Muitas mulheres começam a empreender após a maternidade, seja depois de perder o emprego e precisar de uma renda, ou para flexibilizar a nova rotina longe da rigidez das escalas fixas do mercado corporativo. No mês da mulher, o levantamento da Serasa Experian traz um raio-x do perfil da empreendedora brasileira no país. Com 562 participantes de todas as regiões do país, o estudo mostra os motivos que levaram as mulheres a abrirem seus próprios negócios e faz um comparativo com a primeira edição da pesquisa.

Com motivações variadas, 46% das mulheres começaram para ter flexibilidade de tempo, enquanto 40% buscaram independência financeira. Para 24%, o motivo era ter uma renda complementar, e 20% para ganhar mais.
Os motivos agora são outros
Este ano, as mesmas perguntas feitas em 2022, na primeira edição da pesquisa, revelam uma mudança nas motivações dessas mulheres. A independência financeira segue como prioridade para 40%, passando da primeira para a segunda posição do pódio. A flexibilidade, antes em segundo lugar, passou para o primeiro, de 29% para 46% em três anos.
Outra mudança observada foi a redução na quantidade mulheres que empreendem para fazer o que acreditam. Com 24% em 2022, atualmente esse motivo foi apontado por apenas 18% delas. A renda complementar era a quarta colocada, com 21% das respostas. Em 2025 a motivação subiu na prioridade das empreendedoras, conquistando a terceira colocação com 24%.
Empreender para ganhar mais era o objetivo de 20% das mulheres em 2022. A porcentagem segue a mesma na pesquisa atual, ocupando a quarta colocação.
As mulheres enfrentam desafios
A pesquisa também apresenta as diferenças entre empreendedores homens e mulheres na visão das participantes. Para a maioria (71%), o principal desafio é conciliar as tarefas familiares e profissionais. Segundo a Diversitera, as mulheres passam 186 horas a mais do que os homens com tarefas domésticas e cuidado da família, o que limita suas oportunidades de ascensão profissional.
“É equilibrar os pratos todos os dias”, diz Márcia Maria de Jesus, CEO da marca Pretapretin. Desde 2020, com a criação da marca de roupa de cama infantil inspirada em sua filha Valentina, ela vive a desafiadora rotina de mãe empreendedora.
“No momento, só tem eu para cuidar do administrativo e algumas partes do operacional. Não todas, porque boa parte da minha produção é terceirizada, então é algo desafiador porque a família não enxerga a mulher empreendedora como alguém que se dedica aos negócios dela, à empresa dela. A gente acaba deixando a empresa para um segundo plano, eu acho que isso acaba impactando um pouco no crescimento do negócio”, reflete.
A responsabilidade diária de gerenciar os negócios e cuidar do transporte escolar, fazer as refeições, auxiliar na lição de casa e estar presente na vida da filha demandam “uma rotina e uma gestão de tempo muito boa” para não deixar a empresa de lado, afirma Márcia. É uma corrida contra o relógio, a gestão é um dos principais desafios. A CEO falou como gostaria de “ter mais tempo para me dedicar ao meu negócio, até mesmo para estudar. Eu acho que se não tivesse que empreender dentro de casa, seria algo mais fácil”.
Também existem outras questões
Segundo o Sebrae, existem 10 milhões de mulheres empreendedoras no país, majoritariamente negras, muitas vezes enfrentando dificuldades para acessar crédito. O NuvemCommerce, estudo realizado pela Nuvemshop, mostra que, em 2025, 42% das mulheres não têm capital para investir no próprio negócio.
Nesse sentido, Márcia chama atenção da importância de ter um capital de giro para facilitar na rotina doméstica. “Se eu tivesse um capital de giro, essa rotina seria mais leve, teria coisas que não dependeriam somente de mim, eu poderia contratar uma pessoa para fazer e com isso conseguiria gerir melhor o tempo para me dedicar mais à empresa”, enfatiza.
Invisibilizadas pela publicidade, estima-se que as mulheres respondem por US$ 31,5 tri no varejo, e foi para mudar esse cenário que Márcia decidiu começar seu negócio. Em 2020, após receber dela uma mochila com uma boneca negra, a filha Valentina perguntou por que não havia outros produtos parecidos com ela.
No ano da pandemia, a atuação começou no comércio eletrônico com Márcia produzindo chinelos com estampas de pessoas pretas. A mudança veio em 2021, quando redecorou o quarto da filha e trocou as estampas da Barbie pela Black Princess, uma princesa negra de cabelo crespo.
“Depois dos jogos de cama eu fiz as toalhas, e agora faço os pijamas. E falo que aí começou a fazer sentido, porque hoje vejo realmente a diferença que a Pretapretin faz na vida das crianças através das estampas. Nós somos pioneira no Brasil, que faz só com fronha, cortina, manta, toalhas e pijamas com desenhos de crianças pretas. Nós levamos para essas crianças, não só sua representatividade, mas uma autoestima, pertencimento e afeto através dos nossos produtos“, finaliza a empreendedora.

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