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O varejo alimentar brasileiro: análise de tendências e estratégias a partir de estudo de apresentações setoriais

Por: Paulo Madureira

É especialista em transformação digital, marketplace e comércio eletrônico, com mais de 20 anos de experiência. Ocupou cargos executivos no Terra Networks, Cnova, GPA, Via Varejo, Creditas, Grupo Comolatti, Santa Lolla, entre outras. É mestre em empreendedorismo na Universidade de São Paulo (USP), AMP - Advanced Management Program no IESE, MBA e-business pela Universidad Antonio de Nebrija, de Barcelona e tecnólogo em processamento de dados pela Fatec.

Este artigo ficou extenso, mas cada parte é importante para transmitir todo conteúdo. E gostaria de expressar meu agradecimento à ABRAS pela realização do ABRAS’24 Food Retail Future. As excelentes apresentações e conteúdos compartilhados durante o evento foram fundamentais para a preparação deste artigo.

Inicio o artigo apresentando a matriz de avaliação do setor, com o objetivo de motivá-lo a explorar o texto completo. Essa matriz tem o objetivo de ajudar os varejistas a refletirem sobre o nível de desenvolvimento de suas operações em áreas-chave e, ao final do artigo, explico em detalhes como adotá-la.

Matriz de autoavaliação estratégica para o varejo alimentar

Introdução

O varejo alimentar no Brasil destaca-se como um dos setores mais dinâmicos e essenciais da economia, responsável por uma significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) e por empregar milhões de brasileiros. Ao longo das últimas décadas, o setor tem passado por transformações profundas, impulsionadas pela evolução das demandas dos consumidores e pela crescente adoção de inovações tecnológicas. Essas mudanças refletem a necessidade de atender a um público cada vez mais conectado e consciente das questões ambientais, sociais e de governança, o que impõe novos desafios para a gestão e a sustentabilidade das empresas (Neves et al., 2019).

O estudo do varejo alimentar brasileiro torna-se ainda mais relevante quando consideramos seu papel crucial na segurança alimentar e no cotidiano dos consumidores. O setor abrange desde pequenos mercados de bairro até grandes redes de supermercados e atacarejos, cada um enfrentando o desafio de equilibrar preços competitivos, eficiência operacional e práticas sustentáveis, enquanto navega em um ambiente altamente competitivo e vulnerável às flutuações econômicas (Silva, 2021).

Diante desse contexto, este artigo busca explorar em profundidade as estratégias e tendências que estão moldando o futuro do varejo alimentar no Brasil. Para isso, será realizada uma análise de uma série de apresentações de renomadas organizações, como ABRAS, KPMG, Bain & Company, e Alvarez & Marsal, que estudam as principais questões do setor e oferecem insights valiosos para superar os desafios emergentes e garantir a competitividade das empresas (Kotler, 2019).

Das pequenas operações familiares à digitalização

O varejo alimentar no Brasil tem suas origens em pequenas operações familiares, que, ao longo das décadas, evoluíram para grandes redes de supermercados e atacadistas. Historicamente, o setor foi caracterizado pela concentração de mercado em poucos grandes players, mas, nas últimas décadas, a expansão significativa impulsionada por novas tecnologias e pelo crescimento do comércio eletrônico transformou profundamente o cenário competitivo (Neves et al., 2019). A digitalização e a integração de canais, conhecidas como omnichannel, tornaram-se tendências fundamentais para o sucesso no varejo alimentar, permitindo que as empresas ofereçam aos consumidores uma experiência de compra contínua, seja no ambiente físico ou digital (Silva, 2021).

Estudos anteriores identificaram que o varejo alimentar está sendo cada vez mais pressionado a se adaptar às novas demandas dos consumidores e à crescente necessidade de práticas sustentáveis. A alta competitividade e as flutuações econômicas exigem que as empresas inovem continuamente para sobreviverem em um ambiente volátil. A digitalização acelerada, aliada à automação de processos e ao uso de dados preditivos, tem sido uma solução estratégica para muitas dessas empresas, permitindo personalizar a experiência de compra e aumentar a eficiência operacional (Alvarez & Marsal, 2024).

Dentro dessa transformação, a convergência entre modelos de negócios tradicionais e digitais é um ponto central.

Outro aspecto relevante para a transformação do setor é a mudança no perfil do consumidor. Estudos recentes, como os de Kuijpers (2024), abordam o surgimento do conceito de “consumidor zero”, caracterizado por uma baixa lealdade às marcas e uma busca constante por conveniência e personalização. Esse comportamento tem pressionado o setor a se adaptar rapidamente, adotando tecnologias que ofereçam personalização em escala, com a experiência omnicanal sendo um elemento fundamental para atrair e reter esses consumidores.

