Lançada no final dos anos 90, as câmeras digitais Cybershot viraram febre no Brasil apenas nos anos 2000, se transformando no traço estético da infância e adolescência de quem viveu aquela época. Com a aparição dos celulares com câmeras, esses itens ficaram esquecidos no fundo dos armários e gavetas, mas, a saturação dos smartphones e busca de uma vida menos conectada trouxe um revival dessas câmeras – e a Geração Z é a grande responsável.

Em um mundo moldado por filtros, procedimentos e imagens perfeitas, as fotos desfocadas, instantâneas e cruas são um aceno para a liberdade criativa. Nesse universo, assumir fotografias com luz estourada e estética caseira transmite a mensagem: somos imperfeitos e autênticos. Por isso, não se trata apenas de um revival nostálgico, e sim de um novo código visual.
A busca pela autenticidade
Para a fotógrafa e socióloga Tania Buchmann, supervisora do Núcleo de Fotografia do Centro Europeu, o interesse pelas câmeras digitais compactas como a Cybershot revela muito mais do que uma simples tendência estética. “Na minha opinião, o que torna a Cybershot mais interessante é justamente o fato de que o jovem que está usando hoje está em busca de novas linguagens, sensações e experiências. Existe, sim, um resgate nostálgico: o desejo de entender como eram feitas as imagens dos pais e avós, como aquelas fotos ficavam daquele jeito”, observa.
“Com o celular, tudo é imediato. Se a imagem não fica boa, você apaga, edita, usa IA e segue. A Cybershot exige outra postura: cada clique é mais pensado. É preciso parar, refletir, compor. Isso exige mais do olhar e da intenção de quem fotografa, e é aí que está o valor”, ressalta Tania.
Ela ainda destaca a conexão entre esse comportamento e outras manifestações culturais da juventude. “Na moda e nas artes, esse vai e vem é comum. Mas, quando falamos de tecnologia, o retorno da Cybershot representa um deslocamento intencional da urgência. É uma fotografia que não precisa provar nada para ninguém, que carrega memória e construção de identidade”, comenta.
Mercado de itens usados
Em alguns marketplaces, como na OLX, a procura pelas câmeras Sony Cybershot cresceu 563%, no comparativo entre primeiro bimestre deste ano com o mesmo período de 2024. No Enjoei, o valor médio dessas câmeras varia entre R$ 200 a R$ 2000. Enquanto na Shopee, houve um aumento de 50% na média diária de buscas por câmeras digitais desde janeiro de 2024.
A adoção dessas câmeras também impulsiona a economia circular e o consumo consciente, reduzindo o impacto ambiental no setor de eletrônicos, que no ano passado, obteve 15% do share de vendas na OLX. Isso também é reflexo do impacto das redes sociais, que ajudam a popularizar seu consumo, se aliando a uma sensação de pertencimento a algum grupo ou período.
Plataformas de uso massivo pela Geração Z, como TikTok, Instagram e Pinterest são testemunha dessa movimentação, e têm registrado aumento exponencial de conteúdos com essa estética, desde tutoriais de “como editar como se fosse 2007”, até os ensaios fotográficos feitos totalmente com Cybershot.