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Fraudes financeiras em foco: insights do 2º Congresso da FEBRABAN sobre prevenção e repressão

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Por: Victor Y. Oda

Business Leader

Victor Oda é Business Leader na ClearSale, onde lidera produtos relacionados à Resolução Conjunta nº 6/2023 do BCB e à identificação de perfis laranjas. Com o propósito de gerar impactos reais e autênticos na sociedade, ele atua na liderança de negócios e na condução de desafios estratégicos, sempre com foco em soluções inovadoras. Em 2019, foi Cofounder de uma consultoria de tecnologia e produtos, vendida para a ClearSale em 2022. Desde então liderou diferentes contextos de produtos e teve contato com diversas soluções relacionadas à prevenção de Fraude e Compliance. O Oda é fascinado pelo tema de liderança e desenvolvimento humano e, apesar de trabalhar com tecnologia e prevenção de fraude, a sua motivação intrínseca é movida pelos desafios relacionadas à gestão de pessoas e negócios, com um olhar sistêmico e humanizado.

Se tem uma coisa que aprendi ao longo do tempo é que conhecimento compartilhado tem um poder transformador. Os temas abordados no 2º Congresso de Prevenção e Repressão de Fraudes da FEBRABAN foram tão relevantes que seria um desperdício não trazer esses insights para mais pessoas.

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Descubra os principais insights do 2º Congresso de Prevenção e Repressão de Fraudes da FEBRABAN e as tendências que estão moldando a segurança financeira.

Quando o assunto é segurança e combate a fraudes, acredito firmemente que dividir é multiplicar. Quanto mais discutimos estratégias, desafios e tendências, mais fortalecemos o mercado contra ameaças cada vez mais sofisticadas.

Organizei os principais aprendizados do evento em alguns temas específicos. Vamos lá?

Bases compartilhadas no segmento financeiro

Um dos temas mais discutidos no Congresso foi o uso de bases compartilhadas no setor financeiro. Aqui estão alguns pontos-chave:

– O Banco Central do Brasil (BCB) reforçou que a Resolução Conjunta nº 6 (RC6) foi criada para aprimorar as decisões de risco das instituições financeiras, e não para ampliar a supervisão do BCB.

– O Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT) e a base compartilhada da RC6 se complementam, e a expectativa é de que todas as instituições utilizem ambas para fortalecer a gestão de risco.

– Há um movimento para ampliar a integração da base de fraudes da RC6 com outras bases de dados que ainda serão estruturadas por associações do setor financeiro, como a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).

– A qualidade e a integridade dos dados ainda são desafios. O setor financeiro precisa amadurecer no uso dessas informações em escala para otimizar a gestão de risco.

– O BCB, em parceria com o Comitê de Interoperabilidade, iniciará uma análise detalhada dos dados da base de fraudes da RC6.

Contas laranjas: o desafio do momento

O problema das contas laranjas continua crescendo e se tornando um desafio crítico para o sistema financeiro. Alguns destaques:

– O Banco Central e as instituições financeiras consideram esse um dos maiores desafios atuais.

– Criminosos sofisticam suas estratégias, deixando contas inativas por longos períodos antes de utilizá-las, dificultando a detecção. Para combater isso, algumas instituições estão implementando modelos preditivos para identificar contas suspeitas antes que sejam usadas para fraudes.

– Existe um movimento para aumentar a responsabilização das instituições que mantêm contas laranjas em suas carteiras e também dos indivíduos aliciados, que podem ser indiciados por crimes como formação de quadrilha.

– Segundo o Diretor de Combate a Crimes Cibernéticos da PF, o “laranja” é a perna mais frágil de uma organização criminosa. Ou seja, mapear essas redes é essencial para entender o modus operandi das fraudes.

– No passado, as instituições financeiras se preocupavam mais com o dinheiro que saía. Hoje, com o avanço das redes de contas laranjas, há um foco cada vez maior na análise do dinheiro que entra.

Prevenção de fraudes, golpes e o papel da IA

A segurança digital é um jogo de estratégia, e algumas tendências foram destacadas no evento:

– CyberIntelligence & fraud prevention: a análise da deep web e dark web pode ajudar na detecção preventiva de ataques. Se um banco percebe que seu nome está sendo mencionado em fóruns suspeitos, isso pode indicar um vazamento de dados ou uma nova tentativa de fraude em andamento.

– Técnicas para prevenção de golpes são diferentes das técnicas para prevenção de fraudes. Algumas instituições já enviam alertas personalizados para clientes prestes a cair em golpes, combinando biometria comportamental e análise transacional.

– O grande dilema da segurança digital continua sendo fricção x experiência do cliente. A chave para minimizar esse impacto está na construção de confiança legítima com os usuários.

– Indicadores como NPS (Net Promoter Score) estão ganhando tanta relevância quanto métricas de prevenção de fraudes. Empresas que querem se manter relevantes precisam equilibrar segurança e experiência do cliente.

– Embora se fale muito sobre IA Generativa (GenIA), sua aplicação na predição de fraudes ainda é limitada. No momento, ela está sendo mais usada para eficiência operacional, como na interpretação de dados para análise manual e backoffice.

Tendências para o futuro

Entre as apostas do setor, algumas se destacam:

– Identidade digital reutilizável: baseada em blockchain, pode ser um divisor de águas na experiência dos usuários e na segurança de identidades.

– Prova de vida mais robusta: tecnologias aprimoradas para detectar deepfakes serão cada vez mais essenciais em processos biométricos.

– Expansão da biometria comportamental: será um dos pilares para a detecção preventiva de fraudes e golpes no Brasil.

Plataforma Tentáculos: um marco na segurança pública

A Plataforma Tentáculos foi um dos grandes destaques do evento. Segundo Otavio Russo, Diretor de Combate a Crimes Cibernéticos da PF, “mais do que uma base de dados, é um sistema de investigação.”

Aqui estão algumas atualizações sobre sua evolução:

– Originalmente utilizada pela Polícia Federal, a plataforma agora está sendo incrementalmente adotada por Polícias Civis em todo o Brasil.

– A Polícia Federal está firmando Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com associações de diferentes setores, como telecomunicações e financeiras, para ampliar o acesso a informações estratégicas.

– Um dos desafios futuros é a padronização dos dados e a automação para recebimento massivo de informações, algo que a Nova Plataforma Tentáculos buscará resolver a partir de 2025.

Esses insights são apenas a ponta do iceberg do que foi discutido no 2º Congresso de Prevenção e Repressão de Fraudes da FEBRABAN. O evento trouxe reflexões importantes sobre como o setor financeiro, empresas e órgãos públicos precisam trabalhar juntos para antecipar riscos, fortalecer a segurança e proteger consumidores e instituições de fraudes cada vez mais sofisticadas.