O crédito para empresas é fundamental neste momento de retomada do varejo no pós-pandemia.
Pode parecer contraditório dizer que ampliar o acesso ao crédito pode ser uma saída para a inadimplência dos negócios, mas os dados demonstram que dar poder de compra ao consumidor, e crédito às empresas, é o segredo da retomada para os negócios neste pós-pandemia.
Além da crise econômica, diversos fatores impactam a capacidade ou incapacidade de famílias e empresas cumprirem suas obrigações financeiras. O índice de desemprego e o aumento dos preços de produtos e serviços básicos são alguns deles.
Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil finalizou o último trimestre de 2021 com 12 milhões de pessoas desocupadas e uma taxa de desemprego de 11,1%. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação no Brasil, fechou março de 2022 com aumento de 1,62% e seu valor acumulado dos últimos 12 meses foi de 11,30%, também conforme o instituto.
Diante desse cenário, é preciso entender a relação entre o endividamento versus o poder de consumo das famílias e seus impactos na saúde financeira e na movimentação econômica das empresas, bem como avaliar que, neste contexto de retomada pós-pandemia, a acessibilidade ao crédito se torna um importante recurso para que as empresas possam se reerguer e crescer, criando uma força motriz para a recuperação econômica.
O endividamento familiar e seus impactos no consumo
A última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) apontou uma média de mais de 70% de famílias endividadas no Brasil até 2021. Além disso, o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas no Brasil, uma publicação mensal do Serasa, demonstra que fevereiro de 2022 contabilizou mais de 65 milhões de pessoas endividadas no país, um dado que vem em constante crescimento desde o último semestre de 2021.
O volume de dívidas, conforme o estudo, é de mais de R$260 bilhões, sendo que essas dívidas estão concentradas em: cartões de crédito (28,60%), contas básicas, como água, luz e gás (23,20%) e varejo (12,50%). Além disso, ainda conforme o Serasa, 69% das compras efetuadas no cartão de crédito são voltadas, também, ao suprimento de necessidades básicas, como alimentação e supermercado.
Com um índice significativo de pessoas devendo contas de serviços básicos, associado aos índices de desemprego, não é surpresa que a inadimplência familiar cresça a cada mês. Afinal, é através da recuperação do trabalho e da renda que as pessoas passam a ter condições de colocar em dia suas despesas e voltar a consumir.
Os reflexos e as consequências da inadimplência para as empresas
Se as pessoas deixam de ter poder aquisitivo para o consumo, as empresas vendem menos, deixam de conquistar novos clientes e ainda correm o risco de perder clientes que já faziam parte da sua carteira.
Em instâncias mais incipientes, a inadimplência pode dificultar o orçamento e o fluxo de caixa, até avançar e comprometer a capacidade do empreendedor de cobrir seus custos e levar à necessidade de tomar crédito para dar continuidade nos negócios. Porém, se o caixa continua sem movimentação, certamente esse empreendedor não conseguirá honrar com esse compromisso e passará a se endividar.
Segundo o Serasa Experian, a inadimplência atingiu 5,44 milhões de micro e pequenas empresas em fevereiro de 2022. Nos negócios de médio porte, foram 52 mil inadimplentes e, para as grandes empresas, o índice foi de 16 mil no mesmo período. O setor de serviços foi o mais impactado, com 52,2%, seguido pelo comércio, com 38,5%.
Em casos mais críticos, mas, infelizmente, não pouco comuns, empresas altamente endividadas se veem obrigadas a fechar as portas. Empresas mais jovens ficam ainda mais suscetíveis a esse risco, pois, conforme dados do IBGE, de 2019, menos de 40% das empresas no Brasil sobrevivem aos primeiros cinco anos de atividade.
Ampliação do crédito como alavanca para os negócios
Ainda que os índices de desemprego estejam elevados, a retomada das atividades pós-pandemia traz bons ventos para as empresas. Segundo apuração da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou, em março de 2022, o terceiro aumento mensal consecutivo e o maior nível desde maio de 2020, com crescimento de 1,8%. O que significa que as expectativas de consumo das pessoas em curto e médio prazo estão melhorando.
Com isso, mesmo as empresas que estão endividadas encontram espaço não apenas para regularizar sua situação, como também buscam crédito para expandir os negócios. De acordo com o Banco Central, o crédito direcionado para empresas teve uma queda de 1% em fevereiro de 2022, atingindo R$679 bilhões. Ao passo em que o crédito direcionado às famílias teve aumento de 1% e totalizou R$1,2 trilhão no período.
Atualmente, existem recursos atrativos para pessoas e empresas que precisam tomar crédito, como é o caso do open banking, que torna pessoas e empresas donas de seus próprios dados, além de empresas de pagamento que disponibilizam antecipação dos recebíveis para ajudar os negócios na formação de caixa e na negociação de preços com fornecedores.
Tais soluções ampliam a liberdade para que tomadores de crédito encontrem opções para além de instituições financeiras, com condições melhores e propostas mais atrativas de acordo com seu perfil. Esses recursos são apenas alguns dos que envolvem a digitalização do mercado financeiro, que funciona como uma forma de criar alternativas mais convenientes para os clientes que, nesse caso, também podem ser as empresas.
Em resumo, no que diz respeito ao poder de consumo das famílias, a retomada já está acontecendo e, conforme os índices de desemprego reduzem, tende a se ampliar ainda mais. Para os negócios, o Brasil tem um sistema financeiro bem estruturado e taxas de juros favoráveis a quem deseja emprestar dinheiro. Por isso, ampliar o acesso ao crédito para que as empresas consigam se reerguer e evoluir é fundamental.
Hoje, existem importantes mecanismos que podem ajudar nessa missão, como o birô de crédito e o cadastro positivo, que ajudam a avaliar o histórico das empresas, considerando os impactos dos últimos dois anos. Dessa forma, fomenta-se a oportunidade de acesso ao crédito a empreendedores e empresários que sempre foram bons pagadores, que sofreram as consequências da pandemia e, no entanto, possuem altas possibilidades de crescimento.
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