default

Por que a IA vai engolir o dropshipping (e quem não correr junto)?

default
Por: Bruno Brito

CEO da Empreender

Co-fundador da Empreender, empresa que desenvolveu o Dropi (maior plataforma de dropshipping da América Latina) e mais de 20 apps como SAK, Rastreio.net, Lily Reviews e Landing Page.

Nos bastidores do e-commerce global, uma revolução silenciosa está em curso, e ela atende pelo nome de inteligência artificial. Enquanto muitos empreendedores seguem repetindo a fórmula de “loja virtual + produto da China + anúncio no Instagram”, a IA já está reescrevendo as regras do dropshipping. E ela não vai esperar ninguém.

default
Imagem: Reprodução.

Mais do que uma tendência tecnológica, a IA se tornou uma força estrutural, capaz de transformar cada ponto da operação comercial – da escolha de produto ao atendimento, do criativo ao pós-venda.

Para quem vive de improviso, o cenário é preocupante. Para quem entende o jogo, é o maior atalho para escalar com sucesso.

Um mercado em expansão – e sob nova lógica

O dropshipping segue crescendo. De acordo com a Grand View Research, o mercado global movimentou cerca de US$ 365,6 bilhões em 2024, com expectativa de atingir impressionantes US$ 1,25 trilhão até 2030.

A alta é explicada pelo baixo investimento inicial, pela facilidade de conexão com marketplaces e pela consolidação do hábito de compra em plataformas globais.

Mas ao mesmo tempo em que cresce, o setor se torna mais competitivo. Milhares de novos players entram no jogo todos os meses – muitos usando as mesmas estratégias, os mesmos produtos e os mesmos anúncios.

Resultado? Saturação. E nesse cenário, ter um diferencial deixou de ser vantagem – virou obrigação. A IA não mata o dropshipping, mas redefine quem consegue operar nele com eficiência.

O improviso operacional, que por anos sustentou boa parte do setor, começa a perder espaço para decisões guiadas por dados e automação.

O novo cérebro do e-commerce: IA no centro da operação

Segundo dados da Statista, 72% das empresas globais já usam IA em pelo menos uma função de negócios, ante 55% no ano anterior. No e-commerce, o crescimento é ainda mais expressivo.

De acordo com a Precedence Research, o mercado global de IA generativa aplicada ao e-commerce foi avaliado em US$ 833,11 milhões em 2024 e deve atingir US$ 3,52 bilhões até 2034, com uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 15,5% ao longo da década.

No dropshipping, isso muda tudo. O que antes dependia de achismo e intuição agora é orquestrado por algoritmos, pois:

Produtos promissores são encontrados por análise preditiva;
– Criativos são gerados por IA generativa;
– Públicos são segmentados por comportamento, não por suposição;
– Preços, descrições, testes A/B e até suporte são automatizados.

É o fim do improviso e o início do dropshipping de verdade: técnico, estratégico e baseado em dados.

O mito do produto campeão está ruindo – e o algoritmo já sabe disso

Durante anos, encontrar o “produto campeão” foi o Santo Graal do dropshipping. Um único item, descoberto antes dos concorrentes, capaz de viralizar, sustentar uma loja inteira e bancar meses de tráfego pago.

Era o tempo dos “achados secretos do AliExpress” e das promessas de enriquecimento em vídeos no YouTube. E por um tempo, funcionou. Mas essa lógica – baseada na ideia de escassez de informação – está com os dias contados.

Segundo o relatório TikTok What’s Next 2024, a plataforma já utiliza inteligência artificial para detectar padrões emergentes de consumo antes mesmo que eles se consolidem.

O sistema analisa uma combinação de engajamento, buscas, comentários e até legendas para antecipar quais produtos devem entrar em curva de interesse. O fenômeno foi batizado de Smart Commerce: um tipo de consumo em que o algoritmo prevê o desejo antes de o usuário expressá-lo.

E o TikTok está longe de ser o único nesse movimento. Ferramentas de escaneamento em tempo real, alimentadas por machine learning, varrem marketplaces, redes sociais e canais de busca para identificar, quase instantaneamente, produtos que começam a ganhar tração.

Em outras palavras: aquele item “secreto”, recém-descoberto, provavelmente já virou tendência e está sendo anunciado em dezenas, senão centenas, de lojas.

– Com vídeos criados por IA;
– Com descrições otimizadas por IA;
– Com preços ajustados por IA.

Enquanto isso, quem ainda opera no modelo manual está brigando com o criativo no Canva. No novo cenário, a vantagem competitiva não está mais em encontrar o produto antes de todo mundo, mas em interpretar os dados certos, testar com agilidade e escalar com precisão, usando inteligência artificial como base.

A nova lógica do jogo não é mais encontrar o “produto mágico”, mas montar o sistema proativo que reage antes da concorrência.

Experiência genérica não convence mais ninguém

O consumidor moderno não quer apenas bons preços – ele espera relevância, fluidez e personalização real. Por isso, as grandes plataformas estão usando IA, não apenas para entregar isso ao cliente final, mas também para capacitar os vendedores dentro de seus ecossistemas.

A Amazon, por exemplo, vem testando o recurso Interests, que permite ao usuário descrever em linguagem natural o que está buscando, como “presentes para quem ama café” ou “produtos sustentáveis para casa pequena”.

A IA interpreta essas intenções e entrega recomendações personalizadas, que se atualizam automaticamente conforme o comportamento do cliente evolui. O consumidor deixa de buscar; a IA entrega antes.

Do outro lado do mundo, o AliExpress também aposta pesado na IA, e o uso vai além da interface com o usuário. O gigante chinês está integrando ferramentas generativas em sua plataforma para ajudar comerciantes com:

– Tradução automática
– Criação de conteúdo
– Atendimento
– Gestão de devoluções

Além disso, o Alibaba, responsável pelo AliExpress, entrou forte na corrida da IA, lançando o Qwen 2.5, um modelo de linguagem projetado para competir com o ChatGPT e o DeepSeek.

Enquanto isso, muitas lojas de dropshipping ainda oferecem anúncios genéricos e vitrines idênticas para públicos distintos. A consequência? Baixa conversão, rejeição do consumidor e perda de competitividade.

Em um cenário no qual o cliente espera ser reconhecido e compreendido, personalização não é mais diferencial – é o novo padrão. Ignorar isso é vender mal. E vender mal, nesse jogo, é o primeiro passo para sair dele.

Quem sobreviverá nesse novo cenário?

O dropshipping não está morrendo, mas está evoluindo. Para prosperar nesse ambiente transformado pela IA, será essencial:​

– Construir uma marca com identidade própria, utilizando IA para contar histórias envolventes, não apenas para vender produtos;
– Automatizar operações com processos baseados em dados, reduzindo a dependência de suposições e intuições;
– Especializar-se em IA, tratando as ferramentas como extensões da inteligência estratégica, não apenas como novidades tecnológicas.

O tempo do “ganhar dinheiro dormindo” acabou. O novo dropshipping é técnico, veloz, orientado por dados e alimentado por IA. Quem entender isso cedo ainda pode crescer. Quem não entender será engolido – e nem vai perceber quando isso aconteceu.

Afinal, a era do dropshipping amador, movido por vídeos “pegadinha”, legendas genéricas e “achismo” está com os dias contados. Com a IA ocupando cada ponto da jornada – da descoberta de produtos à gestão de anúncios -, só há espaço para quem entende que vender exige estratégia, automação e diferenciação.