Um estudo recente do Pacto Global da ONU no Brasil, em parceria com a Estilingue, mostrou alguns dados interessantes sobre a agenda ESG nas empresas brasileiras. Entre os resultados do questionário, 78,4% das empresas têm incorporado o ESG na elaboração de estratégias de negócio. Em apresentação no VTEX Day, Rachel Maia, presidente do Conselho Administrativo da ONU no Brasil, falou um pouco sobre este cenário, inclusive com dados inéditos ao E-Commerce Brasil (como você lê em entrevista exclusiva mais abaixo).
No início de sua apresentação, Rachel destacou os desafios que as marcas estão encontrando para tornar as práticas de ESG mais claras. “É importante envolver consumidor, parceiro e afins na estratégia ESG da empresa. O escopo 3 (emissões que a empresa é diretamente responsável), por exemplo, também envolve o fornecedor. Esse tema, aliás, faz parte de um compromisso que teremos na agenda de 2025 em Belém do Pará“.
ESG exige “teste do pescoço”
Para Rachel, os processos citados acima devem ser claros, uma vez que se trata de uma demanda onde nós, como indivíduos, precisamos “fazer o teste do pescoço” — o termo, segundo a executiva, remete ao movimento de ‘girar a cabeça em diversas direções” dentro da empresa para observar se existe diversidade. “É isso o que irá gerar pertencimento da pluralidade tão prezada”, completa.
É essa pluralidade que trará confiabilidade ao consumidor, assegura. Para tanto, recomenda fazer uma análise crítica, que inclui todos os perfis que querem vender ou transformar a empresa. “É o ESG que vai transformar o varejo. É preciso contratar uma empresa de reciclagem e zerar o desperdício, por exemplo. E posso garantir que isso irá rentabilizar o negócio”.
Muito mais do que política
Para Rachel, ESG não se trata de política, mas sim de uma filosofia de vida. “Como eu posso cobrar o próximo se eu não faço no meu convívio social e profissional?”. Ainda assim, ela salientou que o consumidor, em especial da nova geração, olha no rótulo pra ver se existe sustentabilidade.
Mais antenada sobre as questões de ESG, a nova geração, segundo ela, já busca por um desenvolvimento sustentável. “Nós somos a geração do meio, e precisamos mergulhar mais nessa transformação social. O consumidor está trocando para marcas boutique, orgânica, porque elas trabalham com esse viés de sustentabilidade. O consumidor busca propósito”.
ESG no e-commerce
Tivemos a oportunidade de conversar com Rachel a respeito do ESG no universo do e-commerce e seus desafios. A seguir, você acompanha algumas dicas e sugestões da executiva:
ECBR – Quais principais problemas a ausência das práticas ESG pode trazer no curto e no longo prazo para o negócio?
Rachel – No curto prazo pode não ser percebido o impacto, pois o foco continua só em resultado. No médio prazo, essa empresa vai entender que o consumidor que ver o propósito vs marca, e se não entrar nessa jornada, a longo prazo, a marca vai quebrar. A conta vai chegar, porque não é mais opcional não se preocupar com o enviroment (ambiental), com os impactos climáticos.
Quando eu digo impactos climáticos no e-commerce, é em sua amplitude. Ou seja, desde o lixo, da energia, do fornecedor de embalagem, bobina… Como o fornecedor produz o seu produto e te envia? A responsabilidade passa a ser coletiva, ou seja, não mais pela venda, mas por todo o ecossistema que, de alguma forma, a empresa gere venda.
O e-commerce, por exemplo, gera muita embalagem, e não tem como não ser de outra forma. Uma vez que o produto é levado até a casa do consumidor, a logística está implícita. Neste caso, é preciso se perguntar como é o processo de produção dessas embalagens no quesito ambiental. Já no sentido social, é importante saber como é o treinamento dado aos entregadores. Existe uma capacitação desses profissionais? Trata-se de uma ‘corrente de valores’, onde um é conectado ao outro. Do contrário, é impossível explicar ao mercado sobre a sustentabilidade do seu negócio.
Posso dizer que o ESG no e-commerce está mais próximo do que as pessoas imaginam. As pessoas já vivem isso, então é preciso só entender se está sendo executado de forma correta ou se precisa de adequações. Provavelmente, 99% das empresas precisam se adequar, e isso faz parte da jornada de transformação social de uma consciência para a sustentabilidade. Como eu deixo de desmatar nossas florestas? É parando de gerar produtos e materiais que agridam esse ecossistema.
É preciso observar toda a cadeia de valor, e este processo nos faz sentar e refletir: ‘o que eu estou usando hoje no meu negócio?’ Como o processo de inovação está sendo gerado no meu e-commerce para que ele seja mais rápido e engaje mais os consumidores? Os influencers que eu utilizo são razoáveis com o meu público? Eles engajam de forma sustentável?’ Tudo isso é responsabilidade da primeira pessoa do singular. Ou seja, aquela que gera receita, assim como a que está contratando — sim, o contratante tem essa responsabilidade.
Não basta contratar um influenciador ou uma influenciadora e, no final do dia, eles agirem como homofóbicos. Sua marca está ligada a isso, é o “S” do social que precisa ser visto, porque irá implicar diretamente na sua marca, no seu negócio. Antes de contratar um influenciador, é preciso saber qual a contribuição ele traz à sociedade.
ECBR – Como as governanças podem atuar no e-commerce?
Rachel – As governanças precisam trazer o ‘G’ do ESG para dentro de casa. Isso é, colocar a governança para fazer com que a sustentabilidade exista, assim como o enviroment e o social. Para tanto, é necessário criar políticas. Ou seja, o meu direito vai até onde começa o do outro. Isso são políticas, e as empresas precisam entender que existem processos, que existem políticas de diversidade, de sustentabilidade, de fornecedores contemplados com os compromissos e objetivos sustentáveis… O mote principal dessa conversa é: ‘ninguém deixa ninguém para trás’.
A pesquisa completa do Pacto da ONU Brasil pode ser baixada aqui.