Durante anos, estar na primeira página do Google foi o objetivo de qualquer estratégia digital. Empresas investiram muito dinheiro em otimização de meta tags, backlinks e palavras-chave para conquistar seus espaços no universo digital. Essa receita se consolidou como padrão do marketing digital e foi seguida à risca por equipes de comunicação. A tática para vencer essa disputa estava estabelecida. No entanto, a forma como a relevância na internet é definida está mudando.

O crescimento das buscas mediadas por inteligência artificial (IA) alterou os critérios de visibilidade na rede. Isso leva a uma conclusão inapelável: as marcas precisam rever suas estratégias. Um estudo recente da Macfor com os 190 termos mais buscados em 2024, no Brasil, comparou os resultados da primeira página do Google com as fontes citadas pelo ChatGPT.
A pesquisa revela uma diferença significativa. O índice que mede a sobreposição entre as fontes mais citadas pelos dois sistemas foi de apenas 0,056. Esse valor indica que quase não há coincidência. Ou seja, o que é considerado relevante por um não necessariamente é considerado da mesma forma pelo outro.
A diferença entre Google e IA
Essa diferença se traduz em números. No Google, as plataformas sociais têm posições dominantes: o YouTube aparece em 26,1% dos resultados, o Instagram em 18,8% e o TikTok em 13,7%. No ChatGPT, a história é outra: a Wikipedia é citada em 38,9% das respostas, seguida por Infomoney e TSE, cada uma com 11,1%. De um lado estão os resultados moldados pelo apelo social e popularidade; de outro, as fontes institucionais e informativas com histórico de credibilidade.
De acordo com o estudo, essas diferenças não são por acaso. Elas refletem as abordagens distintas de curadoria de conteúdo. Enquanto o Google utiliza fatores como volume de buscas, engajamento e otimização, a IA prioriza a confiabilidade das fontes.
As consequências são significativas. Estratégias tradicionais de SEO, desenhadas para agradar aos algoritmos de mecanismos de busca, podem perder relevância à medida que cresce o uso de plataformas de IA para consultas. O conteúdo técnico, preciso e útil de verdade ganha mais peso que, por exemplo, um conteúdo viral. A credibilidade, construída com base em expertise real e validação por fontes confiáveis, tende a ser mais valorizada que métricas largamente usadas até aqui como autoridade de domínio.
Vantagem de ser citado por IA
Nesse cenário, as empresas precisam avaliar se estão otimizando sua relevância para o público certo. Investir apenas em SEO de forma tradicional pode significar mirar em um alvo que não vai garantir mais a mesma visibilidade de antes. O estudo destaca que a presença em bases como Wikipedia e em bancos de dados estruturados pode oferecer uma vantagem competitiva importante e que ser referenciado por fontes reconhecidas aumenta a probabilidade de aparecer nas respostas geradas por IA.
Essa mudança também altera a forma como entendemos o retorno da visibilidade online. Com a IA, nem sempre o objetivo é levar o usuário até o site. Muitas vezes, a informação a ser consumida para na resposta da plataforma, sem cliques adicionais. Isso muda a lógica das métricas e o conceito do que é uma estratégia digital bem-sucedida.
Um exemplo de como caminha essa mudança? O Google perdeu 8,4% de market share para o ChatGPT, entre 2023 e 2025. Não é um movimento pontual, mas uma tendência de deslocamento de parte importante da atenção dos usuários.
Até onde podemos ver, o futuro das buscas tende a ser híbrido. A relevância passará a ser definida por dois critérios e eles serão complementares: o engajamento, que continua a ter peso nas plataformas sociais e na busca tradicional, e a precisão e autoridade, que ganham força nas respostas mediadas por IA.
A pergunta-chave deixa de ser apenas “qual é minha posição no Google?”. Ela passa a incluir uma nova: “como minha marca é citada quando alguém pergunta sobre meu setor a uma IA?”.
Adaptação nesse cenário significa reconhecer que a disputa pela relevância digital agora ocorre em duas frentes, cada uma delas com suas estratégias próprias. Quanto mais cedo as marcas e as empresas entenderem isso, maiores serão as chances de alcançarem bons resultados nessa nova forma de disputa.