No contexto brasileiro, o comportamento de compra das classes C, D e E também é um fator de grande relevância para o setor. Para esses consumidores, o ato de consumir é muitas vezes visto como uma conquista pessoal.

A literatura também aponta que a diversificação das fontes de receita é uma estratégia importante para aumentar a resiliência das empresas em tempos de crise. O investimento em serviços adjacentes ao core business, como retail media, serviços financeiros e programas de fidelidade, tem mostrado ser eficaz para garantir a lucratividade em um mercado altamente competitivo (Neves et al., 2019). Além disso, empresas como Carrefour e Grupo Pão de Açúcar já estão explorando essas novas fontes de receita, aproveitando suas plataformas digitais para monetizar dados e oferecer serviços diferenciados (Bain & Company, 2024).

Por fim, a personalização da experiência do cliente surge como um diferencial competitivo importante. O uso de dados do consumidor por meio de ferramentas de CRM permite que as empresas compreendam melhor as necessidades de seus clientes e ofereçam experiências mais ajustadas a seus perfis (Stigliano, 2021). Em mercados sensíveis ao preço, como o brasileiro, a combinação de personalização e conveniência pode ser a chave para o sucesso, especialmente quando acompanhada de práticas sustentáveis e inovadoras.

Metodologia

A metodologia adotada neste estudo baseia-se em uma análise qualitativa das principais apresentações e relatórios produzidos por organizações de destaque no setor supermercadista. O objetivo central foi identificar tendências, estratégias e desafios enfrentados pelo varejo alimentar brasileiro, oferecendo uma visão abrangente e atualizada do setor.

Entre as organizações que contribuíram com apresentações para a análise, destacam-se ABRAS, Bain & Company, Alvarez & Marsal, KPMG, EY, e McKinsey & Company. Essas instituições têm estudado amplamente o setor de varejo alimentar no Brasil.

As limitações metodológicas deste estudo incluem a dependência de apresentações já formatadas, que, embora forneçam uma visão rica e detalhada sobre o setor, podem refletir os interesses específicos das organizações que as elaboraram.

Vamos às análises:

1. Digitalização e automação no varejo alimentar

Um dos temas mais recorrentes nas apresentações foi a digitalização acelerada das operações, considerada um pilar central para modernizar o varejo alimentar e aumentar sua competitividade. A KPMG destacou o uso de tecnologias como inteligência artificial (IA) e automação para otimizar processos, como a gestão de estoque, o controle de inventário e a previsão de demanda. Essas tecnologias permitem reduzir desperdícios e melhorar a eficiência operacional, proporcionando uma resposta rápida às flutuações de mercado (KPMG, 2024).

A importância da omnicanalidade também foi enfatizada, com a necessidade de integrar os canais digitais e físicos para criar uma experiência de compra fluida e contínua. Conforme abordado por Kuijpers (2024), o consumidor moderno valoriza a conveniência e exige experiências integradas entre o online e o offline. Esse fenômeno, chamado de “onlife” por Stigliano (2024), sugere que o varejo precisa adaptar-se para oferecer uma jornada de compra uniforme, onde o físico e o digital se complementam.

Nas classes C, D e E, embora as compras ainda ocorram majoritariamente em lojas físicas, as transações digitais estão em crescimento, com o PIX emergindo como o principal meio de pagamento, representando 66% das transações. No entanto, a expansão digital nesses segmentos deve equilibrar as preferências tradicionais com a crescente demanda por conveniência oferecida pelo e-commerce (Medeiros & Meireles, 2024).

2. Sustentabilidade e práticas de ESG

A sustentabilidade foi outro tema amplamente discutido, com foco nas práticas de ESG (Environmental, Social, Governance). As apresentações destacaram o crescente compromisso das empresas com a adoção de práticas sustentáveis, impulsionado tanto por regulações quanto pela demanda crescente dos consumidores por ações responsáveis em termos ambientais e sociais. O relatório “Guia ESG do Setor Supermercadista” da KPMG (2024) enfatizou que os consumidores estão cada vez mais atentos ao impacto ambiental de suas compras e que os varejistas precisam investir em eficiência energética, reciclagem e redução de resíduos para atender a essas expectativas.

