Na semana passada, exatamente no dia 15 de dezembro de 2011, a Amazon Web Services aterrissou no Brasil a partir da apresentação de sua nova região de cloud computing localizada em São Paulo, em terras brazucas. Isso foi um marco, prova de que o grande gigante de cloud computing mundial já estava de olho no Brasil e viu aqui uma grande oportunidade de pegar carona nesse grande momento de empreendedorismo, principalmente na área de internet, que nosso país está vivendo.
Mas, antes, vamos fazer uma viagem no tempo e relembrar (ou contar para os mais novos!) os tempos pioneiros da internet no Brasil. Na época da bolha de internet, se você tinha uma ideia na cabeça, era preciso ter também algum dinheiro no bolso e disposição para negociar com as grandes operadoras, como você tinha disposição para colocar essa sua ideia na internet. Se a sua ideia tivesse um crescimento (vamos dizer exponencial…), era preciso ter fôlego financeiro para poder arcar com uma infraestrutura considerável e com os “downtimes” inerentes a um processo de upgrade do seu parque. Olha que nem falamos da banda, pois o preço era tão proibitivo que às vezes não tinha outro jeito a não ser recorrer a um investidor anjo para poder continuar. E foi assim que poucos portais brasileiros sobreviveram.
Logo, então, a internet se popularizou no Brasil (para a nossa felicidade!), e o modelo de negócio de hospedagem de sites se consolidou oferecendo maneiras mais baratas de prosperarmos na internet, em que você alugava um espaço no servidor através do pagamento de planos com perfis de utilização e alguns poucos recursos disponíveis e seguia vivendo a sua vida até que não comprometesse os demais clientes alocados na mesma máquina que você e ter de migrar o seu site para um servidor dedicado, pagando bem mais caro!
Esse modelo já começou a apresentar problemas, pois você ficava restrito ao plano ele oferecia, no formato McDonald’s (obviamente com opcionais, mas bem caros!) e, se quisesse sair daquele formato para lhe atender melhor, seria necessário ir para um servidor dedicado. Partindo do pressuposto de que você precisa crescer, sua estrutura tinha que crescer também, você começava aquele processo de cotação de aluguel de colocation de servidores, com intermináveis reuniões entre gerentes de contas dos data centers, negociando preços de máquinas, banda etc e tal… e em alguns momentos você poderia pensar: era quase um processo de licitação do governo!
Em um determinado momento, começou a surgir a AWS, lançando o seu modelo de cloud computing, nos idos de 2005/2006, em que uma nova forma de crescer era proposta, fazendo como a vida é: natural! O seu negócio poderia crescer em tecnologia e infraestrutura de forma como se tivesse criando um filho: um belo dia ele tem cara de joelho e no outro você acorda e vê à sua mesa de café da manhã sentado um marmanjo de 20 anos pedindo a chave do seu carro!
Obviamente as pessoas num primeiro momento olharam com muita desconfiança, mas imagine você poder redimensionar sua infraestrutura ou mudar a sua plataforma apenas com alguns cliques numa ferramenta. Ter todo um parque de servidores ativados em alguns poucos minutos, quiçá em segundos!
Particularmente enfrentei, no passado, quando era administrador de um portal de educação, a necessidade de trocar míseros pentes de memórias para aumentar a capacidade do meu servidor e perceber que seriam necessários dois longos meses para adquirir a memória necessária para resolver o problema de lentidão do portal, bem como enfrentar toda a burocracia de assinatura de adendos de contratos e intermináveis negociações. Enquanto isso, eu percebia o quanto os meus clientes se esvaíam para a concorrência, devido a esse problema de lentidão no site em que administrava. Imagine se um FourSquare, um Peixe Urbano, entre outros grande portais que estão utilizando a nuvem da Amazon tivessem que recorrer a esse modelo em que você tivesse que fazer essas negociações para poder crescer? Com toda certeza, não teriam consolidado sua presença na grande teia e não teriam se tornado os grandes cases de sucesso que são hoje.
Moral da história: a vida vai mudar, e vai mudar para melhor!
E para o pequeno empreendedor que está começando? O que vem de bom por aí? A Liberdade para crescer! A startup que começa agora poderá dimensionar os recursos para crescer de acordo com o fôlego que ela tem, poderá crescer de forma gradativa e se preparar rapidamente quando acontece o famoso “Efeito TV”: “Vote agora no site para eliminar…!” e ter continuidade de seu negócio. Poderá pagar um preço justo que cabe no seu bolso, sem ser submetida às margens extorsivas praticadas por algumas empresas de TI.
E para quem usa o modelo tradicional? O que muda? A mudança vem em uma forma muito mais barata de estar presente na internet, num modelo completamente permissivo ao crescimento natural, racionalizando recursos para outras demandas que não necessitam mais da “alta tensão” da manutenção da continuidade do seu negócio na internet.
E para quem está nesse oceano? Ele vai se tornar um oceano vermelho?! As empresas de TI poderão encontrar um novo oceano azul dentro desse oceano vermelho que já se tornou o mercado de hosting no Brasil. Poderão apostar nas ferramentas para gerenciamento de cloud computing, pois a liberdade para crescer também necessita ser planejada! Afinal de contas, nosso objetivo é colocar o filho na faculdade, e para tal é preciso muito planejamento. As empresas que utilizam esse modelo antiquado de venda de infraestrutura ou ainda criam as chamadas “nuvens privadas” e acreditam que cloud computing é o mesmo que virtualização terão que repensar o seu modelo de trabalho.
Um caso a se lembrar: quando a Gol entrou no mercado em 2001, com o conceito low-fare low-cost, quem não se readequou não está mais voando em nossos céus hoje.
E nos final das contas quem ganha com a chegada da AWS no Brasil? Todo mundo! Os novos empreendedores, os grandes portais, os clientes finais e, também, a concorrência! Por que a concorrência? Pois ela vai conquistar um grande aprendizado nessa lacuna que ela vai ter percorrer para tentar se igualar à qualidade da Amazon que agora aterrissa no Brasil.
Seja bem-vinda, Amazon!
Até a próxima!