São 60 milhões de pedidos mensais, informa o Ifood. Concentrados nos horários de almoço e jantar, vindos de consumidores famintos que contam os minutos para receber suas refeições. Parece que ouço o barulho das motocicletas no trânsito já caótico da maioria das grandes metrópoles. O Ifood é só uma das redes que teve crescimento de 150% no último ano e não é nenhuma novidade que a pandemia impulsionou os apps de delivery. Mas a informação serve para iniciar uma reflexão sobre os impactos em escala que o novo comportamento do consumidor representa: uma corrida sem precedentes por soluções logísticas para todas as cadeias de abastecimento.
Num panorama global de transações internacionais, assistimos à crise dos contêineres, que, já escassos diante das demandas excepcionais, ainda ficaram parados nos portos, terminais e armazéns, porque a liberação das mercadorias tornou-se mais lenta com as medidas sanitárias. Mudanças de rotas, gargalos logísticos, e o preço do frete marítimo aumentou cinco vezes no último ano, causando um verdadeiro rebuliço no comércio global. A OMC (Organização Mundial do Comércio) chegou a prever redução de até 32% nas operações. Soluções logísticas que evitem mais problemas viraram itens importantes.
Globais, regionais ou domésticas, as cadeias de abastecimento tiveram que ser revistas e lições muito valiosas estão sendo tiradas dessa experiência conturbada da pandemia. Valiosas sobretudo porque não há perspectiva de retorno à situação anterior: essa é a primeira constatação que não deve ser ignorada, por mais que desejemos o fim das contaminações e a volta dos nossos encontros, a liberdade, os abraços e sorrisos à mostra. A pandemia passará, mas os novos hábitos ficarão: barreiras foram rompidas e tendências foram aceleradas.
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Um levantamento da RankMyApp mostra que em março de 2020, logo que a pandemia foi anunciada, houve aumento de 30% no número de downloads de aplicativos por delivery em comparação com o mesmo período do ano anterior. Nota-se que não se trata de um usuário aumentar seus pedidos, mas de novos usuários, muitos deles aqueles resistentes ao uso de apps.
Outra pesquisa, da Accenture, confirma: usuários de comércio eletrônico pouco frequentes (aqueles que usavam canais online para menos de 25% das suas compras) aumentaram em 343% seus pedidos digitais de produtos tão diversos como alimentos, decoração, moda ou artigos de luxo. Simplesmente, nos acostumamos com as compras online, com o delivery de comida, com o banco digital, com telemedicina, com as aulas online, videoconferências etc. Qual é a chance de abandonarmos tudo isso?
Se não apostamos nessa possibilidade, vamos, então, às tendências que se tornaram realidade: tecnologia, tecnologia, tecnologia; e, ainda, diversificação de parceiros (dual sourcing) para minimização de riscos; processos mais diretos, para evitar disrupção em cadeias longas; fusões e aquisições, para ampliar a capilaridade das empresas; e mais colaboração e parcerias entre negócios, para maior variedade de soluções.
Quando repito tecnologia não é à toa: automação, digitalização e informatização têm ocorrido de forma avassaladora. A tecnologia foi essencial para a gestão dos armazéns e controle de estoques, no período pandêmico. Também permite o planejamento eficiente das rotas, com otimização de espaços em veículos e redução de paradas. E tem possibilitado o rastreamento de produtos minuto a minuto, do depósito às mãos do consumidor.
E, na entrega de última milha, a mais alta despesa logística, a tecnologia e as parcerias têm apresentado uma série de inovações criativas. Algumas ainda em teste, como o uso de veículos autônomos (que, segundo pesquisas, podem reduzir em até 40% os custos da entrega de última milha) e os drones – ou melhor, os veículos aéreos não tripulados (VANT). Nos Estados Unidos, estudo da Business Insider Intelligence prevê que entregas feitas por VANTs terão um aumento de 67% nos próximos dois anos.
Bem mais consolidados que estas duas inovações, estão os smart lockers, hoje reconhecidos entre os melhores parceiros do delivery last mile. Além de reduzirem o custo do deslocamento até o consumidor final, já estão sendo usados para solucionar a logística reversa – o que tem sido uma grande vantagem pois o número de devoluções e trocas é significativo.
São inovações que, de forma integrada, redesenham e otimizam a logística de entrega.
Se a pandemia representou o estresse e a pressão sobre as cadeias de suprimento, ela acelerou processos e desencadeou uma onda de parcerias um tanto profícuas. Quando vários atores se reúnem para uma solução, os avanços acontecem.