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A ascensão da BYD e os reflexos para a cadeia global de e-commerce automotivo

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Por: Lincoln Fracari

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link

Fundador e diretor executivo do Grupo China Link. Especialista e consultor na área de negócios com a China e Ásia, empresário, investidor, escritor e palestrante. Formado em Administração pela Universidade Paulista e especializado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas.

A liderança mundial da BYD no setor de veículos eletrificados, superando a Tesla em volume total de vendas e faturamento em 2024, não é apenas um marco histórico na indústria automotiva. Ela também representa um ponto de inflexão para toda a cadeia de supply chain, importação, distribuição e e-commerce B2C, B2B e D2C no setor automotivo global.

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Imagem: Reprodução.

A virada da BYD – que entregou 4,27 milhões de veículos no último ano, incluindo modelos elétricos e híbridos, contra 1,8 milhão de unidades exclusivamente elétricas da Tesla – é sintomática de um mercado em transformação, no qual a combinação entre precificação agressiva, integração vertical e adoção tecnológica tem superado o puro brand equity.

Verticalização e agilidade industrial: um novo padrão para o D2C automotivo

Ao assumir o controle de toda a cadeia produtiva – desde baterias até software embarcado, canais de venda e operações de exportação -, a BYD ganha capacidade de resposta rápida a flutuações do mercado e às exigências logísticas de um novo consumidor digital. Esse modelo vem inspirando movimentos também em fabricantes ocidentais que visam adotar estruturas D2C, vendendo diretamente ao consumidor final por e-commerces proprietários.

A implantação de marketplaces próprios, o uso de realidade aumentada para testes virtuais de veículos e a customização digital do produto (modelos, cores, softwares, upgrades) tornam o carro um item nativamente digitalizável – e, portanto, e-commerciável.

Acesso, não apenas propriedade: o impacto dos modelos acessíveis

Com modelos como o Qin L custando cerca de R$ 85 mil na China, a BYD amplia a base de entrada para novos perfis de consumidores, inclusive nos marketplaces. Isso também pressiona o setor de peças, serviços e seguros a adaptar suas plataformas para um ecossistema mais digital, mais elétrico e mais asiático.

Nesse contexto, os fluxos de importação ganham relevância estratégica. Empresas que operam no comércio eletrônico de veículos e autopeças precisam dominar as práticas de importação formal, regimes aduaneiros específicos (como ex-tarifários para eletromobilidade) e negociar com fornecedores internacionais sob cláusulas de exclusividade, prazo e logística integrada.

Mais do que vender carros, a BYD está moldando um ecossistema de consumo em que o e-commerce se torna o ponto de partida da experiência do cliente – e a importação, o alicerce operacional dessa nova fase.

O elo frágil do Ocidente: distribuição, fiscalização e supply chain

Enquanto a BYD expande de forma coordenada suas fábricas e canais de distribuição em regiões emergentes, inclusive América Latina e Sudeste Asiático, fabricantes tradicionais sofrem com rupturas logísticas, dependência de semicondutores e redes de revenda defasadas para a nova realidade omnichannel.

A aceleração asiática também pressiona os países importadores a reverem modelos fiscais, acordos de livre comércio e processos de nacionalização. Isso afeta diretamente o tempo de entrega e o custo logístico no e-commerce de alta complexidade, como é o caso do automotivo.

Geopolítica e dados: os ativos ocultos em jogo

Com as crescentes restrições dos EUA e da União Europeia à entrada de carros chineses, as tensões comerciais colocam em jogo um ativo silencioso: os dados. Montadoras como a BYD, com altíssimo nível de digitalização e conectividade, operam hoje como plataformas de dados sobre mobilidade, consumo e logística.

A disputa não é apenas por vendas: é por informação, previsibilidade e acesso a inteligência de mercado.

O que isso exige do e-commerce automotivo global?

– Infraestrutura digital preparada para omnichannel real: integração entre venda direta, redes autorizadas e e-commerces independentes.

– Revisão dos modelos de last mile: o elétrico demanda novos hubs de abastecimento, centros de serviço e last mile especializado.

Plataformas de serviços integradas: do financiamento à renovação de software, a jornada passa pelo digital.

– Curadoria e segmentação mais refinadas: é preciso cruzar dados de consumo, geografia e comportamento para ofertar o modelo certo no canal certo.

– Domínio dos fluxos de importação: do sourcing ao desembaraço aduaneiro, a importação estruturada passa a ser uma competência central na operação digital do setor.

Consideração final

A liderança da BYD inaugura uma nova fase do setor automotivo, mas também pressiona o e-commerce global a se sofisticar. Não basta mais vender online: é preciso repensar toda a experiência de consumo e logística para um produto mais complexo, mais acessível e mais conectado.

A transformação do automóvel em plataforma digital está em curso. Quem não se adaptar ficará para trás – muito antes de o carro sequer sair da garagem.

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