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Crescimento do modelo D2C no e-commerce: benefícios e desafios

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Por: Ângelo Vicente

CEO e Fundador da SELIA Fullcommerce

Mestre em Ciências e Gestão de Tecnologia, pelo MIT Sloan School of Management (2023). Fundador da e-Cadeiras e da SELIA Fullcommerce, onde exerce o cargo de CEO atualmente. Com uma trajetória de mais de 12 anos no setor de comércio eletrônico, Ângelo é movido pela paixão em explorar o potencial de novas tecnologias, sempre com o objetivo de agregar valor significativo para seus clientes e parceiros. Além de seu papel na SELIA, ele é uma figura proeminente no cenário de E-Commerce, onde contribui ativamente para a comunidade do setor, participando como articulista, conferencista, professor e palestrante em diversas instituições de ensino e eventos. É membro do Conselho do E-Commerce Brasil e Cofundador da Escola Superior de E-commerce - ESECOM.

O modelo de negócios Direct to Consumer (D2C) segue em expansão, revelando um cenário promissor para empreendedores digitais. De acordo com estudo da eMarketer, as vendas D2C nos Estados Unidos totalizaram US$ 182 bilhões em 2023, demonstrando a força desse modelo de negócios.

No Brasil, o potencial é ainda mais significativo. De acordo com a Synapcom, as vendas D2C representam apenas 5% do faturamento das indústrias, em comparação com 15% nos Estados Unidos. Essa disparidade indica um amplo espaço para crescimento no mercado brasileiro.

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Saiba como o modelo Direct to Consumer está transformando o mercado brasileiro e criando oportunidades para empreendedores digitais.

As pequenas e médias empresas (PMEs) também têm se beneficiado do modelo D2C. Em uma recente matéria do Jornal Edição do Brasil, no primeiro semestre de 2024, essas empresas movimentaram R$ 2 bilhões no varejo online, um crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os segmentos de moda, saúde e beleza, e acessórios lideraram o faturamento nesse período.

Esses dados reforçam a relevância do modelo D2C no Brasil, evidenciando oportunidades significativas para marcas que buscam fortalecer sua presença no mercado digital e estreitar o relacionamento direto com os consumidores.

O que é D2C e como ele se compara ao B2C?

O modelo D2C (Direct to Consumer) caracteriza-se pela venda direta de produtos ou serviços de uma marca para o consumidor final, sendo uma opção aos intermediários como distribuidores, atacadistas e varejistas. Nesse modelo, as empresas assumem controle total da jornada de compra, desde a fabricação até a entrega, passando pelo marketing e atendimento ao cliente.

Por outro lado, o modelo B2C (Business to Consumer) é mais abrangente e frequentemente envolve intermediários. Em um contexto B2C tradicional, as marcas dependem de redes de varejo para distribuir seus produtos ao consumidor final. Essa estrutura limita o controle direto sobre a experiência do cliente e pode reduzir as margens de lucro devido aos custos dos intermediários.

Enquanto o D2C oferece uma abordagem mais personalizada e direta, o B2C muitas vezes se beneficia do alcance e da escala proporcionados por grandes varejistas. O D2C permite às marcas construir relações mais próximas e compreender melhor as preferências do consumidor, enquanto o B2C pode ser uma alternativa mais eficiente em termos de logística e alcance imediato.

Benefícios do modelo D2C

Para as indústrias, o D2C se traduz em uma transformação que vai além da simples mudança de canal de vendas, representando uma revisão completa da forma como operam e interagem com o mercado.

Principais benefícios do modelo D2C para as indústrias:

– Controle total sobre a marca e os dados: o D2C permite às indústrias controlar todos os aspectos da jornada do cliente, desde a comunicação inicial até a compra e o pós-venda. Além disso, as empresas têm acesso direto aos dados dos consumidores, possibilitando análises mais aprofundadas para prever comportamentos e ajustar estratégias.

– Aumento da margem de lucro: sem os intermediários, as marcas conseguem reduzir custos de distribuição e aumentar suas margens. Isso também dá às indústrias mais flexibilidade para ajustar preços e oferecer promoções personalizadas.

