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É tempo de otimizar os ganhos revisando a plataforma de pagamentos

Por: Gastão Mattos

Atua na liderança brasileira da IDid. Com mais de 25 anos de experiência no setor de e-commerce e meios de pagamento, foi diretor da Credicard, vice-presidente de marketing da Visa, presidente da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (câmara.e-net) e da M-Cash, CEO da Braspag e fundador da GMattos Consultoria. Graduado em Engenharia e com pós-graduação em Engenharia de Produção, ambas pela Escola Politécnica da USP.

Se 2022 consolidou a ascensão do Pix e inseriu alternativas como o BNPL (Buy Now Pay Later) entre as formas de pagamento aceitas pelo comércio eletrônico no Brasil, o ano de 2023 nos apresenta um cenário fértil para ajustes que podem incrementar ainda mais o potencial dessas e de outras modalidades.

O ano de 2023 apresenta um cenário fértil para ajustes que podem incrementar ainda mais o potencial de várias modalidades de pagamento.

Uma das mais robustas razões para a preferência dos lojistas pelo Pix nas compras online é a sua taxa de conversão, bem maior do que as de outras formas de pagamento à vista. Por sinal, a conversão dos pagamentos no e-commerce é um ponto nevrálgico não apenas na escalada do Pix, mas também para avaliarmos o desempenho em relação ao volume financeiro movimentado por esse mercado como um todo.

Contextualização dos meios de pagamento

Vivemos um momento propício para analisar ganhos de eficiência na gestão de pagamentos. Para contextualizar esse raciocínio, tomemos o crescimento do volume de transações via cartão de crédito, que foi bastante acelerado nos últimos anos, aumentando a penetração dos pagamentos digitais nos gastos de consumo do brasileiro. Segundo dados da ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), essa alta foi de 33% em 2021, em relação ao ano anterior, e de 30% nos primeiros três trimestres de 2022, na comparação com igual período anterior.

A penetração dos meios digitais segue crescendo e, mesmo considerando o cenário desafiador deste ano devido ao ambiente econômico incerto, é esperada a manutenção do vetor de elevação em um patamar próximo de 30%.

Ainda de acordo com a ABECS, um pouco mais de um quinto do volume de pagamentos via cartões (crédito ou débito) se dá no ambiente online no Brasil, o que significa que esse segmento deve ter movimentado perto de R$ 740 bilhões em 2022. A expressividade desses números não deve mascarar a necessidade de aperfeiçoar o processo dos pagamentos online em alguns aspectos. Um deles é justamente o da sua conversão.

Estagnação da conversão de pagamentos

Estagnada na média de 70% para compras através de cartões de crédito, ela é muito baixa se comparada ao que se observa nas transações presenciais, nas quais a média de conversão dos pagamentos atinge 95%. Assim, se fosse possível equalizar as conversões e alcançar o mesmo nível de aprovação online do que se verifica no mundo físico, mais de R$ 300 bilhões em volume transacional adicional seriam capturados pela indústria de pagamentos.

É preciso ainda abranger no leque de oportunidades de melhoria a questão do custo de gestão da fraude online, correspondente ao chargeback e ao custo de prevenção. Os gastos com esse gerenciamento superaram R$ 8 bilhões em 2022. Esse montante mais do que justifica o foco em investimentos em plataformas de pagamentos com redução de fraude.

Tentativas de fraude seguem em evolução

Assim como a usabilidade e as funcionalidades dos pagamentos digitais evoluem, as tentativas de fraude ou de uso nefasto do pagamento também se aperfeiçoam. A indústria trabalha para diminuir riscos e mitigar situações de uso criminoso. É necessário, contudo, acelerar o desenvolvimento de medidas de proteção e mesmo atuar com o apoio dos órgãos oficiais de investigação e segurança para rastrear e identificar criminosos. Afinal, para um golpe ser efetivo através de uma transferência digital, é preciso haver uma conta recebedora, que deveria e poderia ser rastreada, em caso de crime, por meio de um processo automático e ágil. Esse é um caminho que já está sendo traçado e aliado a outros aperfeiçoamentos, como o uso da geolocalização de celular para parametrizar limites de transferência ou pagamento.

Tais tecnologias podem trabalhar para a maior segurança das plataformas digitais de banking e pagamentos. É prudente que aperfeiçoamentos nesse sentido surfem na onda de um mercado que oferece boas possibilidades de ganho. A despeito do horizonte desafiador, percebe-se um cenário de ampliação de perspectivas para o setor de pagamentos.

O que esperar do setor de pagamentos?

Contudo, mudanças, sejam de organização ou pela introdução de novos produtos, requerem cuidados e avaliações profundas. O desenvolvimento do novo é cada vez mais crítico, pois a tarefa precisa de “pace” acelerado de construção e precisão. As margens para erros ou ajustes são cada vez menores, dada a alta competitividade do segmento.

Além disso, a médio prazo, o vetor de crescimento poderá não se manter, havendo limites de elasticidade para o aumento da penetração dos pagamentos digitais em cenário econômico menos favorável. Por isso, investir tempo para o correto entendimento do rumo certo a seguir é essencial.

O momento de expansão cria um saudável ambiente competitivo para quem já está estabelecido e provoca uma agenda dinâmica e evolutiva que favorece a disputa por espaço no mercado. Dado o cenário regulatório e o potencial de crescimento, teremos ciclos de multiplicação de agentes e consolidações sucessivas a serem observadas nos próximos anos. O tempo vai revelar os “players” que vão conseguir superar barreiras e se estabelecer.