A Confederação Nacional da Indústria (CNI) fez um diagnóstico sobre o aumento no preço do frete para cada contêiner que chega ou sai do Brasil. Conforme o levantamento, entre janeiro de 2020 e setembro de 2021, o preço dolarizado do frete de um contêiner com destino aos Estados Unidos subiu até 433%. Se o destino for a costa oeste da América do Sul, a alta registrada é ainda maior: chega a 510% no mesmo intervalo.
O custo do frete também explodiu quando se trata das importações. Uma unidade que venha da Ásia, por exemplo, teve o seu frete – em dólar – encarecido nada menos do que 446% no mesmo período.
A CNI alerta sobre algumas particularidades brasileiras que ajudam a agravar os efeitos da crise global para o transporte. A primeira é que a posição brasileira no comércio internacional de contêineres tem pouca relevância e responde por apenas 1% dos contêineres movimentados globalmente. Isso significa que o país está fora das principais rotas de navegação.
Paralelamente, o Brasil também apresenta desbalanceamentos em determinados fluxos de carga (importa mais mercadorias conteinerizadas do que exporta), além do problema crônico de ter baixa eficiência aduaneira portuária.
Falta de contêiners
Em agosto, com o objetivo de mapear os problemas enfrentados desde o início da pandemia, a CNI fez um levantamento com 128 empresas e associações industriais. Quando questionadas sobre suas exportações, 76% observaram aumento no valor do frete de exportação; 70% relataram ter sofrido com a falta de contêineres ou de navios; e 65% sofreram com cancelamento, suspensão de escala ou serviço regular.
A fotografia não melhora em nada quando se trata de importações que dependem dos contêineres. Dos entrevistados, 96% observaram aumento no valor do frete de exportação; 60% relataram ter sofrido com a falta de contêineres ou de navios; e 50% registraram cancelamento, suspensão de escala ou serviço regular.
O diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, menciona casos abusivos de cobrança. “Para o transporte, o principal reflexo é o aumento dos preços do frete marítimo. O custo de envio de um contêiner de Xangai para a América do Sul, por exemplo, quase quadruplicou desde o início da crise sanitária”, diz.
Bruno Batista também admite que há um consenso de que os problemas logísticos para o transporte de cargas se estenderão por boa parte de 2022. “A solução em curto prazo passa pela retomada do ritmo de produção industrial de contêineres e pela maior agilidade nas operações de carga e descarga dos navios nos portos. A estabilização das cadeias globais e dos fluxos de movimentação (solução mais duradoura), contudo, demandam mais tempo.”
Mãos atadas
A reportagem questionou o Ministério da Infraestrutura sobre eventuais medidas que possam ser tomadas para resolver o problema. Por meio de nota, a pasta declarou, basicamente, que não há muito o que fazer, porque se trata de uma limitação de mercado internacional.
“A falta de contêineres é um problema de escala global atualmente, em decorrência dos impactos operacionais trazidos pela pandemia de Covid-19. O governo federal, por meio do Ministério da Infraestrutura (MInfra), tem atuado junto às empresas e ouvido o setor para discutir alternativas que minimizem esse problema no Brasil, mas não possui competência para atuar diretamente para reverter o que é uma escassez de mercado”, declarou o ministério. “Como a navegação é uma atividade realizada por empresas privadas, a disponibilidade de contêineres parte das estratégias operacionais de cada companhia.”
Representantes da CNI se reuniram com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para discutir o assunto e apresentar uma lista de possíveis ações que ajudem a reduzir os estragos. As medidas incluem ações para levar mais eficiência aos controles aduaneiros e agilizar a liberação da carga.
O setor também espera padronização de taxas cobradas pelos terminais portuários, além da eliminação de cobrança para o escaneamento de contêineres.
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