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Cross-border e a moda brasileira: desafios e novos caminhos

Por: Bruno Saraceni

Bruno Saraceni é fundador da Westpace, uma empresa de tecnologia e engenharia de software, baseada no Brasil e Estados Unidos, especializada em operações de marketplaces, com foco em expansão internacional. Com larga experiência em tecnologia e e-commerce, ele lidera iniciativas para otimizar operações de varejo digital.

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Em 9 de julho de 2025, uma carta do presidente americano Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, motivadas por disputas políticas. O anúncio gerou alarme imediato no mercado, especialmente no setor de moda, que viu barreiras inesperadas surgirem da noite para o dia.

Pessoas sorrindo ao ar livre, vestidas com looks urbanos e modernos, em frente a uma construção.
Imagem: Envato.

Em agosto, a medida entrou em vigor, poupando apenas setores estratégicos como a Embraer, mas atingindo duramente exportações de vestuário e acessórios. O fim do regime de minimis – a regra que isentava pequenos envios (até US$ 800) de impostos via Correios ou DHL – agravou o cenário, fechando uma rota essencial para o comércio cross-border.

O impacto no e-commerce de moda foi profundo. Plataformas como Nordstrom, Farfetch e Etsy, vitrines importantes que serviram de lançamento de importantes marcas brasileiras no mercado americano, como Farm e Osklen, enfrentam agora custos proibitivos. A relação histórica, de biquínis cariocas a calçados paulistas, que sustentava quase US$ 1 bilhão em exportações de têxteis e confecções em 2024, corre sério risco de encolher.

O mercado global de moda e marketplace

Apesar do golpe sofrido nos EUA, o mundo é maior e oferece novas oportunidades. A moda brasileira, com sua pegada tropical, eco-friendly e o famoso “brazilian lifestyle”, ainda desperta forte interesse em diversos mercados.

Na Europa, o e-commerce de moda deve quase dobrar até 2030, alcançando US$ 233 bilhões. Plataformas como Zalando e ASOS (Alemanha e Reino Unido) valorizam calçados sustentáveis e activewear. Na França, La Redoute e Galeries Lafayette abrem espaço para peças femininas premium. Já na Itália, Yoox e Luisaviaroma destacam o design autoral.

Na Ásia, o cenário é igualmente promissor: o e-commerce global de moda deve crescer com a região Ásia-Pacífico puxando mais da metade desse crescimento. Embora o mercado chinês seja mais fechado, por razões cultuais e competitividade de preço, no Japão plataformas como ZOZOTOWN e Rakuten atraem sandálias e moda praia brasileiras. Na Coreia do Sul, Coupang e W Concept buscam novidades também em activewear e designer wear.

Tanto Europa quanto Ásia já reconhecem a moda brasileira não apenas pela qualidade do produtos e sua criatividade, mas também pela influência de ícones que difundiram o estilo do Brasil pelo mundo nas últimas décadas, como Gisele Bündchen.

Mais perto de casa, México e Chile oferecem boas alternativas, com plataformas como Mercado Libre, Falabella e Amazon.mx, que facilitam a logística e absorvem produtos como resort wear e calçados, em um e-commerce latino-americano em expansão.

As soluções: como a moda brasileira pode reagir

Diante desse embate tarifário sem prazo definido, a palavra de ordem é diversificação. O primeiro passo é entender as tarifas de cada região: enquanto nos EUA elas chegam a 50% conforme vimos, na União Europeia variam entre 5% e 10% – muito mais acessíveis, e fáceis de serem absorvidas principalmente quando se tratar de marcas premium.

O segundo passo é estruturar a logística. Hoje existem inúmeros operadores globais e locais que podem ajudar produtores brasileiros a armazenar, distribuir e vender em múltiplas plataformas, desde marketplaces de nicho até grandes redes internacionais.

Por fim, é hora de reposicionar a estratégia: em vez de depender apenas do mercado americano, usar o desafio como oportunidade de expansão global. Apostar em design autoral, moda sustentável e na brasilidade como diferenciais pode transformar a crise em trampolim para crescimento.

Pode soar clichê, mas é verdade: é possível fazer do limão uma limonada. A moda brasileira tem talento, identidade e qualidade suficientes para conquistar novos públicos e mercados, mesmo em meio às barreiras tarifárias.