Mesmo em meio a pandemia, a NFR2021 (National Retail Federation) ocorreu em 2021, mas dessa vez de forma virtual. Em Junho, haverá uma 2ª versão da feira, online também. O Javits Center, centro de convenções em que a feira é realizada, tradicionalmente em janeiro de cada ano, está sendo usado como local para distribuição de vacinas contra a Covid-19 para os moradores de Nova York e provavelmente não estará disponível durante a primeira semana de junho.
Live Commerce foi um dos assuntos mais comentados na feira. A pandemia fez com o que as marcas tivessem que se reinventar e o digital foi a plataforma perfeita para isso. Há estudos e mais estudos que mostram o crescimento das vendas online em 2020, muito devido a pandemia — que se Deus quiser estamos nos livrando nos próximos meses, graças às vacinas que já estão sendo aplicadas no Brasil. Mais uma crise, mas juntos, vamos sair dessa. (Juntos não é aglomerado, mas sim, cada um fazendo a sua parte por um bem comum: a vida!).
Segundo um estudo de Mike George, presidente da NRF, resiliência será fundamental para o varejo. A partir de agora, as pessoas têm mecanismos diferentes na decisão de compra. As marcas precisarão se adaptar a um consumidor um pouco mais preocupado com questões existenciais e mais atento às emoções, pois o estilo de vida mudou.
Para vender, o varejo terá que entregar produtos e serviços que façam sentido neste estilo de vida que considera o bem-estar físico e mental das pessoas e de quem elas amam. Ou seja, não mais apenas focar em uma decisão de compra que muitas vezes acontecia quase que de forma automática em muitos casos.
O que é o Live Commerce?
O Live Commerce é uma experiência de compra em que as vendas são feitas online por transmissão ao vivo (live streaming) por meio das redes sociais ou plataformas especializadas. Trata-se da junção de algumas características da transmissão ao vivo que encontramos na Internet com o universo das vendas, em que existe uma comunicação entre apresentador usuários.
Como exemplos de ações bem sucedidas mencionadas na NFR 2021, foram citadas as live commerces, que são programas ao vivo, geralmente transmitidos via redes sociais. Elas trazem um tipo diferente de interação com os consumidores, ao mesmo tempo em que produtos e serviços são promovidos com preços diferenciados e outras oportunidades para quem decidir pela compra e realizá-la naquele exato momento.
O que está sendo feito pelo mundo?
Peguei um case interessante passado na NRF2021 de uma das mais famosas marcas do mundo. Segundo o diretor administrativo da Moschino, Stefano Secchi, “hoje em dia, quando você fala sobre inovação, você precisa falar sobre digital. As duas palavras andam juntas. Neste ano desafiador de 2020, a Moschino prestou muita atenção a essas duas questões”. Para lançar a coleção Primavera/Verão de 2021, a marca promoveu um show digital com marionetes e explorou a realidade aumentada.
O que mostra que o Live Commerce não é apenas um(a) apresentador(a) mostrando produtos em uma live, mas sim, inovações que o vídeo permite fazer e para isso, sugiro o cinema como o grande benchmark.
Amazon, que nos EUA já oferece um formato de demonstrações de produto ao vivo em seu site. O mesmo vale ao Facebook, que tem uma solução em mosaico com a tag de produtos no Instagram, e a recém-anunciada carteira de pagamentos via WhatsApp. O Live Commerce não fica apenas no YouTube e na loja online da marca. Vai além. É um projeto multicanal, que pode, sem dúvida, ter seu desfecho na loja física por exemplo. Ou ser transmitido da loja física. Por que não?
E o Live Commerce no Brasil?
Riachuelo, Farm, Schutz, Arezzo, Renner, Chilli Beans, entre outras marcas entraram no páreo, com ações menores e eventos pontuais, sem se comprometerem com uma grade de programação contínua.
A fabricante de chocolates brasileira Dengo foi uma das primeiras a adotar o streaming como alternativa ao fechamento das lojas. Preocupada com o faturamento no Dia das Mães, a empresa decidiu que era hora de inovar. Foi assim que seus vendedores começaram a fazer lives contínuas para “receber” o cliente no espaço virtual e tirar todas as suas dúvidas em relação aos produtos.
A rede de franquias de óculos Chilli Beans também investiu no novo modelo. Com nomes como Isis Valverde, Marco Luque e Alok, a empresa promoveu o evento Chilli Beans Live Circus no começo de agosto para lançar sua nova coleção assinada pelo estilista Alexandre Herchcovitch. Para a marca, além de impulsionar as vendas online, a iniciativa foi uma tentativa de atrair mais consumidores para as lojas físicas com descontos exclusivos.
Funciona apenas para moda?
Claro que não. Talvez as marcas de moda tenham sido as primeiras a criar ações de Live Commerce, mas nem só moda é vendida na Internet. Me lembro em 2006, em uma grande agência digital que eu atuava, nos sentamos para bolar uma ideia para uma das mais importantes marcas de eletroeletrônicos do mundo.
A ideia era criar uma casa em que um famoso arquiteto iria decorar, onde os produtos, claro, seriam da marca. Seria criado um vídeo em que as pessoas poderiam direcionar o arquiteto às áreas da casa e ele iria apresentando cada um dos cômodos. Neste caso, usando os produtos com link para um dos grandes e-commerces (na época a marca não tinha e-commerce próprio). Já era uma ideia de Live Commerce, mas sem esse nome. Uma pena que a agência perdeu a conta antes de apresentarmos a ideia, coisas de mercado.
É complexo montar?
A ideia é boa, mas não pense que é pegar uma influenciadora, ligar o celular e ela começa a mostrar os produtos, colocando um QR Code neles para levar para a loja. O Live Commerce necessita de uma grande produção. Não digo apenas de cenário, mas de integração de diversas tecnologias. Além disso, Live Commerce tem muito conteúdo e não somente venda, por exemplo. A palavra curadoria é fundamental para o sucesso da ação, além de ensaios e muitos testes para que na hora do evento esteja tudo perfeito. Afinal, o Live Commerce vem para encantar o cliente antes de vender para ele.
Devo fazer?
Não importa se o seu e-commerce é micro, pequeno, médio, grande ou gigante. Sim! Faça! Não é uma onda a ser surfada que em breve vai ser desgastante, como as inúmeras lives que vimos no ano passado. O Live Commerce é vendas, sem dúvida, mas é conteúdo e curadoria antes. É encantar o cliente antes de enfiar uma porrada de produto goela abaixo. Pense nisso!