Considerando que as instituições participantes do sistema financeiro aberto solicitaram mais tempo para finalizar os testes para a obtenção das certificações para homologação e registro das suas APIs, o Banco Central alterou a data de início da segunda fase desse ecossistema.
Com isso, o novo cronograma Open Banking, por meio da Resolução BCB nº 114, de 14 de julho de 2021, alterou o começo dessa etapa, sendo iniciada oficialmente no último dia 13 de agosto de 2021.
Nessa fase, os clientes bancários podem decidir se querem, ou não, compartilhar as suas informações (dados cadastrais e transacionais) entre os participantes do sistema.
Sobre o Open Banking, é bem importante destacar que ele não muda apenas a maneira como bancos e fintechs vão se relacionar com os seus clientes, mas também a atuação do varejo, trazendo uma série de vantagens.
Por exemplo, o sistema financeiro aberto vai possibilitar que empresas desse setor ofereçam condições de pagamento mais favoráveis aos seus clientes, considerando o seu histórico de pagamento que poderá ser facilmente consultado.
Para os varejistas que já trabalham com produtos e serviços financeiros próprios, o Open Banking contribui para a oferta de condições mais pontuais e personalizadas, além de facilitar a migração do público que deseja aderir a essas soluções.
Considerando benefícios como esses, como cada fase do cronograma Open Banking impactará o varejo? É sobre isso que vou falar neste artigo. Confira!
Relembrando o conceito e os objetivos do Open Banking
O Open Banking no Brasil é uma iniciativa do Banco Central que consiste em um ecossistema que permite aos clientes bancários compartilharem as suas informações, dados e históricos com as instituições financeiras que desejarem.
Ou seja, se antes os bancos e fintechs se posicionavam como “donos” dos dados dos seus usuários, com o sistema financeiro aberto, esse poder passa para as mãos dos clientes, o que dá a eles muito mais autonomia para suas tomadas de decisão.
Como resultado, o órgão regulador espera um aumento de competitividade entre as empresas desse setor e a oferta de produtos e serviços financeiros mais baratos e personalizados.
Ainda que seja uma iniciativa nova no Brasil, esse é um tipo de sistema que já está operando em outros países, e com bons resultados.
No Reino Unido, por exemplo, o Open Banking está em operação desde 2018. Uma pesquisa realizada pela PwC estima que, por lá, até 2022, essa adoção resultará em sete bilhões de libras geradas em novas receitas.
Outros países estão analisando a adesão ao sistema financeiro aberto, ou já dando andamento à implementação. Alguns exemplos dos que se encontram em uma dessas condições são Estados Unidos, Japão, Cingapura e Austrália.
No Brasil, de acordo com um levantamento da FCamara, empresa especializada em soluções digitais, divulgado no site Valor Investe, a expectativa é de que cinco milhões de brasileiros aderirão ao Open Banking em 12 meses.
Os benefícios do Open Banking
Além do que acabei de citar, outro objetivo por trás da implementação do Open Banking é fomentar a inovação e potencializar o surgimento de novos negócios voltados para o mercado financeiro.
O Banco Central espera que, com um fluxo de informações mais transparente e facilitado, as instituições autorizadas consigam criar e oferecer soluções melhores para os clientes bancários, com a oferta de produtos e serviços personalizados para diferentes camadas de consumidores.
O sistema financeiro aberto também tem tudo para reduzir os gastos do cliente final e para promover a bancarização. E, com isso, facilitar a entrega de pessoas que até então, por diferentes razões, não conseguiam fazer parte desse setor.
Para bancos, fintechs e empresas que trabalham com a oferta de soluções financeiras, esse ecossistema traz benefícios como:
- possibilidade de analisar de maneira mais rápida o histórico financeiro do cliente, o que otimiza processos e ajuda a diminuir custos operacionais;
- oportunidade de atrair e conquistar novos públicos;
- geração de insights para a criação de novas soluções que, consequentemente, levam à obtenção de novas fontes de receita.
O funcionamento do Open Banking na prática
A dúvida que deve estar na sua mente agora é: “Mas como vai funcionar o compartilhamento de informações? Esse é um processo seguro tanto para os clientes quanto para as instituições financeiras?”
Sim! O Open Banking é um processo seguro para todos os envolvidos nesse ecossistema.
O primeiro ponto que garante isso é que as instituições participantes têm que obedecer a uma série de regras que estão definidas nos atos normativos do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional (CMN). Todos podem ser consultados na página de Perguntas e Respostas do Open Banking.
Somada a essa condição, é preciso também atender de forma precisa às determinações da LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais.
