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Filha, compra online pra mim? Pode usar o meu cartão

Por: Carolina Nacle

Gerente de Parcerias e Alianças Brasil

Profissional experiente em gerenciamento de Grandes Contas, Desenvolvimento de Negócios e Marketing, com sólida trajetória na indústria de pesquisa de mercado focada no comportamento do consumidor. Atualmente, na ClearSale, lidera o atendimento de grandes contas no segmento de varejo e meios de pagamento.

Quem tem pais acima de 60 anos, ou a felicidade de ter avós em sua convivência, já deve ter ouvido essa frase em alguma vez na vida.

Os chamados “idosos” representam o recorte populacional que mais cresce no país. Segundo o IBGE, de 2000 a 2023, proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%.

Veja como a população idosa brasileira está se adaptando ao mundo digital, enfrentando desafios nos pagamentos online e descobrindo novas oportunidades de consumo e inclusão.

Em 2025, o Brasil terá a sexta maior população idosa. Em 2025, o Brasil ocupará o sexto lugar no ranking mundial de número de idosos. 15% da população brasileira será composta por pessoas com mais de 60 anos.

Esses números impressionam, mas, na minha opinião, o indicador mais relevante para o propósito deste artigo é o econômico. Contrariando o senso comum, 52% dos idosos são os principais responsáveis pelo sustento da casa*.

Outro senso comum que caiu por terra há algum tempo é de que pessoas com mais de 60 anos estão longe da internet.

Nos últimos anos, houve forte avanço do número de idosos com acesso à internet: o percentual de pessoas com mais de 60 anos no Brasil navegando na web cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021.*

Entre os idosos conectados, a principal motivação é se informar sobre economia, política, esportes e outros assuntos (64%). Também utilizam a web para manter o contato com outras pessoas (61%) e buscar informações sobre produtos e serviços (54%). O principal meio de acesso é o smartphone, citado por 84% dos idosos que usam a internet, um crescimento de oito pontos percentuais em relação à 2018, enquanto 37% usam notebook e 36%, computador desktop.

De acordo com um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 81% dos consumidores com mais de 60 anos já fazem compras online rotineiramente. A pesquisa revelou que as principais motivações para esse comportamento são a conveniência de poder comprar a qualquer hora, mencionada por 67% dos entrevistados, e a facilidade para encontrar produtos, apontada por 56%.

A pandemia acelerou ainda mais o processo de transformação digital, e com os idosos não foi diferente. Muitos passaram a utilizar redes sociais e videoconferências para manter contato com familiares e se informar, sem contar a necessidade de fazer as compras de forma mais segura.

Comunicação online, diversão online, compras online: mas e na hora de realizar o pagamento?

Os brasileiros com 60 anos ou mais enfrentam algumas dificuldades específicas ao lidar com os meios de pagamento, principalmente devido às barreiras tecnológicas e ao ritmo acelerado das mudanças no setor financeiro. Entre as principais dificuldades estão:

1. Adaptação a tecnologias digitais

    – Uso de aplicativos de bancos e carteiras digitais: muitos idosos têm dificuldade em aprender a usar aplicativos de pagamento, como Pix, e-wallets ou apps bancários, por falta de familiaridade com smartphones e interfaces digitais.

    – Confiança nos serviços online: há uma resistência maior ao uso de serviços digitais por medo de golpes e fraudes.

    2. Fraudes e golpes financeiros

      – Vulnerabilidade a fraudes: são frequentemente alvos de golpes, como phishing ou clonagem de cartões, por desconhecimento de práticas de segurança digital.

      – Dificuldade em reconhecer golpes: há uma grande dificuldade em identificar mensagens ou e-mails fraudulentos, como falsas ofertas de atualização de dados bancários.

      3. Acessibilidade e inclusão digital

        – Falta de suporte técnico: poucos bancos e serviços financeiros oferecem suporte inclusivo para idosos, como atendimento dedicado ou explicações simplificadas.

        – Interfaces pouco intuitivas: aplicativos bancários nem sempre são desenhados pensando em pessoas com limitações visuais, motoras ou cognitivas.

        4. Preferência por meios tradicionais

          – Muitos ainda preferem pagar com dinheiro ou cheque por hábito ou falta de confiança em meios eletrônicos.

          – Dificuldade em abandonar o uso de agências físicas para realizar pagamentos e resolver problemas financeiros.

          5. Baixa alfabetização financeira e digital

            – Mesmo sendo heavy users, muitos idosos não tiveram a oportunidade de desenvolver habilidades em tecnologia ou finanças ao longo da vida.

            – Termos e conceitos como “QR code”, “token” ou “chave Pix” podem ser confusos ou intimidadores.

            Possíveis saídas para minimizar esses obstáculos

            Para superar essas dificuldades, instituições financeiras e empresas de tecnologia podem:

            – Oferecer educação financeira e digital voltada para idosos, com linguagem simples e materiais acessíveis.

            – Desenvolver interfaces inclusivas e serviços de suporte personalizados.

            – Promover iniciativas que aumentem a confiança e a segurança, como autenticação simplificada e alertas sobre golpes.

            – Incentivar a convivência intergeracional, na qual familiares mais jovens ajudam os idosos a se adaptarem às novas tecnologias.

            Não menos importante: existe uma dissonância entre quem cria as soluções (jovens executivos) e esse público que consome as soluções. E se as empresas pudessem ter em seus quadros pessoas nessa faixa etária trabalhando em suas áreas de UX?

            Bem, essa conversa é longa e merece a nossa reflexão.

            *Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.