O primeiro caso confirmado da Covid-19 no mundo aconteceu em dezembro de 2019. A partir disso foram reportados casos nos Estados Unidos e Europa, com o primeiro óbito tendo ocorrido em janeiro de 2020, na China. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou oficialmente o estado de pandemia e decretou a quarentena em março do mesmo ano. Essa mudança fez com que várias empresas implementassem o home office, e em alguns casos até fechassem o comércio físico.
Em junho foi publicada a primeira estimativa do FMI (Fundo Monetário Internacional) a respeito da economia global, prevendo uma queda de 4,9% no PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Já em julho, a predição para a economia latinoamericana é ainda pior: 9,1% de queda, segundo a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Em agosto foi registrada a primeira vacina para Covid-19, a Sputink, da Rússia, dando esperança à população.
Setembro trouxe melhores resultados econômicos. Houve um crescimento superior a 50% em número de transações, consumidores e vendas no e-commerce em toda a América Latina, segundo pesquisa da PayU. A Black Friday, data mais conhecida do varejo nacional e internacional, de acordo com uma pesquisa global da Criteo, teve um aumento de 139% em vendas. A explosão digital causada pelo isolamento social começou no mês de abril, avançando o equivalente a 30 anos de evolução tecnológica em apenas alguns meses.
No Brasil, o crescimento do faturamento do e-commerce foi de 122% no acumulado até novembro de 2020, comparado ao mesmo período do ano anterior. Ou seja, mais do que dobrou a geração de receita. A projeção para 2021 é que o crescimento seja menor do que o ano passado, mas que fique acima dos níveis anteriores à pandemia. Segundo a Ebit|Nielsen, a previsão é um aumento de 26% em vendas online, com faturamento de R$110 bilhões.
O que a pandemia causou
Em um ano que desafiou todos ao redor do mundo, a internet passou a ser uma das maiores aliadas para entender o momento e encontrar formas de adaptação às restrições de interação social. As principais pesquisas dos usuários em 2020 foram, respectivamente: coronavírus, resultado das eleições, e zoom. Esses dados refletem as preocupações da população que passou a ter a pandemia, a política, e a comunicação à distância como principais interesses.
A doença não atacou somente a saúde individual das pessoas, mas a estrutura base da sociedade. Ou seja, causou grandes perdas sociais e econômicas e, para enfrentar a situação, é preciso entender o momento histórico como um todo. O FMI descreveu a desestabilização econômica do mercado global como a pior desde a Grande Depressão de 1930. Além disso, a previsão era de um retrocesso de 4,4% em 2020 e 5,2% em 2021 — sem falar dos problemas com a dívida pública e os juros baixos. Somando-se a isso, segundo algumas pesquisas, o tempo de recuperação será lento, incerto e a longo prazo a nível global.
Oportunidades que surgiram na crise
Da crise, surgiram oportunidades de negócio, como novas tendências de comércio com operações online e outras 100% digitais. As áreas que mais se beneficiaram da primeira onda da pandemia, no Brasil, foram a financeira (especificamente de empréstimos e crédito pessoal), e a de saúde.
O rápido impacto financeiro e a sensação de insegurança fez com que os pedidos por auxílio financeiro crescessem mais de 157% em 1 mês, de março para abril. A atenção aos preços foi redobrada. Afinal, com menos dinheiro para gastar, a população se tornou mais propensa ao planejamento financeiro.
Já em relação à área da saúde, a preocupação em se manter saudável para encarar a pandemia impulsionou a compra de analgésicos, vitaminas e antigripais. Além disso, a população passou a olhar com mais atenção para a alimentação e para a limpeza doméstica. De acordo com a pesquisa da LinkQ China, 83% da população passou a estocar máscaras e produtos desinfetantes, 27% passou a comprar alimentos saudáveis e 22% buscou produtos de limpeza.
Plataformas de trabalho remoto, delivery, fitness e streaming tiveram uma alta de interesse na primeira onda da pandemia, antagonizando áreas como a aviação, turismo e hotelaria. Quem apostou no comércio eletrônico viu um crescimento de 209% em vendas gerais em março, comparado ao mesmo período do ano anterior. Jogos eletrônicos tiveram uma alta de 126% de 2019 para 2020 — o que demonstra uma virada na busca por entretenimento causada pelo isolamento social.