Na prática, o compartilhamento de informações entre os participantes acontece por meio de APIs, Application Programing Interface. Trata-se de um conjunto de padrões e instruções de programação que permitem a comunicação entre dois ou mais pontos distintos.
Portanto, a API Open Banking é a peça-chave que vai possibilitar que bancos, fintechs e demais empresas que atuam no mercado de serviços financeiros acessem e compartilhem informações dos usuários bancários.
Lembrando que todo esse processo somente acontece mediante prévia autorização do cliente. Essa condição pode ser revogada por ele a qualquer tempo e deve ter atendimento imediato da instituição financeira.
O atual cronograma Open Banking
O atual cronograma Open Banking definiu que a segunda fase desse ecossistema se iniciasse no último dia 13 de agosto de 2021.
Essa etapa consiste na adesão ou não dos clientes à possibilidade de compartilharem os seus dados cadastrais, informações sobre transações financeiras entre contas, cartões de crédito e produtos de crédito contratados entre as instituições participantes do ecossistema.
Uma vez que o usuário bancário autoriza o compartilhamento, esse processo precisa ter uma finalidade determinada e um prazo específico. E, como já mencionado, ele pode suspender essa autorização tão logo queira entre todos os participantes ou alguns específicos.
O principal objetivo com essa segunda fase do cronograma Open Banking é dar ao público a possibilidade de receber e acessar ofertas de produtos e serviços financeiros mais compatíveis com o seu perfil e necessidades.
Nesse cenário, a ideia também é que os custos para uso dessas soluções sejam menores e mais acessíveis. Tudo isso fomentado pela competitividade entre as empresas, bancos e fintechs que aderirem ao sistema.
Por consequência, a expectativa do Banco Central é de que surjam novas soluções voltadas para o mercado financeiro. Entre elas estão as direcionadas para gestão e aconselhamento pessoal.
Além dessa fase, o atual cronograma Open Banking conta com mais duas antes do seu funcionamento completo, que são:
Terceira fase: prevista para 29 de outubro de 2021
A terceira fase do sistema financeiro aberto do Banco Central visa ao compartilhamento de serviços voltados para a iniciação de transações de pagamento, a exemplo de Pix e TED.
Paralelo a isso, há a possibilidade do encaminhamento de propostas de operações de crédito.
O propósito dessa etapa é abrir caminho para que novos ambientes e soluções de pagamentos e de oferta de crédito sejam criados.
Essa abordagem facilita a adesão a esses serviços pelos clientes bancários, que também podem utilizar os canais que julgarem mais convenientes.
Isso otimiza os processos de transferência de valores, formas de pagamento e de contratação de crédito, de modo que seja tão fácil realizar esses processos entre instituições diferentes, assim como é em um mesmo banco.
Quarta fase: início previsto para 15 de dezembro de 2021
Já na quarta fase do cronograma do Open Banking está prevista a inclusão do compartilhamento de informações referentes a contas-salário, seguros, investimentos, operações de crédito, previdência complementar e operações de câmbio.
Somado a isso, os clientes bancários poderão acessar detalhes sobre as soluções oferecidas pelos participantes quanto a esses tipos de serviços e produtos.
Com a chegada dessa nova etapa, o sistema financeiro aberto se torna mais abrangente e completo no que se refere ao acesso a informações e à criação e entrega de novas opções para os usuários desse setor.
Por esse motivo, a proposta do Banco Central é que, após a quarta fase, o Open Banking passe a se chamar Open Finance, tornando-se um ecossistema expandido de compartilhamento de dados financeiros e bancários que contempla diferentes públicos, serviços e produtos pertencentes a esse mercado.
Os resultados obtidos com a primeira fase
Quanto à primeira fase do cronograma Open Banking, que se iniciou em 1º de janeiro de 2021, o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso, informou que houve 99,67% de aproveitamento das APIs, ou seja, de conexões entre as instituições participantes.
Essa informação foi publicada no site da Folha de S. Paulo, que também ressaltou que houve mais de 26 milhões de integrações (chamadas de sucesso) entre os participantes do sistema financeiro aberto.
Aqui, vale lembrar dois pontos. O primeiro é que essa etapa do Open Banking tinha por objetivo apenas o compartilhamento de informações sobre produtos e serviços bancários e de canais de atendimento, sem que o público compartilhasse os seus dados.
O segundo se refere a quais são os bancos, fintechs, instituições financeiras e de pagamento participantes desse ecossistema, condição que também reflete e justifica o número de integrações e aproveitamento que acabei de citar.
A regulamentação do Banco Central previu participantes obrigatórios e voluntários do Open Banking.
A obrigatoriedade, por exemplo, está atrelada ao porte da instituição e ao serviço e/ou dado que será compartilhado. Dessa forma, os chamados “grandes bancos” têm participação obrigatória no sistema financeiro aberto.