Além das questões ambientais, o impacto social do setor foi enfatizado em várias apresentações. Iniciativas como a doação de alimentos e a criação de oportunidades de emprego para populações vulneráveis têm sido uma resposta ao aumento da desigualdade e um meio de aumentar o impacto positivo das empresas no bem-estar da sociedade (ABRAS & KPMG, 2024).

3. Diversificação de fontes de receita

Um dos principais desafios do varejo alimentar brasileiro é a diversificação de receitas, considerada uma estratégia fundamental para aumentar a resiliência e garantir a lucratividade em um mercado altamente competitivo. A Bain & Company (2024) discutiu a importância de as empresas expandirem suas operações para além do core business, investindo em serviços financeiros, retail media, clubes de assinatura e food service. Esses serviços adjacentes têm mostrado margens de lucro significativamente mais altas, permitindo às empresas aumentar sua rentabilidade por meio de múltiplos canais.

Alvarez & Marsal (2024) destacou que a diversificação para novas fontes de receita, como mídia de varejo e serviços de saúde e bem-estar, não apenas oferece maior lucratividade, mas também fortalece a relação com o cliente, oferecendo conveniência e serviços personalizados que melhoram a experiência de compra.

4. Foco no consumidor e personalização da cxperiência

A personalização da experiência do cliente foi outro ponto central nas apresentações, reforçando a importância de entender profundamente as necessidades dos consumidores e oferecer ofertas ajustadas a seus perfis. As empresas têm investido em ferramentas de CRM e análise de dados para criar campanhas promocionais personalizadas e direcionadas, aumentando a retenção e o engajamento dos clientes (Alvarez & Marsal, 2024).

Essa abordagem é particularmente importante no Brasil, onde os consumidores são sensíveis ao preço, mas também exigem conveniência e qualidade. As classes C, D e E, por exemplo, valorizam a identificação cultural com as marcas e a praticidade no momento da compra (Medeiros & Meireles, 2024). Além disso, as empresas que conseguem adaptar suas ofertas para diferentes perfis de consumidores, como supermercados de conveniência e hipermercados, estão mais bem posicionadas para atender às diversas demandas e aumentar o ticket médio de suas vendas.

Kotler (2024) complementa essa discussão ao sugerir que as lojas devem se transformar em “teatros de experiências sensoriais”, oferecendo uma imersão aos consumidores por meio de sons, aromas e experiências práticas. Essas estratégias são eficazes para aumentar o envolvimento e o valor percebido pelos clientes, especialmente em um mercado cada vez mais competitivo e orientado por experiências.

5. Gestão de custos e aumento da eficiência operacional

A gestão eficiente de custos continua sendo um dos maiores desafios no varejo alimentar. A automação de processos e a digitalização de tarefas repetitivas, como o controle de inventário e a gestão de pedidos, foram apontadas como soluções eficazes para reduzir desperdícios e melhorar a eficiência operacional (Bain & Company, 2024).

O uso de inteligência artificial para otimizar estoques e prever flutuações na demanda foi destacado por várias empresas como uma ferramenta essencial para manter a competitividade em um setor com margens pressionadas. A ABRAS (2024) também apontou que a melhoria do relacionamento com fornecedores, por meio de negociações estratégicas e ferramentas digitais, tem sido um fator crucial para aumentar a margem de lucro e reduzir os custos de mercadoria.

A implementação de tecnologias digitais que proporcionem uma maior visibilidade da cadeia de suprimentos foi vista como uma das principais formas de melhorar a gestão de capital de giro e reduzir perdas. Além disso, o investimento contínuo em tecnologia, como IA e automação, foi identificado como essencial para sustentar o crescimento e otimizar a eficiência (Amaral & Auchincloss, 2024).

Discussão dos Resultados…

A análise das apresentações revela uma série de insights fundamentais sobre o estado atual e as perspectivas futuras do varejo alimentar no Brasil. Esses resultados destacam que a transformação digital, a sustentabilidade, a diversificação de receitas e a personalização da experiência do cliente são os pilares centrais para a modernização do setor e a sua competitividade a longo prazo.

1. Impacto da digitalização no varejo alimentar

A digitalização foi amplamente discutida como um dos motores mais importantes para a evolução do varejo alimentar brasileiro. A adoção de tecnologias digitais, como CRM avançados, plataformas de e-commerce e automação de processos logísticos, resultou em melhorias significativas na eficiência operacional e na experiência do consumidor. Ferramentas digitais permitem que as empresas coletem, analisem e utilizem grandes volumes de dados para prever tendências, entender melhor o comportamento dos consumidores e oferecer ofertas personalizadas. Essa abordagem tem sido um diferencial competitivo, permitindo às empresas otimizar sua cadeia de suprimentos e melhorar a satisfação do cliente (Kotler, 2019; Stigliano, 2021).

