Um dos impactos mais marcantes da pandemia da Covid-19 na economia brasileira se dará na mudança de hábitos do consumidor brasileiro e, com ele, do perfil do varejo nacional. O comércio eletrônico, que já vinha crescendo e conquistando espaço no gosto do consumidor, consolida-se e chega a um novo patamar.
Um recente estudo da consultoria de gestão estratégica Kearney analisou os impactos da Covid-19 no comportamento de consumo dos brasileiros. Ele indica que as compras online devem registrar R$ 111 bilhões em 2020 — 49% mais do que em 2019, quando o mercado faturou R$ 75 bilhões. Quando considerada a projeção para o período de 2020 a 2024, a análise aponta que o mercado deve crescer à uma taxa de 17,3% ao ano no período, chegando a aproximadamente R$ 211 bilhões em 2024, novamente considerando o cenário macroeconômico base. No otimista, o crescimento médio anual é de 20,7%, com vendas ultrapassando a marca dos R$ 250 bilhões.
É preciso entender, no entanto, que não se trata de um movimento novo, apenas acelerado. O mercado brasileiro de comércio eletrônico já vinha registrando índices de crescimento maiores que o do varejo tradicional há alguns anos. Uma outra análise realizada com base em dados da Euromonitor mostra que, entre os anos de 2014 e 2019, o e-commerce cresceu cinco vezes mais rápido que o comércio tradicional.
No período, a penetração do comércio eletrônico dobrou: foi de 4% para 8% e trouxe consigo o mobile commerce, que chegou a 3% de penetração.
Ainda assim, o comércio eletrônico chegou ao final de 2019 com uma penetração menor do que a vista em mercados desenvolvidos. E, portanto, com grandes oportunidades de crescimento no Brasil.
Para se ter uma ideia destas oportunidades, mesmo com uma penetração relativamente alta se comparada às demais categorias no Brasil, o setor de eletrônicos possui uma lacuna de 22 p.p. em relação ao mercado Americano e mesmo assim já movimentou R$ 23,3 bilhões. O mesmo vale para outras áreas, como vestuário. Com 5,4% de penetração, movimentou R$ 6,2 bilhões em vendas online no Brasil. O mesmo setor tem penetração de 25,8% no mercado norte-americano.
Com a pandemia da Covid-19 e o forçoso isolamento social de boa parte da população, este crescimento ganhou um impulso. Com boa parte do comércio tradicional com as portas fechadas, muitos setores vivenciaram o crescimento de suas vendas online nos primeiros dois meses de pandemia no Brasil. E isso fica claro quando se percebe o aumento do tráfego nos principais sites nacionais de comércio eletrônico entre os meses de fevereiro e maio deste ano.
O salto das visitas online na pandemia
No período, o volume de visualizações no site da Americanas.com saltou de 90 milhões de visitas por mês para 134 milhões. O mesmo ocorreu com a Amazon.com (de 52 milhões de visitas mensais para 73 milhões); com as operações online do Magazine Luiza (de 47 milhões para 73 milhões); e das Casas Bahia (de 35 milhões para 70 milhões).
Na prática, este aumento significa que durante o período mais crítico de isolamento social, 4 em cada 5 brasileiros realizaram alguma compra online, com grande destaque para alimentação, pronta ou não.
Conforto no online
E aqui se percebe a mudança no comportamento do consumidor. Uma pesquisa do Instituto Ipsos aponta que o período fez com que os brasileiros passassem a se sentir mais confortáveis com a realização de compras online. O estudo aponta que, no final de março, apenas 28% dos consumidores utilizavam aplicativos para entrega de alimentos de supermercado — percentual que chegou a 42% dos consumidores a meados de junho.
Outro dado mostra que a tendência deve se consolidar. Do total que utiliza estes aplicativos por causa da pandemia, 56% afirmam que devem continuar a usar os serviços com a mesma frequência. Outros 35% também continuarão, só que com menos frequência.
O fato é que quem trabalha com o comércio precisa incluir algumas tarefas em sua preparação para o chamado “novo normal”. A principal delas é entender as mudanças pelas quais os consumidores passarão neste período e, com isso, preparar-se para atendê-los em seus novos hábitos e demandas. Mas aí já é outra história, sobre a qual falaremos mais à frente.