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Há mais por fazer no e-commerce brasileiro do que já foi feito nesses 25 anos

Por: Samuel Gonsales

É especialista em omnichannel, sistema de gestão (ERP) e e-commerce, acumulando mais de 23 anos de experiência. Diretor de Relacionamento no E-Commerce Brasil e Diretor de Operações na ABComm, é Autor do livro: "Sistemas ERP na Omniera" (Ed. E-Commerce Brasil) e Co-Autor do livro: "Vendas + Operações no e-commerce" (Ed. MCT). Foi vencedor dos prêmios E-Commerce Brasil 2015 como Melhor Profissional de e-Commerce, prêmio ABComm 2017 como Melhor Profissional de e-commerce e Prêmio Digitalks 2019, desta vez como destaque do Mercado Digital. Também é palestrante em eventos de e-commerce e TI.

Sim, essa é uma realidade incontestável e ao mesmo tempo um panorama de Otimismo gigantesco.

Nosso e-commerce tupiniquim deve fechar o ano de 2020 (um dos mais desafiadores desses 25 anos de e-commerce no Brasil), com números realmente espetaculares. Aliás, ele deve bater a marca de 10% do faturamento do varejo total, restando ainda ao varejo físico os 90% do dinheiro dos consumidores.

Muitos novos hábitos de consumo se consolidaram ao longo desse ano — tem gente querendo comprar bacalhau e dólar na Black Friday, simbolizando um pouco de como novas categorias que entraram com força no e-commerce esse ano (especialmente grocery e serviços) realinharam o rumo das coisas.

Antes, um brasileiro fazia em média quatro compras online ao ano. Mas agora, com o crescimento dos superapps, a chegada do botão Shop no Instagram, a possibilidade de comprar e pagar usando WhatsApp pay… Tudo acelerou demais esse volume. Já dá pra falar que saímos da média de quatro compras anuais para quase 20! A Fecomércio, por exemplo, informou ao mercado que o e-commerce cresceu em 6 meses o que cresceria em 6 anos.

Outro ponto interessantíssimo foi o fato de que muitas operações gigantes do nosso e-commerce — que estavam acostumadas a amargar prejuízos anuais, sob a ótica de que estavam investindo fortemente para colher frutos posteriormente — tiveram lucros! E, diga-se de passagem, lucros bastante expressivos. Um exemplo aconteceu com um marketplace tradicional. Com a nova gestão (que tem pouco mais de um ano), já teve lucro líquido operacional no terceiro trimestre de 2020 de R$ 100 milhões. Sim, as coisas realmente mudaram, pessoal!!!

O otimismo no e-commerce brasileiro é algo impressionante

Se fossemos revisitar todos os estudos e pesquisas de mercado, daria pra escrever um livro com os dados de crescimento desse ano histórico. Mas não se engane achando que chegamos no teto. Essa arrancada histórica é apenas o começo de uma nova onda. Te explico melhor esse ponto de vista logo abaixo.

Bom, se muitos e-commerces fizeram investimentos consistentes em tecnologias e tráfego nos últimos 5, 10 anos, tem um montão de empresas que simplesmente só se mexeu com a água bateu na bunda. Um exemplo a seguir mostra um pouco disso — relato de uma rede de supermercados que nunca tinha vendido online antes e na pandemia precisou se coçar.

Os consumidores dessa rede de supermercados começaram a entrar em contato por meio do WhatsApp, Com isso, a empresa passou a aceitar as listas de compras desses consumidores via Google Forms. Sim, isso mesmo! Como não havia a cultura digital na empresa, não havia tempo pra implementar um e-commerce. Por isso reinou o bom e velho improviso brasileiro (importante: não estou fazendo juízo de valor pessoal, apenas relatando o que aconteceu, certo!).

Venda “na unha”

O processo era assim:

  • Consumidor faz contato no WhatsApp;
  • A rede envia o link de Google Forms pra ele preencher a lista de compras;
  • Consumidor insere seus itens e quantidades;
  • A rede valida, separa os itens e informa os valores e eventuais substituições que possam ser feitas no pedido;
  • Consumidor aceita ou modifica o pedido final;
  • Entregador leva as mercadorias e a maquininha de cartão pra receber os valores.

Incrivelmente, essa rede já fazia mais de 100 pedidos diários desse “jeitão” em outubro/2020.

Jeito brasileiro de ser

À essa altura da leitura, os especialistas em e-commerce já estão se revirando aí, né? E é por isso que o tema desse artigo é: “Há mais por fazer no e-commerce brasileiro do que já foi feito nesses 25 anos”.