No entanto, o impacto da digitalização vai além da simples eficiência operacional. A integração de canais físicos e digitais, por meio da estratégia de omnichannel, permite que o consumidor transite facilmente entre os dois mundos, proporcionando uma experiência de compra mais fluida e conveniente. Essa tendência, liderada por empresas como Carrefour e Pão de Açúcar, reflete uma transição do marketing orientado pelo produto para um marketing focado na experiência do cliente, conforme afirmado por Kotler (2019).

2. Sustentabilidade como fator de competitividade

A sustentabilidade e as práticas ESG (Environmental, Social, Governance) emergiram como temas centrais nas estratégias empresariais do varejo alimentar. As apresentações destacaram o crescente investimento das empresas em iniciativas que visam reduzir o impacto ambiental, com a implementação de gestão de resíduos, eficiência energética e uso de energia renovável. Essas ações não apenas melhoram a imagem das empresas, mas também respondem a uma demanda crescente dos consumidores por práticas mais responsáveis e éticas (KPMG, 2024).

Além do aspecto ambiental, o impacto social das empresas supermercadistas também foi enfatizado. Iniciativas como a doação de alimentos e a geração de empregos para populações vulneráveis são formas de promover a inclusão social e reduzir a desigualdade, reforçando o papel das empresas no bem-estar da sociedade (ABRAS & KPMG, 2024). A adoção dessas práticas está alinhada com as expectativas globais de responsabilidade corporativa, contribuindo para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

3. Diversificação de fontes de receita

Um tema recorrente nas apresentações foi a diversificação de receitas, uma estratégia considerada essencial para aumentar a resiliência das empresas em um cenário de alta competitividade. A busca por novas fontes de receita, como serviços financeiros, retail media e clubes de assinatura, tem se mostrado eficaz para aumentar as margens de lucro e fortalecer o relacionamento com os consumidores. A Bain & Company (2024) demonstrou que empresas que expandem suas operações para além do core business, explorando serviços adjacentes, são mais resilientes em tempos de crise e conseguem maximizar o valor de cada cliente.

A diversificação também está relacionada à monetização de dados dos consumidores, que se tornou uma oportunidade significativa para redes como o Grupo Pão de Açúcar e Carrefour. A análise dos dados permite que as empresas ofereçam serviços mais personalizados e direcionados, aumentando tanto a satisfação dos clientes quanto a rentabilidade das operações.

4. Personalização e experiência do cliente

A personalização da experiência do cliente foi destacada como uma estratégia competitiva chave no varejo alimentar. O uso de ferramentas de CRM e análise de dados tem permitido às empresas criar ofertas ajustadas às necessidades dos consumidores, resultando em uma maior retenção e engajamento. As estratégias de personalização são especialmente importantes no Brasil, onde os consumidores são sensíveis ao preço, mas também buscam conveniência e qualidade (Stigliano, 2021).

Além disso, o foco na experiência do cliente se tornou uma resposta natural ao comportamento de consumo em rápida evolução. As empresas estão se adaptando às novas expectativas dos consumidores, utilizando tecnologias para criar experiências mais imersivas e práticas. Conforme apontado por Kotler (2024), transformar lojas em “teatros de experiências sensoriais” é uma maneira eficaz de aumentar o envolvimento e o valor percebido pelos clientes.

5. Eficiência operacional e gestão de custos

A eficiência operacional continua sendo um dos maiores desafios enfrentados pelo varejo alimentar no Brasil. A crescente pressão sobre as margens de lucro tem levado as empresas a investir em automação de processos, digitalização de tarefas repetitivas e otimização de estoques. A inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel crucial nesse processo, ajudando as empresas a prever a demanda, gerenciar estoques e reduzir desperdícios (Bain & Company, 2024).

Outro ponto importante foi a melhoria do relacionamento com fornecedores, que tem permitido às empresas negociar prazos e reduzir custos de mercadoria. Ferramentas digitais têm sido fundamentais para monitorar o ciclo financeiro e melhorar a gestão do capital de giro (ABRAS, 2024).

As implicações práticas para o setor…

As estratégias identificadas ao longo deste estudo trazem implicações práticas claras para o setor de varejo alimentar no Brasil, ressaltando a necessidade de adaptação em um ambiente em constante transformação. A digitalização, a sustentabilidade, a diversificação de receitas e a personalização da experiência do cliente emergem como os principais pilares que podem garantir o sucesso e a longevidade das empresas do setor.

