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Desconfiança e conveniência moldam o novo consumidor digital, diz estudo

Por: Lucas Kina

Jornalista e produtor de Podcasts no E-Commerce Brasil

O consumidor brasileiro entrou em uma nova fase de maturidade digital. Mais exigente, criterioso e consciente, ele já não se impressiona apenas com promoções e agilidade, mas busca segurança, personalização e experiências fluidas. É o que mostra o estudo E-commerce Trends 2026, realizado pela Octadesk em parceria com o Opinion Box.

Desconfiança e conveniência moldam o novo consumidor digital, diz estudo
(Imagem: Envato)

Segundo a pesquisa, 88% dos entrevistados compram online ao menos uma vez por mês, e um terço faz compras semanais ou até mais frequentes. O comportamento se consolida — 59% afirmam que pretendem comprar ainda mais pela internet nos próximos 12 meses, enquanto apenas 3% planejam reduzir o ritmo.

Veja, abaixo, algumas das descobertas trazidas pelo relatório. Ao todo, mais de dois mil consumidores de todas as regiões do país foram ouvidos.

Confiança como novo diferencial competitivo

A segurança digital se tornou o maior fator de decisão. Nove em cada dez consumidores já deixaram de concluir uma compra por medo de golpe, e mais da metade (55%) afirma ter sido vítima de algum tipo de fraude. Os principais problemas citados envolvem não receber o produto, clonagem de cartão e compras em lojas inexistentes.

Outro fator que afeta a conversão é a percepção de risco, já que 64% deixaram de informar dados pessoais ou de pagamento por receio de exposição. A ausência de avaliações, aparência amadora do site e falta de presença em redes sociais estão entre os fatores que mais levantam suspeita.

Jornada mais exigente e integrada

O consumidor de 2026 não separa mais o físico do digital, tendo em vista que 85% já pesquisaram em loja física e compraram online, enquanto 71% fizeram o caminho inverso. Com as regras sendo ditas pela conveniência, usuários já abandonaram uma compra por conta do valor do frete (93%) ou por prazos de entrega considerados longos (85%).

O celular é o principal dispositivo de compra — 78% finalizam pedidos pelo smartphone —, e o WhatsApp ultrapassou o chat online como canal preferido de atendimento (37%). A expectativa é de respostas imediatas, inclusive fora do horário comercial.

Mesmo com o avanço da automação, a experiência com inteligência artificial (IA) ainda divide opiniões. Cerca de 86% dos consumidores já foram atendidos por chatbots, mas quase metade (45%) avaliou o atendimento como negativo, enquanto apenas 22% o consideraram positivo. A percepção é de que a tecnologia ainda falha em entender as dúvidas e resolver problemas com rapidez.

Pagamentos e praticidade

O estudo mostra que o cartão de crédito parcelado segue líder absoluto nas compras online, utilizado por 53% dos consumidores, seguido pelo Pix (22%). Na sequência aparecem o cartão à vista (15%) e as carteiras digitais, ainda com baixa penetração.

Apesar da variedade de meios disponíveis, o relatório indica que o consumidor tende a escolher pela confiança e familiaridade, ou seja, o caminho que já conhece e considera seguro. Soluções emergentes, como o WhatsApp Pay e o reconhecimento facial, ainda são vistas com cautela pela maioria dos entrevistados.

Redes sociais, IA e jornada de decisão

As redes sociais seguem em ascensão como canais de descoberta. Ao todo, 71% dos consumidores já compraram algo após ver um anúncio e quase metade realizou uma compra a partir da indicação de influenciadores digitais, A proporção chega a 51% entre os mais jovens.

A IA também começa a influenciar o processo, com 26% dos entrevistados afirmando que usam ferramentas como ChatGPT ou Gemini para pesquisar produtos, e 42% se dizendo mais propensos a comprar diante de vitrines personalizadas por IA. Ainda assim, a confiança no uso da tecnologia segue moderada e apenas 6% afirmam confiar totalmente em recomendações feitas por algoritmos.

Reviews valem mais que campanhas

As avaliações se consolidam como principal fator de validação. Enquanto 91% dos consumidores já desistiram de comprar após ler um comentário negativo, 85% deixaram de concluir a compra com medo de o produto não servir ou não ser como descrito.

A reputação online e a resposta das marcas aos feedbacks se tornaram, portanto, diferenciais diretos de conversão.

Compras internacionais

Por fim, o estudo também traz um panorama sobre o consumo em plataformas que vendem produtos de fora do país. Ao todo, 59% dos brasileiros já compraram em sites internacionais, principalmente Shopee (73%), Shein (60%) e AliExpress (50%), mas 83% ainda preferem comprar em sites nacionais.

A transparência de preços aparece como um dos principais desafios. Ao todo, 46% dos consumidores desistiram de ficar com produtos após serem taxados na entrega, impacto direto das novas regras de importação no comportamento de compra.