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Mercado de e-commerce no Brasil: tendências e novas perspectivas

Por: Erick Buzzi

É um executivo de negócios com uma missão: através da tecnologia e do foco na experiência do cliente, auxiliar corporações em sua transformação digital. Formado em Engenharia de Produção pela FEI, com PLD pela Harvard Business School, Erick possui mais de 14 anos de experiência em empresas líderes em tecnologia como SAP, Salesforce e Oracle, ocupando atualmente o cargo de SVP de Sales & Marketing na VTEX.

A pandemia foi um intenso catalisador para o e-commerce, acelerando projetos e tendências que levariam anos para se concretizarem. Como essa intensidade se manteve ao longo do primeiro semestre de 2021, prepare-se para um mercado em constante ebulição, com novas tecnologias, elevada concorrência e disputa por profissionais especializados cada vez mais escassos.

Neste artigo, destaco oito tendências que, bem trabalhadas, podem ser grandes estratégias para o sucesso da sua operação de e-commerce. Você sabe se está verdadeiramente preparado para enfrentar as dificuldades e aproveitar as oportunidades que o futuro nos reserva?

E-commerce B2B

O e-commerce B2B ainda é uma fração das transações globais digitais, ou seja, há muito espaço para crescer. Com a tecnologia acelerando atividades ao substituir processos manuais, a transformação digital chega, com cada vez mais força, a empresas de toda a cadeia B2B – da indústria à logística, em todos seus níveis hierárquicos. Marketplaces B2B arrojados conquistaram espaço oferecendo uma experiência próxima do que já encontramos no B2C: interfaces, ferramentas e fluxos eficientes, modelos de assinatura, funcionalidade de recompra, composição de carrinho e muito mais. Novos projetos devem considerar design e usabilidade, além de excelência em recursos específicos do B2B – como painéis com status de pedidos, automação nos processos, trocas e devolução, bem como apoiar a tomada de decisão do comprador ao exibir limites de crédito, custo de frete e impostos, entre outras informações.

Com relação ao atendimento, com um suporte automatizado low touch, que confere maior autonomia ao cliente que realiza compras recorrentes – muito comuns no B2B -, as empresas podem destinar os recursos de Customer Excellence de forma mais estratégica. De um lado, fidelizam o consumidor posicionando-se como um canal de apoio às compras de baixo grau de complexidade, enquanto os executivos de contas têm mais tempo hábil para desempenhar papéis estratégicos e consultivos – como o desenvolvimento de estratégias personalizadas. É a experiência do cliente cada vez mais em foco.

Customer Excellence

A digitalização tornou a aquisição de clientes mais escalável, replicável e automatizável, enquanto a experiência e a entrega da proposta de valor, nem sempre. Assim, apenas vender e atender bem não basta. Além do investimento em comodidade e infraestrutura do e-commerce durante o processo de compra, é preciso despertar sentimentos positivos no consumidor em todas as etapas da jornada. Inclusive (e, talvez, principalmente) após o checkout. Nesse sentido, uma tendência cada vez mais presente em diferentes segmentos é dar ao consumidor a sensação de estar ganhando mais do que o produto com aquela transação, oferecendo, por exemplo, opções de cross selling, com valor agregado em serviços.

No pós-compra, mesmo com o uso dos chatbots – tendência, também, em ascensão – é fundamental oferecer um relacionamento humanizado e pessoal. Acelerar a digitalização dos seus processos de atendimento não faz sentido se a relação com o cliente se tornar – ou mesmo parecer – mais distante do que era antes. O desafio é automatizar processos e, ao mesmo tempo, tornar-se um parceiro estratégico em nível de negócio. Mergulhe em seus objetivos e necessidades e mostre ao seu cliente o quanto você está apto para guiá-lo em processos de tomada de decisão.

Personalização

Há tempos, a personalização deixou de ser sobre criar uma estética customizada para o seu e-commerce. No cenário de alta concorrência, a personalização significa que você deve apresentar uma oferta especial com um conteúdo segmentado, criando uma experiência única de usabilidade e oferta para o cliente. Aposente o padrão mensagem-em-massa/campo-variável e utilize, para valer, o histórico de relacionamento com o cliente de seu CRM, combinando uma mentalidade data driven com soluções de analytics para identificar padrões, gerar insights e ações valiosas.