1. Adoção de tecnologias digitais e automação

A digitalização e a automação se apresentam como componentes essenciais para que as empresas otimizem sua eficiência operacional e melhorem a experiência do consumidor. Tecnologias como inteligência artificial (IA), machine learning e ferramentas de CRM permitem que as empresas personalizem suas ofertas, otimizem processos e prevejam flutuações de demanda, reduzindo desperdícios e melhorando a gestão de estoques. As empresas devem investir continuamente em inovação tecnológica para integrar canais físicos e digitais, criando uma experiência omnicanal que atenda às expectativas de conveniência e fluidez dos consumidores (Kotler, 2019; Stigliano, 2021).

A implementação dessas tecnologias permite que o setor avance para um modelo data-driven, no qual as decisões são orientadas por dados precisos, resultando em maior capacidade de resposta às mudanças do mercado. As empresas que incorporarem essas inovações serão capazes de manter sua competitividade em um ambiente cada vez mais digital.

2. Sustentabilidade como diferencial competitivo

A sustentabilidade tornou-se uma demanda central dos consumidores, e as empresas que não adotarem práticas responsáveis estarão em desvantagem competitiva. O compromisso com as práticas de ESG (Environmental, Social, Governance), como a gestão eficiente de resíduos, a redução de emissões e o uso de energia renovável, é cada vez mais exigido, tanto pelos consumidores quanto pelos investidores (ABRAS & KPMG, 2024).

Empresas que adotam uma postura ativa em relação à sustentabilidade podem construir marcas mais fortes, que se destacam pela responsabilidade social e ambiental. Além disso, a eficiência energética e a redução de desperdícios, práticas fundamentais dentro das iniciativas de ESG, não apenas melhoram a imagem da empresa, mas também reduzem custos operacionais, contribuindo para o aumento das margens de lucro.

3. Diversificação de fontes de receita

A diversificação das fontes de receita emerge como uma estratégia fundamental para aumentar a resiliência e garantir a lucratividade em um mercado altamente competitivo. A expansão para áreas adjacentes ao core business, como retail media, serviços financeiros, programas de fidelidade e food service, tem mostrado ser um caminho eficaz para garantir maior estabilidade financeira e margens de lucro mais altas (Bain & Company, 2024).

A criação de novos fluxos de receita, como a monetização de dados dos consumidores, também se apresenta como uma oportunidade significativa. Empresas como Grupo Pão de Açúcar e Carrefour já estão explorando essa estratégia para oferecer serviços personalizados e melhorar a rentabilidade de suas operações. A diversificação permite que as empresas mitiguem os riscos associados às flutuações econômicas e garantam uma sustentabilidade financeira a longo prazo.

4. Personalização da experiência do cliente

O foco na personalização da experiência do cliente é outra implicação prática fundamental para o setor. O uso de ferramentas de CRM e a análise de dados do consumidor são fundamentais para que as empresas compreendam as necessidades e comportamentos de seus clientes, permitindo a criação de ofertas personalizadas que aumentam o engajamento e a retenção de clientes (Stigliano, 2021).

A personalização vai além das promoções direcionadas; trata-se de oferecer uma experiência completa e imersiva, tanto nas lojas físicas quanto nos canais digitais. A criação de experiências sensoriais, conforme sugerido por Kotler (2024), transforma as lojas em espaços de interação e envolvimento emocional, fortalecendo o vínculo entre a marca e o consumidor. Empresas que conseguem criar essa conexão profunda estão mais bem posicionadas para fidelizar seus clientes em um mercado altamente competitivo.

5. Eficiência operacional e gestão de custos

A gestão eficiente de custos é um desafio constante para o setor de varejo alimentar, especialmente em um ambiente de margens pressionadas. A adoção de tecnologias de automação e a digitalização de processos repetitivos, como a gestão de inventários e pedidos, são fundamentais para otimizar operações, reduzir desperdícios e melhorar a produtividade. A inteligência artificial desempenha um papel crucial ao prever flutuações de demanda e permitir uma alocação mais eficiente de recursos (Bain & Company, 2024).

Além disso, a melhoria no relacionamento com fornecedores, por meio de negociações estratégicas e ferramentas digitais, também contribui para a redução de custos e aumento das margens de lucro. As empresas que investem em tecnologias que proporcionam maior visibilidade e controle da cadeia de suprimentos estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios operacionais e manter sua competitividade.

