Quem tem pais acima de 60 anos, ou a felicidade de ter avós em sua convivência, já deve ter ouvido essa frase em alguma vez na vida.
Os chamados “idosos” representam o recorte populacional que mais cresce no país. Segundo o IBGE, de 2000 a 2023, proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%.
Em 2025, o Brasil terá a sexta maior população idosa. Em 2025, o Brasil ocupará o sexto lugar no ranking mundial de número de idosos. 15% da população brasileira será composta por pessoas com mais de 60 anos.
Esses números impressionam, mas, na minha opinião, o indicador mais relevante para o propósito deste artigo é o econômico. Contrariando o senso comum, 52% dos idosos são os principais responsáveis pelo sustento da casa*.
Outro senso comum que caiu por terra há algum tempo é de que pessoas com mais de 60 anos estão longe da internet.
Nos últimos anos, houve forte avanço do número de idosos com acesso à internet: o percentual de pessoas com mais de 60 anos no Brasil navegando na web cresceu de 68%, em 2018, para 97%, em 2021.*
Entre os idosos conectados, a principal motivação é se informar sobre economia, política, esportes e outros assuntos (64%). Também utilizam a web para manter o contato com outras pessoas (61%) e buscar informações sobre produtos e serviços (54%). O principal meio de acesso é o smartphone, citado por 84% dos idosos que usam a internet, um crescimento de oito pontos percentuais em relação à 2018, enquanto 37% usam notebook e 36%, computador desktop.
De acordo com um estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 81% dos consumidores com mais de 60 anos já fazem compras online rotineiramente. A pesquisa revelou que as principais motivações para esse comportamento são a conveniência de poder comprar a qualquer hora, mencionada por 67% dos entrevistados, e a facilidade para encontrar produtos, apontada por 56%.
A pandemia acelerou ainda mais o processo de transformação digital, e com os idosos não foi diferente. Muitos passaram a utilizar redes sociais e videoconferências para manter contato com familiares e se informar, sem contar a necessidade de fazer as compras de forma mais segura.
Comunicação online, diversão online, compras online: mas e na hora de realizar o pagamento?
Os brasileiros com 60 anos ou mais enfrentam algumas dificuldades específicas ao lidar com os meios de pagamento, principalmente devido às barreiras tecnológicas e ao ritmo acelerado das mudanças no setor financeiro. Entre as principais dificuldades estão:
1. Adaptação a tecnologias digitais
– Uso de aplicativos de bancos e carteiras digitais: muitos idosos têm dificuldade em aprender a usar aplicativos de pagamento, como Pix, e-wallets ou apps bancários, por falta de familiaridade com smartphones e interfaces digitais.
– Confiança nos serviços online: há uma resistência maior ao uso de serviços digitais por medo de golpes e fraudes.
2. Fraudes e golpes financeiros
– Vulnerabilidade a fraudes: são frequentemente alvos de golpes, como phishing ou clonagem de cartões, por desconhecimento de práticas de segurança digital.
– Dificuldade em reconhecer golpes: há uma grande dificuldade em identificar mensagens ou e-mails fraudulentos, como falsas ofertas de atualização de dados bancários.
3. Acessibilidade e inclusão digital
– Falta de suporte técnico: poucos bancos e serviços financeiros oferecem suporte inclusivo para idosos, como atendimento dedicado ou explicações simplificadas.
– Interfaces pouco intuitivas: aplicativos bancários nem sempre são desenhados pensando em pessoas com limitações visuais, motoras ou cognitivas.
4. Preferência por meios tradicionais
– Muitos ainda preferem pagar com dinheiro ou cheque por hábito ou falta de confiança em meios eletrônicos.
– Dificuldade em abandonar o uso de agências físicas para realizar pagamentos e resolver problemas financeiros.
5. Baixa alfabetização financeira e digital
– Mesmo sendo heavy users, muitos idosos não tiveram a oportunidade de desenvolver habilidades em tecnologia ou finanças ao longo da vida.
– Termos e conceitos como “QR code”, “token” ou “chave Pix” podem ser confusos ou intimidadores.
Possíveis saídas para minimizar esses obstáculos
Para superar essas dificuldades, instituições financeiras e empresas de tecnologia podem:
– Oferecer educação financeira e digital voltada para idosos, com linguagem simples e materiais acessíveis.
– Desenvolver interfaces inclusivas e serviços de suporte personalizados.
– Promover iniciativas que aumentem a confiança e a segurança, como autenticação simplificada e alertas sobre golpes.
– Incentivar a convivência intergeracional, na qual familiares mais jovens ajudam os idosos a se adaptarem às novas tecnologias.
Não menos importante: existe uma dissonância entre quem cria as soluções (jovens executivos) e esse público que consome as soluções. E se as empresas pudessem ter em seus quadros pessoas nessa faixa etária trabalhando em suas áreas de UX?
Bem, essa conversa é longa e merece a nossa reflexão.
*Pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a Offer Wise Pesquisas.