“Prezados clientes, lamentamos informar que o Shopee.es deixará de operar a partir das 23h59 do dia 17 de junho de 2022.” Assim, em grandes letras brancas em um fundo laranja, e sob um sinal de “aviso de fechamento” ainda maior, a Shopee anuncia em seu site sua retirada do mercado espanhol apenas oito meses após sua chegada.
O marketplace de Singapura garantiu em seu comunicado que os pedidos registrados até essa data serão processados normalmente. Além disso, os serviços e suporte pós-venda continuarão disponíveis até que todos os clientes tenham recebido suas compras. A Shopee também aproveitou para agradecer o apoio e confiança depositados na marca e pedir desculpas por qualquer transtorno que a mudança possa causar aos seus consumidores, oferecendo seu e-mail de atendimento ao cliente para esclarecer qualquer dúvida.
Uma entrada tão repentina quanto a partida
A Shopee entrou na Espanha de maneira surpreendente em outubro de 2021, após apenas três dias de promoção no Instagram. A marca não poupou gastos para dinamizar a sua apresentação à sociedade espanhola, anunciando grandes promoções de inauguração. Frete gratuito para qualquer produto, seja qual for o preço, cupons de desconto de 3 euros para novos clientes que fizeram uma compra de mais de 5 euros e ofertas flash a 1 euro foram as fórmulas revolucionárias escolhidas.
Este foi um passo importante na sua expansão por toda a Europa, da qual também fizeram parte as aberturas na Polônia e França. No entanto, os planos do Shopee para continente europeu foram interrompidos, sendo a Polônia o único país a resistir.
Para entender a situação atual e as decisões do Shopee, é necessário voltar no tempo. O primeiro “golpe” não foi recebido diretamente pela marca, mas pela Sea, grupo de tecnologia ao qual a empresa pertence.
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Índia proíbe jogo emblemático da Sea
Em fevereiro deste ano, o Ministério de Eletrônica e Tecnologia da Informação da Índia baniu mais de 50 jogos e aplicativos para celular, incluindo o Free Fire da Sea, da Garena. Essa decisão não foi uma novidade, já que a Índia proíbe aplicativos vinculados à China desde 2020 devido às tensões fronteiriças entre os dois países.
As razões usadas pela Índia para explicar essas decisões estavam ligadas à segurança e defesa nacional do país, vinculando os aplicativos a uma coleta suspeita de dados de usuários.
Essa decisão pegou Sea desprevenida, já que ele planejava fazer parcerias com torneios e promover ainda mais seu jogo no país. O sucesso do Free Fire da Garena não era incomum na Índia, segundo dados da empresa de análise App Annie, ele tinha mais de 40 milhões de usuários ativos por mês. Sendo assim, a Sea teve perdas de quase 16 milhões de dólares por causa dessa proibição.
Shopee deixa a França
Menos de um mês após os problemas na Índia, a Sea enfrentou novamente uma situação difícil com a saída de seu marketplace Shopee do mercado francês. Nessa ocasião, o Shopee utilizou a mesma fórmula que agora utiliza na Espanha, apresentando um comunicado no seu site francês informando que cumpriria as encomendas efetuadas até dia 6 de março.
Da mesma forma, a empresa também afirmou por e-mail que, após um piloto preliminar, havia decidido encerrar o serviço Shopee na França, mas que isso não afetaria seus outros mercados. A ideia era mostrar a intenção de continuar explorando novos mercados, apesar da desaceleração.
Problemas na Índia voltam, Shopee deixa de operar no país
No final de março, a Sea rompeu os laços com a Índia de vez, anunciando o fim da atividade da Shopee no país apenas alguns meses depois que o mercado começou a procurar vendedores locais. Como na França, a Shopee postou um anúncio em seu site informando seu fechamento em 29 de março. A empresa tentou desassociar essa decisão da proibição do Free Fire da Garena e relacioná-la às incertezas que o mercado global acarretava.
A verdade é que, desde o lançamento oficial do Shopee na Índia, em outubro de 2021, os varejistas do país estavam descontentes e rejeitaram a presença do marketplace. A Confederação dos Comerciantes Indianos chegou a entrar em contato com o primeiro-ministro Narendra Modi para reclamar da chegada da Shopee, pois consideravam-na um “comércio desleal” que acabaria prejudicando o ecossistema comercial local.
Após esses últimos movimentos, a Shopee terá que se concentrar em seus outros mercados e repensar sua estratégia na Europa, onde agora está presente apenas em um país.
Após sua saída da França e sua próxima saída da Espanha, os países em que o Shopee opera atualmente foram reduzidos para 13: Singapura, Indonésia, Taiwan, Tailândia, Malásia, Vietnã, Filipinas, Brasil, México, Colômbia, Chile, Argentina e Polônia – embora tenha anunciado cortes de pessoal no México, Argentina e Chile.