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Drex: revolução para o e-commerce ou apenas mais uma barreira tecnológica para o varejo?

Por: Anahy Zamboni

Jornalista, atua há mais de dez anos com criação de conteúdo, redação e copywriting. Já escreveu para segmentos, como: educação, saúde, beleza, nutrição, finanças e contabilidade. É especialista em Marketing Digital, Performance e SEO. Atualmente, escreve sobre Startups, SaaS, mercado de pagamentos e fintechs.

O mercado varejista, especialmente o e-commerce, prospera com inovação. Ao longo dos anos, vimos cartões de crédito, carteiras digitais, Pix e agora o Open Finance remodelarem a forma como as pessoas compram e vendem.

Veja como o Drex, a nova moeda digital do Banco Central do Brasil, pode transformar o e-commerce, trazendo mais segurança, eficiência e acessibilidade às suas transações online.

Entre esses avanços surge um novo jogador, prometendo ultrapassar mudanças incrementais e criar uma transformação na dinâmica das transações financeiras – o Drex, a moeda digital do Banco Central do Brasil (CBDC).

Mas, diante de promessas tão ambiciosas, surge a dúvida: o Drex vai revolucionar mesmo o e-commerce ou está destinado a ser mais um desafio para varejistas já sobrecarregados com complexidades tecnológicas?

A promessa do Drex

Na sua essência, o Drex é mais do que um “novo método de pagamento”; ele promete modernizar e democratizar os serviços financeiros no Brasil. Construído com base na tecnologia blockchain, o Drex tem potencial para tornar as transações mais rápidas, baratas e seguras. Para o e-commerce, isso soa como música aos ouvidos – pelo menos, em teoria.

Imagine processos de checkout em que os custos atrelados a intermediários tradicionais sejam significativamente reduzidos. O Drex pode possibilitar pagamentos diretos entre contas, semelhante ao Pix, mas com programabilidade adicional, integração mais robusta em contratos inteligentes e suporte a fluxos financeiros mais complexos. Para plataformas de e-commerce que operam com modelos de assinatura, por exemplo, o Drex poderia automatizar cobranças recorrentes com conformidade e segurança integradas.

E há também o alcance. O Drex promete ser acessível não apenas para grandes players, mas também para pequenos negócios, potencialmente reduzindo a exclusão financeira ainda prevalente em algumas regiões do Brasil. Ele se conecta de forma direta ao Open Finance, permitindo ainda que consumidores acessem linhas de crédito flexíveis diretamente no checkout, sem a necessidade de cartões de crédito ou serviços financeiros externos.

O potencial é impressionante. Com o Drex, pode surgir um cenário em que os pagamentos são instantâneos, as taxas são mínimas e todas as transações são respaldadas por uma infraestrutura central e segura.

Os desafios à frente

No entanto, o caminho para esse cenário ideal está longe de ser simples. A adoção do Drex ainda apresenta muitos desafios, especialmente para o e-commerce. Um dos principais obstáculos é a infraestrutura tecnológica necessária para incorporar o Drex às plataformas existentes. Mesmo com a arquitetura aberta do Drex, integrar um sistema de pagamento baseado em blockchain exige especialistas, recursos dedicados e uma curva de aprendizado íngreme, especialmente para algumas equipes sobrecarregadas por gerenciar dezenas de métodos de pagamento.

A questão da confiança também é problemática. Enquanto o Pix alcançou ampla adoção, em parte devido à sua parceria com bancos e usabilidade simples, o Drex é mais complexo. Educar empresas e consumidores sobre seu funcionamento e segurança exigirá um enorme esforço, e a falta dessa confiança inicial pode limitar sua adoção.

Além disso, a inclusão do Drex pode inadvertidamente complicar ainda mais o já abarrotado ecossistema de pagamentos brasileiro. Atualmente, os varejistas gerenciam Pix, boleto bancário, gateways de cartão de crédito e sistemas de parcelamento. Adicionar mais uma camada pode fragmentar a experiência do consumidor, em vez de aprimorá-la.

Também vale observar preocupações relacionadas a privacidade e dependência. O Drex está ligado a um blockchain – um sistema transparente e rastreável -, o que pode levantar alertas para consumidores preocupados com exposição de dados. Há ainda uma discussão macroeconômica mais ampla sobre se depender excessivamente de uma CBDC pode expor varejistas a mudanças regulatórias que poderiam impactar a liquidez ou as estratégias operacionais.

Como os varejistas podem se preparar

Independentemente de o Drex cumprir ou não seu potencial disruptivo, as empresas de e-commerce não podem se dar ao luxo de esperar de braços cruzados. Preparar-se para o Drex significa adaptar-se agora a um futuro no qual as transações digitais se tornarão mais intrincadas e interconectadas.

1. Aproveite APIs e Open Finance: as empresas devem começar a explorar soluções baseadas em API que permitam uma integração fluida de sistemas de pagamento, incluindo o Drex, caso ele se torne amplamente utilizado. Ser adaptável reduzirá o atrito na escalabilidade dos métodos de pagamento.

2. Eduque equipes internas e consumidores: varejistas precisam investir em educação financeira para suas equipes, focando em como o Drex funciona, seus benefícios e seus riscos. Simultaneamente, campanhas voltadas para os consumidores, explicando as vantagens do Drex -como a redução de custos ou maior acessibilidade -, podem aumentar as taxas de adoção a longo prazo.

3. Monitore de perto as mudanças regulatórias: dado que o Drex é uma moeda emitida pelo Banco Central, estará, por definição, ligado a atualizações regulatórias rigorosas. Empresas que mantêm a conformidade de forma proativa e monitoram esses desenvolvimentos reduzirão o risco de interrupções operacionais.

4. Avalie custos de pagamento de forma estratégica: para PMEs em particular, o Drex potencialmente pode reduzir taxas de processamento e custos operacionais atrelados a intermediários. Empresas devem fazer projeções sobre como o Drex pode impactar suas receitas e explorar parcerias de maneira estratégica.

Uma revolução em andamento

O Drex vai revolucionar o varejo? Se usado da forma correta, ele pode, sim, trazer custos menores, maior segurança e eficiência para as transações de e-commerce. No entanto, como ocorre com qualquer inovação, o sucesso depende de quão bem empresas e consumidores se adaptam às mudanças que ele exige.

Para algumas empresas no varejo, o Drex representa liberdade frente a tarifas e gargalos logísticos. Para outras, é uma montanha tecnológica gigante a ser escalada em um cenário já saturado. Mas uma coisa é certa: quem se dedicar desde cedo a entender e experimentar o Drex pode se posicionar na linha de frente da próxima revolução de pagamentos no Brasil.

Embora seja cedo para declarar definitivamente o Drex como uma força disruptiva ou um obstáculo, algo é indiscutível no mundo acelerado do e-commerce: ficar parado não é uma opção. Se um varejista enxerga essa nova moeda como ameaça ou oportunidade pode, no fim, definir seu lugar em uma economia que se digitaliza rapidamente.