Aquecimento da economia com a vacina
Após o lançamento das primeiras vacinas contra o novo Coronavírus, o ano de 2021 começou com expectativa de alta no preço de produtos primários e um novo superciclo das commodities. A China foi o primeiro país a mostrar a força de consumo pós-crise, dando indícios de como poderia ser a retomada da economia mundial quando o vírus fosse controlado.
Na América Latina, a projeção de crescimento dos países é de 3,7% durante a recuperação econômica. Mesmo antes da pandemia, os países latinoamericanos já enfrentavam um momento de baixa no crescimento econômico, que só foi intensificado pela Covid-19.
De acordo com pesquisas, quatro fatores irão determinar a recuperação da economia: a intensidade e propagação de contágios; a agilidade para produzir e distribuir as vacinas; a capacidade de cada país para manter os estímulos monetários e fiscais; e as tensões geopolíticas ou sociais que possam surgir.
Para o Brasil, espera-se uma taxa positiva de crescimento do PIB. No entanto, para voltar ao nível em que estava antes da crise vai demorar mais, muito provavelmente alcançando somente em 2024.
Adaptação do varejo físico
Com a mudança de comportamento de compra dos consumidores, as lojas físicas foram ressignificadas. Os ambientes físicos das marcas passaram a ser uma parte do processo de compra, que começa no ambiente online. O meio digital agora faz parte de todos os pontos de tomada de decisão do usuário. Ou seja, do início das pesquisas por produtos e serviços, até a manutenção do relacionamento no pós-compra.
A experiência do usuário se tornou o termo de ordem do varejo físico. O papel das lojas foi transformado, por exemplo, em um local de retirada de produtos comprados online; em uma espécie de SAC para solucionar problemas de clientes; num local para proporcionar experiências diferenciadas; um mostruário dos produtos para compra online; e até em uma experiência automatizada e sem contato com vendedores.
No Brasil, segundo a Voicers, 93% das compras se iniciam a partir de uma busca na internet e mais de 60% dos consumidores mudam de canal de contato ao longo de sua experiência de compras. Portanto, a implementação de uma estratégia omnichannel é imprescindível para um negócio. Afinal, além de facilitar a experiência de compra, proporciona ao consumidor mais de um canal de venda para entrar em contato e obter informações.
Marcas que apostarem na omnicanalidade terão mais chances de garantir a venda e fidelizar clientes. Lembro que com o fortalecimento do digital, as empresas serão obrigadas a se adaptar para sobreviver a esse novo comportamento de consumo. Aliás, também é preciso transmitir uma mensagem constante em todos os canais pelos quais a marca se comunica. Ou seja, tudo deve estar interligado, inclusive os anúncios pagos.
Surgimento das Adtechs e Martechs
O termo adtechs consiste na junção entre advertisement e technology. Já o termo martech é a junção de marketing com technology. Em resumo, são startups voltadas para a inovação na forma de fazer marketing, mídia e publicidade com o uso da tecnologia. Dessa maneira, têm o objetivo de potencializar ações de conquista de espaço e visibilidade, seja para obter mais conhecimento de marca ou para captar leads.
Mais de 75% dos profissionais brasileiros nunca ouviram falar de Martechs. Porém, 96% concorda que o uso de tecnologia é fundamental para as estratégias de marketing, aponta o estudo Mercado de Martech, realizado pela DOT Digital Group. Assim, é possível perceber a necessidade desse nicho de mercado para atender a demanda tecnológica impulsionada pela pandemia.
O mercado de Adtechs e Martechs vem crescendo exponencialmente no Brasil. Neste caso, conta com mais de 720 Martechs brasileiras em 2021, contra 475 existentes em 2019. O interesse pelo setor representou 10% das empresas que receberam investimentos por Venture Capital e Private Equity no ano passado. Ficou atrás apenas das Fintechs, Insurtechs e Healthtechs, que são segmentos bastante visados atualmente. Além disso, as startups de marketing e tecnologia receberam o investimento de US$ 200 milhões em 2020, de acordo com a Forbes Tech.