A crise mundial mudou tudo, inclusive a forma de trabalhar. O problema que era deixado da porta para fora da empresa agora caminhava lado a lado com cada indivíduo. Além disso, o controle sobre o futuro das empresas já não existia, e líderes já não sabiam o que fazer com a equipe, que agora sofria de doenças além da Covid-19, como crises de burnout. Em Paris, na rede de hotéis Accor, era exatamente esse o cenário. Até que a brasileira Mariana Machado, Head of Global Culture do grupo, trouxe um novo caminho para líderes trabalharem: o do autoconhecimento.
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O programa de Mariana, que envolveu todos(as) os(as) líderes da Accor, iniciou com um projeto piloto de 20 pessoas. “Fizemos encontros com os líderes no olho do furacão da pandemia. Aos poucos conseguimos mostrar que o valor daquelas sessões não era para a empresa, mas sim às pessoas. O benefício para os negócios seria consequência da melhoria emocional das pessoas”, disse a executiva. Um dos objetivos daquele trabalho de autoconhecimento era o de as pessoas internalizarem que a mudança estava nas mão delas, e que cada uma era responsável pelo todo — ou seja, acolher as responsabilidades, sem destinar os problemas a terceiros.
Portanto, todas as sextas-feiras as pessoas tinham um momento marcado para falar sobre si, com uma cláusula de confidencialidade. “Elas conseguiram colocar para fora que estavam surtando naquele momento. Um dos encontros, aliás, era para falar sobre o sentimento que o plano de demissão acarretava nas pessoas, pois ele iria ocorrer cedo ou tarde”. Neste caso, as conversas foram tão eficazes que as próprias pessoas (8%) tiveram iniciativa de pedir demissão. “A relação com elas, porém, continua, pois a decisão partiu delas. Além disso, o custo para a empresa foi menor, assim como as pessoas passaram a identificar o que de fato estavam buscando. O conflito existe quando as relações se quebram. Ao conseguir uma fluidez na relação, tudo melhora”, afirmou.
E o autoconhecimento funcionou!
Em uma pesquisa de recomendação, 100% das pessoas que passaram pelo trabalho de autoconhecimento da Accor recomendam o projeto. E, se não bastasse, 90% delas afirmam ter sido o melhor treinamento já feito na carreira. “Se conseguimos isso num ambiente digital, imagine o que pode ser feito num local físico?”. Com o retorno positivo, a Accor levou o projeto para toda a rede, que teve início em junho deste ano, inclusive com grupos internacionais. Para Mariana, isso torna a dinâmica de autoconhecimento ainda mais rica, uma vez que há maior aprendizado com a cultura do outro sob um ponto de vista diferenciado.
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Questionada sobre a viabilidade do modelo híbrido de trabalho, Mariana é direta: “Ao começar com o modelo híbrido de trabalho, as empresas querem colocar regras. Aprendemos na Accor que não há regra fixa, e cada pessoa lida de uma forma diferente. Há quem precisa ir ao trabalho, como quem precisa precisa ficar, pois ganha 2 horas somente no transporte. O líder deve saber gerenciar de forma diferente e individual cada profissional. É preciso saber o que fazer com cada pessoa, com métodos diferentes de acompanhamento. Adaptar é preciso, mas não é simples e deve ocorrer da maneira mais humana possível”, finalizou.
Por Giuliano Gonçalves, da redação do E-Commerce Brasil
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