A partir dos aprendizados dos últimos casos de sucesso, tanto no Brasil quanto no exterior, bem como algumas referências do período pós-Lean Startup, chegamos à conclusão de que para se dar bem em 2015 é preciso parar de focar em disrupção, ou seja, inovações de ganho operacional em mercados existentes, que levou o Retorno Sobre Capital Investido (ROIC) médio nos EUA para apenas 25% do que era em 1965, de acordo com Steve Denning.
Para criar um negócio de sucesso realmente grande, você precisa criar um monopólio temporário que, de acordo com Peter Thiel, no seu livro “de 0 a 1″, acontece quando você cria um mercado novo. E para conseguir isso, o melhor é parar de pensar em empreender, investir em tecnologia e buscar tendências sobre como nós (pessoas) pensamos, nos comportamos e e compramos. Com isso, seguem algumas megatendências que podem te ajudar a pensar no seu negócio este ano:
1) Transição de hierarquias burocráticas para redes integradas baseadas em tecnologia.
Uma das melhores referências de 2014, se não a melhor, foi o vídeo de Fred Wilson, investidor da Union Square Ventures, um dos investidores de Twitter, Tumblr, Foursquare, Zinga, entre outros. Segundo ele, uma das megatendências que vivemos atualmente é a transformação de hierarquias burocráticas em redes tecnologicamente integradas.
Por exemplo: jornais impressos, cujas notícias eram hierarquizadas por algumas pessoas como editores e repórteres, agora foram substituídos pelo Twitter, rede em que você consegue informações rápidas e em tempo real.
Outro exemplo é o Youtube, que desbancou o modelo hierárquico de divulgação de vídeos por estúdios, assim como o Soundcloud substituiu o papel de grandes gravadoras. A tendência começou em entretenimento, mas já afetou hotéis (AirBnB), financiamento (Kickstarter) e ensino (Duolingo), entre outros setores.
2) Desacoplamento e separação (unbundling)
Se antes para se especializar em determinado serviço ou área você precisava fazer uma universidade durante quatro ou cinco anos, hoje você pode comprar cursos a la carte, só os que te interessam, via Coursera, por exemplo.
A ideia é que existem grupos de “coisas” ou “serviços” que podem ser desagrupados de acordo com o interesse de quem vai comprar. Música é um outro exemplo: se antes você precisava comprar um CD ou um vinil, hoje você pode comprar uma música individual no iTunes, ou baixar em mp3.
Ou seja, você pode desacoplar serviços e produtos de um grupo maior e vender separadamente, observando a demanda e o interesse do seu público.
3) Todos nós estamos conectados o tempo todo
Fred Wilson dá um exemplo bem claro: se você fosse forçado a escolher entre seu laptop e seu smartphone, a enorme maioria das pessoas escolheriam o smartphone. A única coisa que você não consegue fazer via smartphone hoje em dia é escrever um livro ou programar softwware.
Hoje, o mundo tem uma rede de pessoas conectadas e isso muda tudo: afeta mercados como o de transporte (Uber, EasyTaxi), pagamentos (Square, Apple Pay) e até o de namoro (Tinder). Outro ponto que temos que observar é que o próximo bilhão de pessoas que vão acessar a internet pela primeira vez vão fazer isso via smartphone e talvez nunca tenham um PC.
4) Oportunidades geradas pelo atual cenário de estagflação
“Abrasileirando” um pouco as tendências mundiais, os empreendedores brasileiros devem considerar que o cenário econômico vai criar, ao mesmo tempo que dificuldades, algumas possibilidades de negócio. Os protestos de junho/2013 e a Primavera Árabe mostraram que a população jovem da classe média brasileira não está disposta a perder suas conquistas consideradas inatas.
Ela está acostumada a ter iPhone, viajar para o exterior e ter um personal trainer, por exemplo. Nos próximos anos, esses serviços e “direitos adquiridos” estarão ameaçados. Neste sentido, qualquer coisa que permita “salvar” a classe média e reverter esse cenário com aumento de eficiência e melhoria da relação das pessoas com esses serviços, ou seja, que permita que elas consigam ter os mesmos benefícios com o mesmo efeito e menos dinheiro, pode fazer bastante sentido.
5) Desfragmentação
Outra megatendência brasileira é praticamente o oposto do desacoplamento citado por Wilson, mas em um outro nível de abstração. O Hotel Urbano, por exemplo, conectou um mercado totalmente fragmentado, de hotéis, e ofereceu um serviço completo com eficiência.
O Enjoei, por sua vez, pegou o mercado de vendedores individuais e juntou em um lugar só. A questão aqui não é criar um marketplace, mas buscar os mercados fragmentados certos. A visão do todo é bastante importante e faz a diferença.
Para os empreendedores seriais de tecnologia brasileiros “que já viram a morte de perto”, ou seja, que já quebraram ou tiveram grandes dificuldades, a questão é entender que o movimento de Lean Startup propôs um darwinismo empreendedor que ajuda a aumentar sua chance de sucesso por meio de empirismo e iterações rápidas, mas não substitui a necessidade de escolher com sabedoria qual mercado entrar.
As críticas atuais são que estratégia é tática e não substitui a busca por oportunidades realmente grandes de inovações em geração de mercado. Para complicar, a reflexão sobre o recente ciclo de venture capital no Brasil leva à necessidade de entender bem o paradoxo que a oferta de financiamento aqui é muito menor e que o modelo de crescimento rápido sem preocupação com monetização ou busca de break even rápido é um jogo para poucos.