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Micro e pequenas empresas ainda veem crédito restrito no curto prazo

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

São Paulo – A restrição de acesso ao crédito e a dificuldade em manter o fluxo do capital de giro continuarão desafiando as micro e pequenas indústrias nos próximos meses, ao mesmo tempo que as mudanças na política ainda preocupam.

O presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria no Estado de São Paulo (Simpi), Joseph Couri, afirma que “falta dinheiro novo” para essas empresas e as dificuldades de obter financiamento elevam os entraves ao setor. Segundo ele, sem a concessão de linhas de crédito, os empresários vêm recorrendo ao cheque especial como capital de giro.
“Com as elevadas taxas de juros [do cheque especial], a empresa quebra porque não é possível pagar essa dívida. Nesse momento, indústrias tentam uma sobrevida enquanto esperam um futuro melhor”, comenta ele.
Um levantamento realizado pelo sindicato indica que 67% das empresas registraram nível insuficiente ou limitado de capital de giro em julho. “É um movimento cíclico. Sem crédito não há produção nem lucro e a saída é demitir”, afirma Couri.
Para o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Aloisio Campelo, trata-se de um cenário recorrente em períodos de recessão econômica. “É normal que o acesso ao crédito fique restrito. Com isso, em toda crise terá mortalidade das empresas menores”, aponta, sem acreditar em uma mudança rápida da situação no curto prazo.
Segundo a sócia da fabricante de cosméticos Phytotratha, Mirian Dalben, existe uma expectativa grande quanto a conclusão do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. “Já chegamos ao fundo do poço e por isso eu espero que os ajustes econômicos sejam finalmente aplicados nos próximos meses [após o fim do processo]”.
Ela conta que teve uma redução em uma linha de crédito para aquisição de equipamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em abril deste ano. “Tínhamos R$ 500 mil pré-aprovado, mas esse valor passou para R$ 100 mil. A quantia não era suficiente para a compra e busquei outras linhas de crédito”, revela. Sem opção, Mirian decidiu postergar o investimento na planta.
A carteira de crédito e repasses do BNDES diminuiu 7% no primeiro semestre deste ano ante igual período de 2015, somando R$ 646,9 bilhões.
Custos
A já elevada carga tributária é outro fator negativo no radar do industrial, sobretudo do micro e pequeno empresário, observa Aloisio Campelo. Na visão dele, com o avanço do impeachment, independentemente do resultado, o aumento dos impostos será um grande desafio ao setor industrial. “Quem ficar no cargo enfrentará dificuldades em aprovar ajustes econômicos no Congresso que, caso não sejam encaminhados, podem resultar em aumento na tributação”, explica o economista.
O diretor da Zini Alimentos, Enrico Vezzani, acrescenta que, além dos impostos, a inflação dos insumos também tem preocupado. “Está muito difícil repassar para o preço [o aumento de custos]”, afirma, destacando que o resultado são margens apertadas.
“Às vezes é difícil negociar com o varejo e não podemos repassar todo o aumento de custos. Assim, o prejuízo acaba ficando na empresa”, conclui.