Cross-border ou comércio transfronteiriço é o processo de venda de produtos e serviços via e-commerce para compradores do exterior. Embora ele também possa se referir ao comércio online entre pessoas físicas (C2C), esse modelo de e-commerce movimenta a economia internacional nos negócios B2B e B2C.
Essa tendência começou a se popularizar a partir do lançamento da Amazon, em 1994. A empresa foi uma das pioneiras a romper em grande escala as fronteiras no mercado virtual, tornando a experiência de compra internacional mais acessível.
Ao longo dessas três décadas, avanços tecnológicos que agilizavam os pagamentos internacionais, como o PayPal, o surgimento de diferentes marketplaces e as redes sociais, ajudaram a consolidar esse negócio que deve movimentar mais de $4 trilhões de dólares até 2027, segundo relatório da Zion Market Research.
Saiba mais sobre as possibilidades que o cross-border pode oferecer para a expansão do seu negócio, descubra o impacto desse comércio transfronteiriço no Brasil e o que deve ser feito para colocá-lo em prática.
Quais as possibilidades desse modelo de negócios?
O e-commerce nacional tem apresentado resultados bastante animadores, mas o potencial do cross-border oferece outras vantagens, como as listadas abaixo.
Ainda há muitas oportunidades de negócio
Um estudo conduzido pela Visa indica que 87% dos gestores de e-commerce nos dez maiores mercados de comércio digital no mundo disseram que a presença via cross-border será essencial para manter o sucesso dessas empresas nos próximos três anos.
Dois terços daqueles que ainda não venderam em mercados internacionais já estão prontos para iniciar um plano de ação de curto prazo. Por outro lado, apenas um terço dos entrevistados disseram que se sentem preparados para lidar com transações internacionais no momento.
Esses indicadores mostram que a oportunidade de crescimento de vendas no comércio transfronteiriço é vasta, mas ainda mal aproveitada. Isso significa que é possível implementar o e-commerce internacional antes que essa concorrência fique ainda mais acirrada.
As compras no e-commerce estão aumentando em todo o mundo
Um levantamento da Accenture identificou que mais de dois bilhões de compradores realizaram pelo menos uma compra online internacional em 2020. Os mercados mais promissores para quem deseja atuar internacionalmente são China, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, França, Rússia, México, Índia e Canadá.
O sudeste asiático também tem se destacado. A Statista prevê que Indonésia, Tailândia, Vietnã, Malásia, Filipinas e Cingapura devem movimentar aproximadamente $83 bilhões de dólares até 2025, representando mais de 50% do mercado da região. Algumas das razões para a rápida expansão dos mercados estrangeiros são:
- maior demanda e acesso a dispositivos habilitados com Internet;
- expansão da classe média e aumento de renda, especialmente na Ásia;
- maior incentivo de governos estrangeiros para a abertura de mercados e comércio internacional;
- consumidores que até então não realizam compras online começaram a perceber que o cross-border pode oferecer produtos de qualidade a preços justos;
- as redes sociais que não servem apenas como canais de vendas e têm impactado o comportamento do consumidor na hora de decidir pelo e-commerce internacional.
Novos consumidores podem comprar nos e-commerces
Compras parceladas fazem parte da cultura comercial brasileira, mas essa não é uma prática comum em outros países. A mudança ocorreu com as soluções conhecidas como Buy Now, Pay Later (Compre Agora, Pague Depois, em português). Como o próprio nome indica, os compradores realizam uma compra que será paga posteriormente à vista ou em parcelas sem juros.
O uso desse método de pagamento alternativo oferecido por empresas como Affimr, Lay Buy e AfterPay acabam incrementando as vendas do comércio transfronteiriço. Gigantes como Visa, American Express, PayPal e Citibank também têm apresentado alternativas similares.
O negócio também é vantajoso para o vendedor que recebe o pagamento antecipado e integral, excluída uma taxa cobrada pela plataforma. Essa cobrança varia entre 2% e 8%, oscilando de acordo com a empresa financeira, com o tipo de negócio e com o preço do item. Apesar dessa cobrança, o aumento na taxa de conversão e no valor do ticket médio dos pedidos internacionais é vantajoso.
Menos riscos
Uma loja online que atua apenas no mercado interno encontra-se em uma relação de dependência da economia nacional. Sempre que ocorre uma oscilação no cenário econômico local, menor será a lucratividade do negócio.
A abertura do e-commerce para compradores de outros países amplia e diversifica seu mercado consumidor, o que pode ajudar a equilibrar as vendas totais quando as operações internas não estiverem abaixo do esperado.
Possibilidades de parcerias internacionais
Atuar no mercado internacional também é uma oportunidade de acesso a novos fornecedores.
Assim, fica mais fácil realizar acordos de importação de mercadorias com preços mais atrativos para vender aqui no mercado nacional. No caso de empresas, também é possível comprar insumos a custos mais baixos, reduzindo as despesas com a produção.