6. Flexibilidade e adaptação contínua

Por fim, o ambiente de rápidas transformações tecnológicas e mudanças no comportamento dos consumidores exige que as empresas do varejo alimentar adotem uma postura de adaptação contínua. As empresas que se constroem para serem flexíveis e ágeis em suas respostas às novas demandas do mercado estarão em uma posição vantajosa. A flexibilidade não deve se restringir apenas aos processos operacionais, mas também se aplicar à capacidade de explorar novos mercados, integrar inovações tecnológicas e adaptar suas estratégias de acordo com as mudanças no ambiente econômico e nas preferências dos consumidores (Stigliano, 2024).

Conclui-se que o futuro do varejo alimentar no Brasil depende diretamente da capacidade das empresas de incorporar e integrar tecnologias digitais, adotar práticas de sustentabilidade, diversificar suas fontes de receita e personalizar a experiência do cliente.

O setor enfrenta desafios significativos, como a pressão sobre as margens de lucro e a necessidade de otimização de custos, mas as empresas que adotarem essas estratégias estarão melhor posicionadas para crescer de forma sustentável e se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e dinâmico.

O sucesso dependerá da capacidade de adaptação contínua e do compromisso com práticas inovadoras e sustentáveis que respondam às exigências dos consumidores modernos e das novas realidades econômicas e sociais.

Criação de matriz de autoavaliação estratégica para o varejo alimentar

Diante de todo o conteúdo analisado, discutido e concluído sobre as tendências e estratégias para o varejo alimentar brasileiro, propõe-se uma matriz de autoavaliação estratégica. Essa matriz tem o objetivo de ajudar os varejistas a refletirem sobre o nível de desenvolvimento de suas operações em áreas-chave, permitindo uma análise detalhada de suas fortalezas e debilidades. A partir dessa análise, os varejistas poderão criar um plano de ação para fortalecer suas operações e aumentar sua competitividade no mercado.

Matriz de autoavaliação estratégica para o varejo alimentar

A matriz está estruturada em cinco dimensões fundamentais que emergiram do estudo: Transformação Digital, Sustentabilidade (ESG), Diversificação de Fontes de Receita, Personalização e Experiência do Cliente, e Eficiência Operacional e Gestão de Custos. Em cada dimensão, o varejista deve se autoavaliar com base nos níveis de Baixo Desenvolvimento, Médio Desenvolvimento, e Alto Desenvolvimento.

A partir da matriz preenchida, o varejista poderá visualizar, de forma clara, quais áreas apresentam fortalezas e debilidades. Para cada dimensão, ao comparar a avaliação nas três colunas (Baixo, Médio e Alto Desenvolvimento), o varejista terá um entendimento mais profundo sobre sua posição frente às tendências de mercado discutidas ao longo deste estudo.

Referências

ABRAS. (2024). Relatório Smart Market ABRAS 2024.

ABRAS, & KPMG. (2024). Guia ESG do Setor Supermercadista Brasileiro.

Alvarez & Marsal. (2024). Ampliação de valor para acionistas e consumidores.

Amaral, C., & Auchincloss, W. (2024). O Ecossistema do Varejo Alimentar Brasileiro. EY.

Bain & Company. (2024). O contexto competitivo do varejo alimentar brasileiro.

KPMG. (2024). Guia ESG do setor supermercadista.

Kotler, P. (2019). Marketing 4.0: Moving from traditional to digital. John Wiley & Sons.

Kotler, P. (2024). Marketing no Varejo Alimentar.

Kuijpers, D. (2024). O Potencial do Varejo Alimentar na Vida do Consumidor. McKinsey & Company.

Medeiros, L., & Meireles, R. (2024). O Perfil dos Consumidores Brasileiros – O Mercado da Maioria. PwC e Instituto Locomotiva.

Neves, M. F., et al. (2019). “O futuro do varejo alimentar no Brasil.” Revista Brasileira de Varejo, 5(3), 14-29. Rujana, J. (2024). O Contexto Competitivo do Varejo Alimentar Brasileiro. Bain & Company.

Silva, R. C. (2021). “Tendências e desafios no varejo alimentar brasileiro.” Estudos em Varejo, 7(1), 45-62.

Stigliano, G. (2021). Retail 4.0: O futuro do varejo. McGraw-Hill. Stigliano, G. (2024). Redefinindo o Varejo.

Tremaroli Filho, D. (2024). A Relação dos Consumidores Brasileiros com o Varejo Alimentar. Nielsen IQ.