As demais instituições podem participar ou não, estando cientes de que, uma vez no sistema, assim como podem acessar as informações dos usuários de outras empresas, precisam possibilitar o acesso aos dados daqueles que estão na sua base.
Como cada fase do cronograma Open Banking pode beneficiar o setor varejista
Segunda fase do Open Banking
Conforme explicado anteriormente, a segunda fase do cronograma do Open Banking se refere à adesão do público. Ou seja, se os usuários bancários permitirão, ou não, o compartilhamento dos seus dados e históricos entre os participantes.
O varejo pode aproveitar esse momento para apresentar àqueles que ainda não estão na sua base as suas ofertas de produtos e serviços financeiros, destacando quanto a participação deles no sistema financeiro aberto pode contribuir para a entrega de soluções cada vez mais personalizadas e compatíveis com as suas necessidades.
Porém, nesse ponto, vale destacar um dos desafios do Open Banking, que é comprovar para os usuários a segurança do sistema.
Para isso, cabe tanto ao Banco Central quanto aos participantes encontrar meios de “educar” o público, explicando como funciona esse ecossistema, suas vantagens e possibilidades.
Terceira fase do Open Banking
Já a terceira fase vai agregar o compartilhamento dos serviços relacionados às transações de pagamento e às operações de crédito.
Como a ideia é facilitar esses processos, isso dá às empresas varejistas a chance de estudarem melhor o perfil e o comportamento dos seus clientes.
Com informações como essas é possível incluir em seus portfólios soluções de pagamento que vão ao encontro das preferências e expectativas do público-alvo e, dessa forma, entregar produtos mais aderentes, atraindo e fidelizando os consumidores.
Quarta fase do Open Banking
A quarta fase do cronograma Open Banking expande o compartilhamento de informações e passa a englobar também as operações de crédito, previdência, seguro, investimento e outros serviços financeiros relacionados.
Para o varejo, um dos benefícios é poder adentrar no mercado de crédito e, com isso, entregar novas soluções e gerar uma nova fonte de receita para o negócio.
Uma visão geral do impacto do cronograma Open Banking no varejo
Considerando que cada fase do cronograma Open Banking vai agregar o compartilhamento de novos dados e informações e, com isso, expandir o leque de produtos e serviços que podem ser criados e oferecidos, quanto isso pode afetar o varejo?
É possível dizer que o impacto do Open Banking no setor varejista refletirá em três principais pontos:
- aumento do poder competitivo;
- melhora do relacionamento com os clientes e com os fornecedores;
- possibilidade de aumentar o volume de vendas e, com isso, a lucratividade.
Mas de que forma isso acontece? Aqui, é possível partir do princípio de que o sistema financeiro aberto dará às empresas varejistas a base necessária para aprimoramento das suas operações financeiras e de crédito, e das suas estratégias comerciais.
Impacto nas operações financeiras e na oferta de crédito
Para as empresas do setor que trabalham com finanças embarcadas – ou seja, com a oferta de produtos e serviços financeiros próprios inseridos no seu portfólio de soluções -, o Open Banking, e o mercado de crédito, é uma solução que apoiará os varejistas, visto que a redução das taxas e dos juros se torna um importante atrativo para novos clientes.
Como o sistema financeiro aberto contribui para que novas empresas adentrem esse setor, o que também potencializa o fim do monopólio bancário, quem trabalha com a oferta de crédito precisa ter valores mais atrativos do que os seus concorrentes se realmente quiser conquistar o público.
Quanto a isso, o varejo tem a vantagem de ter um relacionamento muito mais próximo com os seus clientes e de conhecer de forma mais profunda as suas dores e necessidades, ao contrário do que acontece com os grandes bancos.
Mas, além dessa possibilidade, a cada nova etapa do cronograma Open Banking, as empresas varejistas têm a chance de:
- conhecer de maneira mais ampla o histórico dos seus clientes e de potenciais clientes e, com isso, expandir a sua oferta de serviços financeiros e de crédito com soluções personalizadas;
- trazer de maneira mais fácil e rápida para a sua base novos usuários de serviços bancários que se interessaram pelos seus produtos;
- diminuir os riscos relativos à oferta de crédito e empréstimo, uma vez que o compartilhamento de dados e informações bancárias permite estudar melhor o perfil de pagamento do cliente.
Impacto nas estratégias comerciais
No que se refere às estratégias comerciais, o Open Banking tem potencial para que as empresas varejistas que aproveitarem as oportunidades geradas pelo sistema aprimorem o relacionamento com os seus clientes, fornecedores e parceiros de negócio.
