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O Brasil pode ser hub digital ou apenas consumidor de tecnologia?

Por: Carlos Eduardo Sedeh

Carlos Eduardo Sedeh é CEO da SAMM e Vice‑Presidente Executivo da Telcomp. Economista pela FAAP, com MBA pela FGV, lidera a empresa com mais de 20 anos de experiência em finanças, inovação e telecom.

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O Brasil deve receber cerca de R$ 258 bilhões em investimentos em data centers e nuvem até 2027, de acordo com estudo da IBANET/Demarest. O volume é significativo e coloca o país em destaque na América Latina, mas não garante, por si só, a liderança regional em infraestrutura digital. O risco é claro: transformar capital em ativos físicos, sem necessariamente gerar vantagem competitiva para empresas e para a economia.

Corredor tecnológico com servidores organizados e luz branca intensa.
Imagem gerada por IA.

Hoje, a América Latina representa menos de 5% da capacidade global de data centers, segundo a Synergy Research. Nos Estados Unidos, apenas em 2024, o setor de cloud computing superou US$ 50 bilhões em investimentos anuais. A comparação revela uma lacuna: não basta ao Brasil aumentar a oferta de infraestrutura, é preciso decidir como utilizá-la de forma estratégica.

Infraestrutura crítica não é mais apenas suporte de TI. Ela se tornou fator de resiliência e de diferenciação. O Uptime Institute aponta que 70% das falhas de data centers têm impacto financeiro direto, e a ITIC estima perdas de entre US$ 1 milhão e mais de US$ 5 milhões por hora de downtime em setores críticos.

Em termos práticos: um banco pode perder milhões em transações em minutos de indisponibilidade; um e-commerce arrisca comprometer vendas em datas de pico; uma indústria 4.0 pode ver sua linha de produção parar. A falta de continuidade digital deixou de ser problema técnico e se tornou risco de receita, reputação e competitividade.

Desafios estruturais que o Brasil precisa enfrentar

Para que os investimentos previstos se traduzam em liderança regional, o Brasil precisa enfrentar alguns desafios estruturais:

– Energia: operações digitais consomem intensamente e pressionam a necessidade de fontes renováveis e confiáveis.
Segurança cibernética: relatórios da Fortinet mostram o Brasil como líder em ataques na América Latina em 2025, com 314,8 bilhões de atividades maliciosas detectadas só no 1º semestre.
– Talentos: a formação de profissionais qualificados ainda não acompanha a velocidade da expansão.
– Governança: em muitas empresas, infraestrutura digital ainda é tratada como custo de tecnologia, e não como ativo estratégico.

O papel da liderança e a janela de oportunidade

É nesse ponto que a liderança empresarial torna-se decisiva. CEOs, CFOs e conselhos precisam incluir a resiliência digital na pauta estratégica. Não se trata apenas de acompanhar tendências tecnológicas, mas de proteger margens, receita e futuro em setores cada vez mais pressionados por velocidade e competitividade.

O Brasil está diante de uma oportunidade rara: unir escala de mercado, fluxo de investimentos e capacidade de inovação. Mas a janela não ficará aberta por muito tempo. Se o país limitar-se a receber infraestrutura sem convertê-la em diferencial estratégico, arrisca consolidar-se apenas como consumidor de tecnologia, em vez de liderar a transformação digital da região.

Aprendemos que infraestrutura não é fim em si mesma, mas o que garante continuidade, resiliência e confiança para empresas em setores que não podem parar – de bancos a hospitais, do varejo à energia. Esse é o papel que os data centers assumem no futuro dos negócios: não apenas sustentar operações, mas se tornar um diferencial competitivo para o Brasil na economia digital. Essa visão se apoia em mais de 26 anos de experiência, com cinco data centers próprios e outros 40 interligados, conectados por uma rede nacional de 40 mil km de fibra óptica.