com modos de vida mais sustentáveis e consumidores que não relutam em mudar de marca ou de loja em busca do melhor atendimento possível. Nesse cenário, em vez de remeter somente a parcelamento ou divisão, o Buy Now, Pay Later também se refere a um passo rumo à integração social.
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