– Inovação e agilidade no lançamento de produtos: no modelo D2C, as empresas podem testar e lançar novos produtos diretamente para o consumidor final, coletando feedback em tempo real e ajustando suas ofertas com rapidez. Essa agilidade é essencial para manter a competitividade em mercados dinâmicos.

– Fortalecimento do relacionamento com o consumidor: a interação direta com os consumidores permite que as indústrias desenvolvam um relacionamento mais próximo e autêntico, promovendo maior fidelidade à marca e possibilitando campanhas de marketing mais personalizadas.

– Resiliência em momentos de crise: o D2C pode servir como uma estratégia de mitigação de riscos em cenários de instabilidade, como crises econômicas ou interrupções na cadeia de suprimentos. Ao depender menos de intermediários, as indústrias podem manter a continuidade operacional e atender às demandas do mercado diretamente.

– Possibilidade de diferenciação no mercado: com maior controle sobre a experiência do cliente, as indústrias têm a chance de criar diferenciais competitivos únicos, como personalização em massa, embalagens exclusivas e experiências digitais integradas.

Contudo, o caminho para o sucesso no D2C não é simples. Ele exige que empresas assumam responsabilidades adicionais em logística, atendimento e gestão de estoque, além de redesenhar suas estratégias de marketing e vendas.

Desafios a serem enfrentados

Embora o modelo D2C ofereça inúmeros benefícios para as marcas, ele também traz consigo uma série de desafios operacionais e estratégicos. As empresas que optam por essa abordagem precisam se preparar para assumir responsabilidades que antes eram delegadas a intermediários, incluindo o gerenciamento direto do cliente e da logística. Isso pode implicar uma reestruturação significativa das operações internas e uma mudança na forma como as equipes trabalham e colaboram.

Além disso, a entrada no D2C coloca as empresas em uma nova dinâmica de mercado, na qual passam a competir diretamente com os varejistas que anteriormente atuavam como parceiros. Essa transformação exige planejamento cuidadoso, investimento em tecnologia e uma visão clara de como atender às expectativas dos consumidores em um cenário cada vez mais competitivo.

Principais desafios enfrentados pelas marcas no modelo D2C:

– Concorrência com varejistas: empresas que adotam o modelo D2C passam a competir diretamente com os varejistas que antes distribuíam seus produtos, o que pode gerar atritos nas parcerias.

– Gestão de estoque e logística: um dos maiores entraves é adaptar os processos para atender às demandas tanto do varejo quanto do consumidor final. O controle eficaz de inventário é essencial.

– Alterações organizacionais: a transição para o D2C impacta diversas áreas da empresa, incluindo o marketing, que precisa se tornar mais direto e orientado ao consumidor, e o atendimento ao cliente, que passa a ser uma prioridade estratégica.

Um exemplo inspirador do modelo D2C é a Samsung SDS Latin America. A empresa vem investindo fortemente no seu e-commerce D2C, no qual oferece uma experiência personalizada e promoções exclusivas. Em novembro de 2024, de acordo com a pesquisa realizada pela Conversion, a Samsung conquistou a quarta posição entre os maiores players do setor em termos de audiência em sites e apps, registrando mais de 111 milhões de acessos mensais. Isso coloca a gigante da tecnologia lado a lado com marketplaces estabelecidos, como Mercado Livre, Shopee e Amazon. Mais do que um número impressionante, o case da Samsung é uma prova de que indústrias podem reinventar suas estratégias e dominar o universo digital.

O modelo D2C representa uma grande oportunidade para marcas que desejam aumentar sua relevância no mercado e estreitar laços com seus consumidores. Contudo, para adotar essa estratégia com sucesso, é fundamental que as empresas estejam preparadas para os desafios operacionais e organizacionais que acompanham essa transformação.

Empresas como a Samsung demonstram que, com uma abordagem planejada e centrada no cliente, é possível colher resultados expressivos, tanto em termos de receita quanto de valor percebido pela marca. Em um país onde a competição entre grandes players está mais acirrada do que nunca, fica evidente que inovar e entregar experiências diferenciadas não é apenas uma vantagem competitiva, é uma necessidade.