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E-commerce na era do investimento estratégico

Por: Franklin Lima

Head Executivo

Head Executivo da Lett, tem mais de 11 anos de experiência no setor de varejo. Ganhou grande destaque ao passar rapidamente de trainee para auditor interno, mas seu histórico também inclui passagens como desenvolvedor de software, engenheiro de manutenção industrial e professor. Chegou na Lett em janeiro de 2017 como Diretor de Customer Success, passando por cargos como CFO, CPO, COO e atualmente é CEO da companhia. É engenheiro elétrico, com especialização em sistemas de energia elétrica pela UFMG.

A mudança de comportamento do consumidor pós-pandemia, com uma maior preferência pelas compras online, parece ser um fenômeno definitivo. Enquanto o varejo subiu 1,7% em 2023, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o comércio eletrônico apresentou resultados muito mais robustos, com um sólido crescimento de 10% no ano passado, atingindo a marca de R$ 185,7 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Veja como grandes marcas estão aproveitando o e-commerce para impulsionar o crescimento e a transformação dos negócios, com casos de sucesso da Santher e Danone.

Abordagem estruturada e planejada para o sucesso no e-commerce

Analisando com atenção o crescimento de grandes marcas no e-commerce, é possível encontrar um denominador comum para o sucesso de muitas delas: uma abordagem estruturada e planejada. Entre as empresas que estão seguindo esse caminho e que já apresentam resultados palpáveis, destaco a Santher e a Danone, cujos trabalhos pude acompanhar de forma muito próxima.

A Santher obteve resultados impressionantes em apenas seis meses, depois de uma análise aprofundada de localidades estratégicas para a empresa. Por meio de uma abordagem colaborativa e integrada, conseguiram superar desafios e reverter uma situação de perda de vendas e baixa disponibilidade em um de seus clientes, simplesmente uma das maiores redes de varejo no Brasil.

A Danone seguiu um caminho parecido. Identificou áreas com baixa disponibilidade de produtos e implementou estratégias eficazes para solucionar esse problema, resultando em uma experiência de compra superior para os clientes. Como resultado, tiveram um crescimento de 193% nas vendas líquidas, um aumento de 3,5 pontos percentuais na rentabilidade e um avanço de 161% no sell-out no varejo em comparação a 2022.

Além do comércio eletrônico

Ambos os casos confirmam o investimento estratégico no e-commerce como uma tendência irrefutável. As indústrias que adotam uma abordagem estruturada, planejada e orientada por dados estão um passo à frente, aproveitando todo o potencial do comércio eletrônico para impulsionar seu crescimento, conquistar novos mercados e alcançar resultados surpreendentes.

Importante ressaltar que no ambiente online as possibilidades vão além do comércio eletrônico. Os profissionais de e-commerce, muitas vezes, se fixam apenas nos dados de vendas, mas é crucial despertar a consciência mais profunda sobre o poder transformador do digital. Eles precisam compreender não apenas as estratégias e técnicas do e-commerce, mas também reconhecer o alcance e as possibilidades que o ambiente digital oferece para impulsionar o crescimento e a inovação nos negócios também no mundo físico.

Fases da jornada digital

Para chegar a esse patamar, em que o online gera resultados também no offline, as companhias passam por uma jornada que pode ser dividida em três fases:

– Fase 1: construindo o e-commerce – Nesse estágio inicial, a indústria está estabelecendo presença online e “educando” as pessoas sobre a existência do negócio virtual, evangelizando principalmente os stakeholders internos e fazendo paralelos entre os desafios e as oportunidades do mundo físico e do digital. Nessa etapa, o foco é acompanhar os indicadores-chave de desempenho (KPIs) para avaliar o progresso do e-commerce, como sortimento ideal (MSL), imagens, descrições de produtos etc.

– Fase 2: expandindo além do e-commerce – Com o comércio eletrônico já estabelecido, as equipes passam a se concentrar mais em vendas do que em KPIs. A indústria começa a reconhecer o e-commerce como uma unidade de negócio com receitas, despesas e lucros. São adotadas tecnologias inovadoras para aprimorar a experiência do cliente.

– Fase 3: influenciando o shopper – O foco vai além dos resultados de vendas no e-commerce e abrange o crescimento do market share tanto online quanto offline. O objetivo principal é utilizar o conhecimento e a experiência adquiridos no comércio eletrônico para influenciar de forma mais ampla não apenas no âmbito digital, mas também em todas as etapas da jornada do shopper, o que inclui os diferentes pontos de contato e canais de compra.

Superando barreiras e aproveitando oportunidades

No entanto, antes de embarcar nessa jornada, é crucial que as empresas reconheçam plenamente que vale a pena iniciar essa trajetória. Infelizmente, muitas marcas ainda não compreendem totalmente o retorno do investimento no ambiente digital e, frequentemente, ficam presas a um pensamento pragmático que limita o progresso.

É compreensível ter preocupações em investir sem garantias claras de retorno, mas é fundamental perceber que não investir também impede a conquista desses resultados. É possível superar essa armadilha do pensamento ao explorar as oportunidades e demonstrar os benefícios significativos que o investimento no e-commerce pode proporcionar.

Impacto financeiro do e-commerce

Em geral, os clientes que iniciam seu trabalho de e-commerce experimentam um aumento significativo em sua receita digital. No início, cerca de 2% do faturamento total são provenientes do digital, podendo variar de 1% a 5%. No entanto, ao final do processo, esse número sobe, em média, para 8% da receita total, com uma faixa que pode chegar a 20%. Esse incremento médio bruto de seis pontos percentuais é bastante relevante. Agora, imagine o impacto financeiro para uma empresa com um faturamento superior a R$ 10 bilhões. Significa adicionar R$ 60 milhões à receita de uma companhia.

Embora certamente haja um percentual de substituição, acredito que a maior parte desse ganho seja proporcionado por um puro crescimento. É preciso afastar a teoria de que o e-commerce é um concorrente da loja física, o que já vem sendo reconhecido por diversos líderes do varejo.

O e-commerce, portanto, não é uma questão de fé, mas sim um investimento estratégico que pode impulsionar o crescimento e a transformação dos negócios. Convido que cada vez mais empresas possam entrar nessa jornada.