A crescente do e-commerce que teve início em 2020 não tem data para terminar. O setor continua comemorando os bons resultados e, infelizmente, eles estão atrelados à crise pandêmica que se instalou de forma global. Por causa das variantes que não dão tréguas à população, as pessoas continuam evitando sair de casa e dão clara preferência para o comércio online, mantendo-se afastadas dos locais com aglomeração.
Uma das grandes oportunidades são os novos usuários, que conheceram o e-commerce ao longo da pandemia e tendem a permanecer, se tornando clientes assíduos dos meios digitais. Se analisarmos por região, o Sudeste ainda se destaca em volumes de compras. Porém, as demais regiões têm apresentado crescimento significativo também, sobretudo o Nordeste. Atualmente, ele ocupa a segunda posição em total de vendas no e-commerce, concentrando 14,6% das que foram realizadas entre outubro e dezembro de 2020. A região Sul segue próxima, com 14,1% do total de pedidos realizados. Ou seja, há muitas oportunidades fora do eixo Rio-São Paulo.
Outro fator decisivo para a conquista de novos consumidores é a segurança na hora da compra. Os novos consumidores que vêm descobrindo agora as facilidades do comércio digital ainda têm receio de informar dados pessoais para finalizar as compras, especialmente número de cartão e chave de segurança, requeridos no momento do checkout. Isso, muitas vezes, faz com que não arrisquem comprar em sites novos, dando preferência às lojas já conhecidas. Quanto mais as empresas investirem em segurança e transmitirem firmeza aos consumidores, maiores as chances de capturar clientes.
Sem dúvidas, o avanço tecnológico está proporcionando maior integração das pessoas ao varejo online. Por isso, além de aprimorar a segurança, é fundamental estar atento às tecnologias capazes de aproximar a experiência de compra online e offline para atrair mais clientes para o universo online e vencer a retração. Vejo como tendência a inclusão do metaverso no varejo eletrônico, por meio de ferramentas de realidade aumentada, por exemplo.
Embora o e-commerce seja um dos setores mais promissores para os próximos anos, não basta surfar a onda. É essencial pensar em formas de fazer melhor e mostrar as potencialidades da compra online. Em tempos de crise, a recomendação é se abrir para novas tecnologias e não ter medo de abrir a cabeça para novas possibilidades. Afinal, é muito melhor jogar no ataque do que na defesa.
Um desafio que precisa ser ressaltado é o recuo do poder de compra. Isso já foi percebido pelo setor no Natal e na Black Friday, quando as intenções de consumo foram derrubadas pela inflação de 10% este ano, somadas aos juros e ao desemprego elevado.
Uma pesquisa da plataforma V+ do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), realizada por meio de algoritmos de inteligência artificial e análise semântica, analisou 28 produtos de diferentes categorias. Neste caso, entraram por exemplo alimentos e enfeites natalinos, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, móveis, itens de informática, telefone celular e artigos de vestuário. Por meio dessas ferramentas, foram extraídos dados de 100 mil manifestações espontâneas em redes sociais e o resultado foi impressionante. Entre as categorias pesquisadas, apenas cinco apresentaram aumento na intenção de compra em relação ao Natal de 2020. São elas micro-ondas (3%), drones (31,2%), jogos eletrônicos (42%), consoles de videogames (70%) e panelas elétricas (270%).
Os dados coletados indicam recuo médio de 24% na intenção de compra para os 28 itens. Alguns tiveram registros de queda de até 40% na intenção de consumo, caso smartphones, fones de ouvido (38,2%), bicicletas (33,8%), TVs (30,1%) e tablets (29,5%) — o que representa a maior retração observada na pesquisa de intenção de consumo de Natal desde 2016, equivalente a 7%.
A principal questão para os varejistas online é como manter as margens em um ano cuja perspectiva econômica não é muito diferente, com altos custos para os e-commerces e sem mencionar a escassez de matéria prima, que deve se repetir.
Apesar das preocupações, os ventos continuam a soprar a nosso favor. É apenas uma questão de saber aproveitar e maximizar as oportunidades.