Se faltava algo para colocar o pé no acelerador, considere esse artigo como o sinal que precisava. Muito antes da crise imposta pelo novo coronavírus, o mercado de calçados já enfrentava grandes desafios. Alguns eram internos e outros de natureza política e econômica (são tantos que mereceriam um artigo somente para eles). Entretanto, como em todo mercado, alguns calçadistas sempre se destacaram. E não é muito difícil encontrar uma resposta que explique o sucesso deles mesmo em meio a crise: um trabalho de construção de marca agressivo que só pode ser comparado a um igualmente agressivo trabalho de vendas, especialmente no ambiente online.
Essa postura já rendia bons resultados antes e é natural que agora seja o alicerce sobre o qual muitas marcas estão conseguindo sobreviver — e até crescer — durante este “novo normal”. Quem se dedicou à construção de bases sólidas de marca de atuação no ambiente digital antes da pandemia está sendo capaz de se movimentar de maneira muito mais eficiente e ágil. Afinal, já contava com expertise e estrutura para escalonar o seu negócio online. Algumas marcas que atuam forte com branding e performance tiveram crescimentos nos seus canais online entre 50% a 200% desde março. E estou falando de um crescimento considerável de cerca de 50 a 100 % a.a. nos últimos 5 anos.
Para mim, estes números têm explicações bem claras. A primeira delas diz respeito à preparação do terreno. Como já mencionei, quem já tem experiência, passou pela fase de aprendizado e possui uma comunicação consolidada e estrutura conseguiu se movimentar muito mais rapidamente agora. O segundo motivo, decorrente do primeiro, é que partindo de uma base já consolidadas de marketing digital e um e-commerce com bom fraturamento, estas marcas não perderam tempo em aprovar e executar novas estratégias — algumas dessas já prontas há algum tempo, esperando aprovação.
Projetos que há anos rondavam conversas entre os nossos profissionais e gestores, como plataformas de venda digitais para lojistas, finalmente saíram do papel nesses dois meses. E o terceiro motivo diz respeito aos investimentos. Não digo sobre a capacidade financeira, mas sim a agilidade em aprovar verbas e estratégias para o digital nesse momento de crise. No jogo online e, em especial agora, tempo é literalmente dinheiro.
Apesar de tudo que acabei de listar parecer evidente, o mercado calçadista ainda continua distante do e-commerce e de estratégias online mais orientadas a agradar multimarcas e representantes do que de fato serem ferramentas eficiente e lucrativas. É como se existisse uma espécie de regra não dita no mercado de que construir marca, agradar lojistas e vender online fossem excludentes, como se as empresas pudessem executar somente um por mês. Obviamente não é verdade.
Acredito sempre em unir construção de marca aos resultados, e vice-versa. Isso significa, na prática, sempre buscar orientar ações de marca para que tenham resultados mensuráveis e claros. E, por sua vez, as ações de venda devem ser sempre capazes de também construir a marca dos clientes, não somente vender. Parece óbvio, certo? Não é.
Recentemente ganhamos como cliente um portal de produtos para cabelo de uma multinacional com sede em São Paulo — era atendida previamente por uma “agência de performance”. Em questão de um mês conseguimos bater as suas metas pela primeira desde o lançamento da loja online. Como? Ajustando não somente os investimentos de mídia, mas principalmente a mensagem que chega para os consumidores. Um equilíbrio entre marca e performance que já soma um crescimento 8 vezes superior ao faturamento do ano passado.
Em outras palavras, ter um e-commerce é parte de um todo. É necessário ter táticas digitais e offline adequadas e gerar valor e propósito em cada par vendido. E, sim, todas as marcas calçadistas já deveriam estar muito avançadas, mas não há motivo para pessimismo. No ambiente digital, começar antes é melhor que depois, claro. Mas, como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”. O momento certo era antes, mas também é agora.