Quem acompanha a história do comércio eletrônico no Brasil certamente se recorda do papel fundamental desempenhado pelos Correios no seu desenvolvimento, especialmente por volta dos anos 2000, com o serviço e-Sedex.
Os Correios foram essenciais ao ajudar as empresas a se desenvolverem no e-commerce, oferecendo serviços de entrega confiáveis em todos os municípios brasileiros. Através da sua infraestrutura logística, as empresas puderam expandir suas operações e alcançar um público maior, impulsionando assim o crescimento do e-commerce no Brasil.
Acredito que ainda hoje são os Correios que entregam encomendas do e-commerce em 100% dos municípios brasileiros, enquanto as demais transportadoras realizam entregas de forma regional, por redespacho, ou apenas em regiões lucrativas com um volume considerável de encomendas a serem entregues.”
Foi por meio do serviço e-Sedex dos Correios que varejistas de todos os tamanhos puderam iniciar suas operações e alcançar clientes em todo o território nacional. Ele foi criado para oferecer um valor de frete mais acessível do que o serviço tradicional de Sedex. Ele possuía uma tabela única com valores decrescentes de acordo com a quantidade de volumes.
Em junho de 2017, o serviço foi descontinuado, prejudicando os pequenos e médios varejistas que dependiam do e-Sedex para a maioria de suas entregas. Isso os obrigou a firmar contratos com outras transportadoras, que muitas vezes cobravam valores acima do mercado devido ao baixo volume de entregas em comparação com as grandes empresas. No entanto, nesta época, os serviços de entrega já estavam mais consolidados, com diversas transportadoras, inclusive, oferecendo entregas no mesmo dia através de serviços de Moto-Entrega. Assim como o mercado de e-commerce se consolidou com milhares de empresas vendendo pela internet, houve também uma adequação no meio logístico, com o surgimento de novas transportadoras e Gateways de frete para reduzir a complexidade logística, como a empresa Intelipost.
É importante destacar que muitas transportadoras ainda utilizam os Correios para realizar entregas em áreas não atendidas por suas frotas próprias, ou terceirizadas por redespacho, além de aproveitarem o serviço de logística reversa oferecido pelos Correios.”
Fazendo um paralelo, a Amazon (nos EUA) adotou uma abordagem estratégica ao começar a desenvolver sua própria infraestrutura logística, adquirindo aviões, caminhões e vans para realizar entregas diretas em regiões de alto volume, enquanto terceiriza as entregas para regiões com menor demanda. No Brasil, observamos um movimento semelhante com o Mercado Livre.
No início, com os valores de frete mais baixos, inclusive com o e-Sedex, a modalidade de Frete Grátis tinha uma participação pequena nos custos do e-commerce, auxiliando como uma estratégia para atrair clientes. Com o passar do tempo, devido aos constantes aumentos nas tarifas de transporte, passou a resultar em custos elevados para as operações de e-commerce, reduzindo a Margem Operacional. Resumindo, o custo do frete grátis passou de uma vantagem competitiva para um desafio que afeta a rentabilidade do negócio.
Com a chegada da Amazon e dos gigantes chineses no mercado brasileiro, seja através da venda no Brasil ou através de importações transfronteiriças (cross border), o volume de encomendas para entrega em domicílio aumentou consideravelmente. Isto pode estar fazendo o Governo Brasileiro pensar na regulamentação do mercado e ampliação da participação dos Correios nas entregas do E-Commerce, incluindo a realização de entregas agendadas e de produtos proibidos por lei.
Concluindo, seria salutar para o mercado se o governo evitasse aumentar os impostos e taxas para as transportadoras e empresas de logística, adotando políticas favoráveis ao mercado. Além disso, seria importante que o governo oferecesse um serviço competitivo, mais rápido, incluindo entregas no mesmo dia (same day delivery), com custos reduzidos tanto para entrega quanto para o serviço de fulfillment. Seria muito bom também expandir esse serviço.