Qual o impacto do cross-border no e-commerce brasileiro?
A pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Comércio e Consumo com compradores brasileiros revela que 65% desses “e-consumidores” têm comprado mais em sites e aplicativos estrangeiros em 2021 em relação ao ano passado.
Além disso, o tíquete médio das compras em e-commerces internacionais foi de R$ 482, um valor 7% superior ao tíquete médio das lojas online brasileiras.
Ainda de acordo com o levantamento, os fatores que tornam os brasileiros um público cativo do comércio transfronteiriço são diversidade de produtos, preços inferiores, mais e-commerces com páginas traduzidas para o português, tempo de entrega e frete satisfatórios.
Esses dados são importantes para compreender os impactos do cross-border nos e-commerces brasileiros. Eles ainda servem de inspiração para pensar em soluções para minimizar essa presença das lojas virtuais estrangeiras no mercado brasileiro.
No sentido inverso, os donos de e-commerce no Brasil também têm começado a impulsionar as vendas para o exterior. Um dos motivadores tem sido o dólar mais alto que desvaloriza o real e torna as mercadorias mais baratas nos principais mercados internacionais.
Além disso, existem segmentos de mercado típicos do Brasil que fazem muito sucesso no exterior, como vestuário e alimentos. Essas mercadorias impulsionam as vendas internacionais tanto para a população estrangeira quanto para os brasileiros que moram em outros países.
O que é preciso para atuar no comércio transfronteiriço?
Confira a seguir uma lista com as ações iniciais para você esboçar sua estratégia de e-commerce de alcance internacional.
1. Identifique os potenciais mercados
Comece pesquisando os mercados emergentes no exterior que podem ser o público comprador da sua loja online. Depois de localizar as áreas com uma demanda comprovada de suas mercadorias, investigue a cultura, o comportamento consumidor e os concorrentes nesses mercados específicos.
2. Verifique as legislações
Um aspecto essencial no planejamento do cross-border é identificar as legislações e as restrições impostas sobre a venda e a distribuição de produtos em mercados estrangeiros. Se existe um grande mercado para seus produtos, mas as restrições podem atrapalhar as vendas, é melhor procurar outro público.
Também é importante observar as entrelinhas. Existe uma diferença entre um produto proibido que impede a venda do item e a restrição do produto, que permite a comercialização da mercadoria desde que alguns critérios sejam cumpridos, por exemplo. É o caso de alguns produtos alimentícios que precisam obedecer regras sobre descrições de informações, armazenamento e embalagens.
3. Calcule a precificação das mercadorias
Definir um preço que se adapte ao mercado que você deseja alcançar é uma das etapas mais complexas dessa estratégia. É preciso considerar custos como os impostos sobre as operações de e-commerce, as despesas com embalagem, frete, seguro e comissões de venda, se for o caso.
Esse cálculo deve considerar, ainda, os valores cobrados pelos concorrentes para as mercadorias semelhantes às da sua loja virtual. Encontrado o valor ideal, certifique-se de que seu e-commerce seja capaz de fornecer o custo de cada item na moeda local.
4. Cuide da logística
Uma das razões para a expansão do comércio transfronteiriço é a melhoria dos serviços de logística. Uma pesquisa realizada pelo International Post Corporation em 41 países identificou que o tempo médio de entrega de compras internacionais é de 15 a 29 dias.
A contratação de uma empresa terceirizada pode ser uma alternativa, já que ela entende os processos alfandegários e é capaz de fornecer o suporte necessário para o envio das mercadorias. Pesquise e opte pelas empresas que oferecem diferenciais, como descontos por volume de remessa ou prazos de entrega mais curto.
5. Elimine as barreiras linguísticas
É importante que você tenha um responsável qualificado para dar suporte ao cliente internacional. Faça um teste no Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) de um site estrangeiro e use sua própria experiência para analisar essa interação.
Se o consumidor liga para um SAC e descobre que já há uma barreira de idioma, ouve ruídos que atrapalhem a comunicação ou não tem a resposta respondida em uma página de perguntas, menor será o nível de confiança dele para concluir a compra.
Você também precisa adaptar seu e-commerce para oferecer a descrição do produto na língua local. Isso evita a decepção do comprador ao receber o produto e, consequentemente, um feedback negativo.
6. Ofereça diferentes opções de pagamento
Descubra o serviço de pagamento online mais utilizado na área em que você pretende atuar e ofereça soluções mais flexíveis para o consumidor concluir o pedido. Se o seu objetivo é expandir o e-commerce internacional em longo prazo, procure as empresas com soluções aplicáveis em diferentes países e moedas.
O e-commerce cross-border pode ser um modelo de negócio desafiador, mas com alto potencial de lucratividade quando bem executado.
Você está convencido sobre as oportunidades do comércio eletrônico internacional? Quais seriam os maiores desafios a serem superados para a expansão da sua loja virtual? Participe da conversa nos comentários.
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