Se para alguns que estão no e-commerce há bastante tempo (assim como eu) esse tipo de situação é impensável, impraticável e inevitavelmente não escalável, parando pra analisar friamente, fica claro que fizemos muito no e-commerce brasileiro nesses 25 anos. Porém, o foco era muito resumido em poucas categorias. Justamente por isso meu otimismo me faz acreditar que há muito mais por fazer. E, com isso, já estou pensando nos próximos 25 anos que teremos pela frente.

Sim, serão novos anos de crescimento incrível. Teremos sim novas rodadas de IPOs (esse ano de 2020 foi incrível nesse sentido). E, sim, teremos novas rodadas de fusões, aquisições e investimentos pesados com foco na ampliação das vendas online — inclusive de itens que sequer estavam no nosso radar.

Um segundo exemplo que achei impressionante foi de um condomínio de apartamentos em São Paulo. Em uma reunião dos condôminos foi aceita a proposta de comprar freezers para a portaria poder receber os itens congelados que os moradores gostariam de comprar e que no momento não era possível. Se você olhar as pesquisas de e-commerce até 2019, certamente não verá destaques para esse tipo de itens. Mas, provavelmente nas análises de 2020, 2021 e daí por diante, teremos informações sobre essas categorias.

Independência frente aos Correios

Mais um ponto importante que mostra que estamos prontos para desafios ainda maiores. A dependência dos Correios, especialmente por alguns players gigantes do nosso mercado, está diminuindo drasticamente. Um desses players declarou ao mercado os seguintes números:

  • 610 mil m2 de armazenagem;
  • frota com 4 aviões;
  • 600 carretas e 10 mil vans (fora as carretas encomendadas para 2021);
  • 1.800 cidades recebem as encomendas em até 2 dias;
  • 2 mil agências próprias para despacho das mercadorias;
  • 276 milhões de produtos despachados diretamente nos últimos 12 meses.

Tudo isso é resultado de um investimento de R$ 4 bilhões dessa empresa para diminuir a sua dependência dos Correios.

Spoilers logísticos

Dentro desse tema de logística, é importante eu lembrar que o ministro das comunicações já deu spoiler das empresas — varejistas, transportadores e e-commerces — que estão dispostas a comprar os Correios na sua privatização. Nosso presidente também já deixou escapar que a privatização dos Correios deve ser o grande trunfo do seu mandato.

Outro ponto interessante de uma pesquisa recente: nos últimos meses, muitos pedidos relacionados à linha branca tinham entregas no Nordeste brasileiro. Segundo a pesquisa, cerca de 17% das vendas dessa categoria eram do Nordeste. Olhando em mais detalhes esse ponto evidenciou que boa parte das compras teve o valor do frete como um incentivo. Afinal, como uma boa parte dos marketplaces agora tem diversos centros de distribuição espalhados por todo o país — e quase todo mês temos notícias de mais e mais centros sendo inaugurados —, o custo do frete para entregar uma geladeira no Nordeste, por exemplo, caiu drasticamente. Consequentemente, o volume de vendas aumentou.

Com essas novas mudanças, só consigo assumir que teremos anos cada vez mais incríveis.

O alerta

Para os executivos, empreendedores, varejistas e fornecedores de soluções para e-commerce que estão sentados em berço esplêndido, achando que já tinham feito tudo que era necessário e que alcançaram o auge de seus negócios, fica o alerta:

  • Muitos players de tecnologias focadas em e-commerce (gigantes mundo afora) passaram a olhar com bons olhos para o Brasil e breve chegam por aqui;
  • Para os que se consideram especialistas em determinadas categorias (moda, eletrônicos, etc), o crescimento de novas categorias exigirá novos conhecimentos;
  • Para os varejistas que não têm em suas agendas melhorar seus processos, trocar tecnologias, investir em novos canais, rever seus meios de pagamento e aumentar as possibilidades de entregas, sugiro repensar o posicionamento. No Brasil, já temos quase 10.000 soluções pra e-commerce e, se os varejistas não se preocuparem em conhecer cada vez melhor as possibilidades, o novo entrante (que não está vivendo nenhuma zona de conforto) pode ganhar espaço.

Conclusão

Há mais por fazer no e-commerce brasileiro do que já foi feito nesses 25 anos, sim! Só esse ano tivemos um incremento de mais de 150 mil novas lojas online, fora as vendas por meio de superapps. Os marketplaces, segundo a eBit|Nielsen, representam mais de 70% de tudo que se vendo no e-commerce brasileiro. Tivemos um incremento de mais de 7 milhões de novos compradores no e-commerce nesse ano. Com isso, muitos novos modelos de consumo e novos modelos de vender e entregar surgiram.
Esse movimento não vai parar nos próximos anos! Pelo contrário, vai se intensificar cada dia mais.
E aí, está preparado(a) para reinventar seus negócios cada vez mais?