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Gap com EUA e Europa: como a falta de adoção de soluções DAM no Brasil pode impactar a competitividade no varejo

Por: Adalberto Generoso

Cofundador e CEO

É cofundador e CEO da Yapoli, principal referência em gestão de ativos digitais do Brasil, que tem como clientes grandes nomes da indústria brasileira, como Flamengo, Petrobrás, Havaianas, Habib’s e Portobello. Generoso é empreendedor serial e tem mais de 10 anos de experiência em marketing digital. Já ganhou 3 Cannes Lions e mais 10 prêmios internacionais de publicidade digital. Foi um dos idealizadores do GuiaBolso e ex-sócio e CMO da Cheftime, foodtech adquirida em 2019 pelo GPA. Além disso, o executivo é mentor de marketing, tecnologia e growth para empresas e atua como palestrante para a turma do curso de Marketing Digital do Núcleo de Empreendedorismo Tech da USP.

Em um cenário cada vez mais digital e competitivo, a eficiência na gestão de ativos digitais se tornou um aspecto crucial para o sucesso do varejo. Hoje, tal incumbência está, muitas vezes, atrelada às chamadas soluções DAM (Digital Asset Management, ou Gestão de Ativos Digitais), que permitem que companhias organizem, armazenem e distribuam seus ativos digitais de forma eficaz. No setor varejista, contar com o auxílio desse tipo de tecnologia é fundamental para o processo de go-to-market (GTM) e para construção de campanhas de marketing rápidas e consistentes.

Como a gestão de ativos digitais pode transformar o varejo e garantir a competitividade no mercado global, superando barreiras culturais e tecnológicas no Brasil?

Não à toa, atualmente, o mercado global de soluções DAM apresenta um crescimento acelerado, com projeção de aumento de US$ 3,96 bilhões em 2023 para US$ 16,18 bilhões até 2032 (Fortune Business Insights). Tal expectativa está impulsionada principalmente pelos mercados dos EUA e Europa, onde a tecnologia digital e os processos no varejo já estão mais avançados e a maturidade de mais de uma década nas soluções DAM é refletida em processos robustos e uma governança eficaz dentro dos negócios.

Por outro lado, a realidade brasileira é distinta. Segundo o relatório “Mercado Brasileiro de Software: Panorama e Tendências 2024” da ABES (Associação Brasileira das Empresas de Software), o país está na décima posição em termos de investimentos em software, hardwares e serviços de tecnologia, como o DAM, ficando atrás dos EUA, China, Japão e grandes potências do continente europeu, como Reino Unido, França e Alemanha. Esse fenômeno decorre de uma somatória de fatores, que envolve desde barreiras culturais à falta de consciência dos gestores e até mesmo à própria maturidade digital local. As consequências dessa defasagem são significativas, afetando diretamente a competitividade das empresas varejistas no mercado nacional e, sobretudo, global.

Cenário preocupante

Uma das principais barreiras para a adoção de soluções DAM no Brasil é cultural. Empresas brasileiras, de modo geral, ainda não perceberam plenamente o valor estratégico de uma gestão de ativos digitais. Muitas vezes, a visão é de que essas soluções são apenas um custo adicional, e não um investimento que pode trazer retornos substanciais em termos de eficiência operacional e eficácia nas estratégias, principalmente no marketing digital.

Além disso, há barreiras tecnológicas significativas. A maturidade digital no Brasil, embora em crescimento, ainda encara desafios. Sem uma base tecnológica sólida, a consistência e a qualidade das campanhas de marketing acabam sendo prejudicadas.

As corporações com uma governança digital já bem estabelecida podem aumentar a eficiência operacional em até 20%, segundo estudos da Deloitte. No entanto, muitas empresas brasileiras carecem de processos estruturados e de uma governança robusta, o que seria solucionado por meio da gestão de ativos digitais.

Oportunidade desperdiçada

A consequência desse cenário é a formalização de um mercado varejista ainda falho, que apresenta lacunas significativas, sobretudo no que diz respeito à governança e aos processos estruturados. Em um universo mercadológico cada vez mais competitivo, no qual a atenção do consumidor é um recurso escasso, a falta de uma gestão eficiente de ativos digitais pode ser decisiva para o varejo.

Hoje, quando analisamos a concorrência varejista, não podemos mais avaliar que uma marca disputa somente com o concorrente direto. É preciso ter em mente que estamos em uma era em que o público-alvo de uma empresa está sendo condicionado a consumir muita informação de forma superficial, rápida e diante de vários contextos diferentes. Isso quer dizer que uma marca não está disputando somente aquele mercado específico com o seu concorrente.

Para se destacar neste novo momento, a mensagem de um negócio precisará superar uma competição acirrada de atenção, englobando também os grandes players globais, além das próprias plataformas digitais, como o TikTok. Nesse contexto, se uma marca não consegue falar com seu público de forma eficaz, trazendo a imagem certa, a informação atualizada ou, por incrível que pareça, o logotipo adequado, ela perde a sua oportunidade, cada vez mais rara, de conquistar o cliente.

Para que o Brasil possa se destacar nesse cenário, será necessário desenvolver governança e processos dentro das corporações para melhorar a adoção de tecnologias DAM. A evolução digital no Brasil depende de iniciativas para aumentar a maturidade digital e superar barreiras culturais e estruturais, algo que nenhuma IA poderá fazer por nós. É preciso uma mudança de mindset, em que a tecnologia seja vista como uma aliada estratégica, capaz de transformar o modo como as empresas operam e se comunicam no mercado.

A falta de adoção de soluções DAM no Brasil coloca as empresas varejistas em clara desvantagem competitiva em relação aos mercados dos EUA e Europa. Para chamar a atenção em um ambiente altamente competitivo e de rápida mudança, é essencial que as empresas brasileiras tentem correr contra o prejuízo e invistam em tecnologia, governança e processos estruturados. O futuro do varejo depende da capacidade de se adaptar às novas realidades digitais e explorar todo o potencial que as soluções podem oferecer.