A Amazon inaugurou o seu maior escritório no mundo na cidade de Hyderabad, no sul da Índia, após quatro anos de construção. É o primeiro escritório que pertence exclusivamente à Amazon fora dos Estados Unidos, e se soma aos 40 outros escritórios, 67 centros de logística, 1.400 estações de entrega e uma força de trabalho de mais de 60 mil pessoas. O tamanho do prédio — 167 mil m² — equivale a quase 65 campos de futebol.
O escritório de 15 andares possui salas de oração, um pequeno campo sintético de críquete, 49 elevadores, um heliporto e uma lanchonete aberta 24 horas por dia em um campus que é feito de 2,5 vezes mais aço que a Torre Eiffel, segundo a empresa.
No local, circulam 7 mil funcionários de uma força de trabalho esperada de 15 mil, em grande parte composta por equipes de tecnologia focadas no uso de aprendizado de máquina e desenvolvimento de software para inovar serviços — como o serviço de transferência de dinheiro da Amazon Pay para transações digitais em um país com 190 milhões de cidadãos desbancarizados — bem como funcionários de atendimento ao cliente.
Representantes da Amazon não quiseram comentar sobre o valor total do desenvolvimento, mas revelaram à Bloomberg que custou “centenas de milhões de dólares” para construir. O campus é o maior da Amazon, mas a empresa planeja abrir uma segunda sede nos EUA, que pode ser ainda maior.
Polo tecnológico indiano
A cidade de Hyderabad surgiu há poucos anos como um centro financeiro e de tecnologia e uma atração para jovens talentos. A cidade de 10 milhões de habitantes teve o maior aumento em espaços para escritórios de tecnologia no ano passado, e já é uma base na Índia para outras empresas multinacionais de tecnologia como Facebook, Google, Microsoft e Apple, que gastaram US$ 25 milhões para o desenvolvimento de seus escritórios por lá.
“Hyderabad é um conhecido centro de talentos em tecnologia de software, e o governo tem sido um facilitador para que tenhamos um campus desse tamanho”, disse Minari Shah, porta-voz da Amazon. “Esta é uma confirmação como a Índia continua a ser importante para a Amazon’.
Desde a construção do escritório de Hyderabad, a Amazon fez alguns apelos promissores para os locais: abriu uma loja Amazon Fresh para entrega de alimentos em Bangalore. Também deu início ao Prime Reading com livros em hindi e tâmil e introduziu uma farmácia online em meio à pandemia.
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Plano de expansão da Amazon
O desejo de expansão do gigante do varejo é fácil de explicar. O setor de comércio eletrônico da Índia ainda está em sua infância, perto de 120 milhões de compradores online em 2018 de uma população de mais de um bilhão.
Em 2018, a Amazon era o segundo maior varejista online da Índia, atrás da Flipkart, com 32% do mercado (em comparação com 41% nos Estados Unidos). E analistas da Forrester prevêem que as vendas de e-commerce no país chegarão a quase US$ 86 bilhões em 2024. Mas o plano da Amazon para o mercado indiano enfrenta desafios, incluindo resistência de empresários e políticos locais.
De acordo com uma reportagem do The New York Times, quando o fundador da Amazon, Jeff Bezos, visitou a Índia em janeiro, ele se deparou com um caso antitruste de reguladores indianos, que estão investigando a Amazon e o gigante do comércio eletrônico indiano Flipkart, propriedade em grande parte do Walmart.
A Índia proíbe o investimento estrangeiro direto no varejo. Por lei, a Amazon e outras firmas de comércio eletrônico de propriedade estrangeira devem ser mercados neutros que dependem de vendedores independentes.
Mas Praveen Khandelwal, fundador e secretário-geral da Confederation of All India Traders, que supervisiona 70 milhões de comerciantes e 40 mil associações comerciais, argumenta que a empresa prejudicou o comércio interno, resultando no fechamento de milhares de empresas locais em todo o país.
O novo escritório da Amazon em Hyderabad, disse ele, é apenas uma forma de “pressionar pelo controle e domínio sobre o comércio varejista indiano de uma forma mais estruturada”.
Pânico dos vendedores locais
O regulador de varejo da Índia está investigando a Amazon sob alegações de que está usando grandes descontos e vendedores preferenciais, segundo Satish Meena, analista sênior da empresa global de pesquisa de tecnologia Forrester. “Existem lacunas que eles estão explorando; todo mundo sabe disso”, disse Meena.
Meena diz que há pânico entre os vendedores locais, que sentem que estão sendo empurrados para fora do mercado à medida que outros têm preferência, e agora estão vendo o governo levantar questões sobre as práticas de negócios de grandes empresas de tecnologia somente depois de desenvolverem suas próprias plataformas de e-commerce.
Para acalmar a situação com os varejistas indianos, Bezos anunciou um investimento de US$ 1 bilhão durante sua visita em janeiro para ajudar pequenas e médias empresas a impulsionar seu crescimento online. Isso além da promessa da Amazon de US$ 5 bilhões em investimentos no país em 2016, e outros US$ 500 milhões em e-commerce de alimentos no próximo ano.
Desde a pandemia, no entanto, com o comércio eletrônico como o único canal de venda de produtos por meses, mais pequenas empresas estão percebendo o potencial de trabalhar com marketplaces como a Amazon e a Flipkart, acrescentou Meena.
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