Como exemplo, é possível citar que o compartilhamento de informações de crédito pode facilitar o acesso a condições de pagamento mais favoráveis junto aos fornecedores, situação que também pode impactar positivamente no seu fluxo de caixa.
Quanto ao relacionamento com parceiros de negócios, tais como investidores, o sistema financeiro aberto deixa o histórico da companhia acessível, mostrando de forma mais transparente e precisa o seu potencial de pagamento e de lucratividade, contribuindo para a formalização de acordos que tenham esse objetivo.
E no que diz respeito às ações comerciais voltadas para atração e fidelização de clientes, o impacto do Open Banking pode ser visto na criação de estratégias de marketing mais pontuais e direcionadas.
Se uma rede varejista identifica, por exemplo, que um cliente fechou um financiamento para a compra de um imóvel em um determinado banco, pode enviar ofertas personalizadas de produtos para mobiliar o seu novo lar.
Outros resultados que o sistema financeiro aberto pode gerar
O sistema financeiro aberto vai possibilitar e facilitar o compartilhamento, mediante expressa autorização do titular, de todos os dados cadastrais que estão em uma determinada instituição financeira, tais como nome, CPF e/ou CNPJ, endereço, telefone, entre outros.
Além desses, poderão ser compartilhadas informações sobre transações financeiras, perfil de consumo e de pagamento, empréstimos e serviços contratados, rendimentos etc.
Ou seja, todo o histórico de um cliente bancário poderá ser visualizado por outras instituições financeiras, fora aquela com a qual ele mantém, oficialmente, um relacionamento.
Com isso, um leque de vantagens se abre para todos os envolvidos.
Vantagens para os clientes
Essa transparência evitará que um usuário inicie contato “do zero” com bancos, fintechs e empresas que prestam serviços financeiros. Desse modo, reduzirá, por exemplo, o tempo de análise de crédito e dará ao cliente a chance de já adentrar na nova instituição com o mesmo status que tinha na anterior.
Somado a isso, os consumidores de serviços e produtos financeiros poderão montar a sua própria cartela de soluções ao fazer o comparativo entre os produtos e contratar as melhores ofertas, considerando os custos e as condições mais favoráveis.
Vantagens para as empresas
Do ponto de vista das empresas, a participação no Open Banking permitirá que compitam igualmente com os grandes bancos, ainda que tenham portes menores.
Isso acontecerá porque o público terá a chance de comparar um mesmo serviço em diferentes instituições. Assim, escolherá aquela que melhor atender às suas necessidades e migrará de maneira mais fácil para ela.
Outra vantagem é o aprimoramento do controle dos riscos, especialmente para aquelas que trabalham com a oferta de créditos.
Graças ao acesso facilitado e rápido ao histórico do cliente, as companhias têm a chance de analisar com precisão o comportamento de pagamento do potencial cliente. E, com isso, reduzir seus índices de inadimplência.
Por tudo isso, se tiver que resumir o impacto do Open Banking no varejo, e também nos negócios de outros setores que trabalham com soluções financeiras, posso dizer que esse ecossistema:
- ajuda a aprimorar a gestão financeira das companhias;
- expande os seus campos de atuação;
- abre a possibilidade de oferecer novos produtos e serviços e, com isso, ter uma nova fonte de receita;
- melhora o relacionamento com clientes, parceiros de negócios e investidores;
- traz para a empresa importante diferencial competitivo;
- fomenta a criação e a entrega de soluções mais aderentes, que contribuem para atrair e fidelizar o público.
Quem está obrigado a participar do Open Banking
Mas ainda que gere todas essas vantagens, nem todos os bancos, fintechs e empresas que atuam no mercado financeiro são obrigados a participarem do Open Banking.
De acordo com as determinações do Banco Central, 1.065 instituições financeiras brasileiras têm participação obrigatória.
O critério de escolha leva em conta o porte da organização em relação ao Produto Interno Bruto, PIB. Por exemplo, os bancos que se enquadram como S1 são aqueles com porte igual ou superior a 10% do PIB e devem participar.
Vale destacar também que os clientes bancários não são obrigados a compartilhar seus dados e informações. No entanto, é bem importante orientá-los que essa é uma forma de conhecê-los melhor e, com isso, entregar soluções mais pontuais.
Os varejistas que aderirem ao Open Banking podem destacar para o público que o conhecimento mais aprofundado das suas necessidades e expectativas é uma maneira de atendê-los melhor e mais rapidamente.
As redes que trabalham com soluções de crédito, por exemplo, têm a chance de liberar os valores em menos tempo se tiverem acesso ao histórico e ao perfil bancário do cliente.
Assim, ainda que haja diversas alterações no cronograma Open Banking, é essencial destacar que esse ecossistema tem tudo para beneficiar empresas e consumidores.