A automatização dos processos de personalização pode incluir estratégias que vão desde um ranking de mais vendidos e vitrines na home do site visando a cross e up selling até opções de pick up in store exclusiva para os clientes mais sensíveis ao custo do frete, por exemplo. Nesse sentido, testes A/B são grandes aliados para identificar padrões de comportamento em relação a todas as funcionalidades de sua loja online: páginas de categoria, descrições de produtos, botões, Call To Actions ou headers.

A oferta customizada deve percorrer todos os seus canais de comunicação com o cliente, como e-mail marketing e anúncios de mídia paga. Hoje, é preciso identificar não só as categorias que o usuário visitou no seu site, mas também cada interação desse cliente em uma rede social de um concorrente, por exemplo. A estratégia de personalização não pode deixar de fora, é claro, a flexibilidade nas opções de pagamento. Esse aspecto é fundamental no cenário brasileiro, que evolui continuamente com alternativas como o Pix ou o split de pagamento de um pedido em dois cartões de crédito, por exemplo.

Live Commerce

Devido ao cenário da pandemia em 2020, o Live Commerce estourou inovando as vendas online ao simular o atendimento do varejo físico no digital. Utilizando principalmente as redes sociais como YouTube, Facebook, Instagram e até o WhatsApp, a estratégia tangibiliza os produtos para muito além de fotos e vídeos, com storytelling aplicado a uma experiência digital ao vivo. Intermediada por influenciadores ou vendedores especialmente treinados que experimentam produtos em tempo real e interagem com o público, o Live Commerce torna a venda digital mais humanizada. Existe, ainda, a possibilidade de o pagamento já ficar diretamente integrado à live, estimulando a compra e aumentando as conversões.

Essa estratégia de vendas baseada em interação e entretenimento tem sido testada por grandes varejistas no Brasil, sobretudo nos segmentos de moda e cosméticos. O método pode ser explorado para conquistar novos clientes divulgando o lançamento de produtos ou promovendo ações com influenciadores digitais. Existe, também, a possibilidade de fidelizar antigos consumidores ao gerar maior confiança e autoridade no segmento demonstrando a qualidade e as vantagens do produto ao vivo.

E-commerce Cross Border

Em 2020, o fechamento de fronteiras e o isolamento social impostos pela pandemia restringiram o deslocamento de pessoas entre cidades e países, afetando sensivelmente o setor de turismo e entretenimento. Esse impacto também foi sentido nos hábitos de consumidores acostumados a viajar internacionalmente para comprar produtos estrangeiros a preços mais acessíveis.

Nesse contexto, o e-commerce cross border ganhou tração por conectar consumidores isolados em suas residências a seus artigos de desejo ou novidades, viabilizando que empresas internacionais vendessem produtos em outros países. Com a demanda em alta e plataformas que possibilitam a conversão remota e internacional, o investimento passa a ser em contornar os obstáculos logísticos e cambiais para entregar o produto importado a um prazo e preço cada vez mais acessíveis ao consumidor.

Inteligência Artificial

Cada vez mais, a Inteligência Artificial, tecnologia capaz de processar alta densidade de dados e, ainda, aprender com eles de forma autônoma e acelerada, é incorporada ao mercado de e-commerce. O mecanismo tem sido utilizado para identificar o perfil do consumidor, impactando em uma série de melhorias na experiência de compra, como as vitrines de recomendação autônomas, o nível de atendimento dos chatbots e os resultados de busca interna por produtos na loja virtual.

Apesar de nem todos os sistemas de recomendação de produtos terem base na Inteligência Artificial, as mais sofisticadas vitrines autônomas utilizam o mecanismo para garantir que visualizações personalizadas para cada consumidor sejam montadas e exibidas de modo automático, sem a necessidade de configurações manuais. O sistema analisa em tempo real o comportamento dos usuários dentro da loja virtual e, com isso, consegue identificar qual a melhor posição para cada vitrine e quais os produtos com maiores chances de compra para cada usuário.

A tecnologia também eleva a experiência de pesquisa por marcas específicas ou produtos no e-commerce. A busca comportamental utiliza a Inteligência Artificial para identificar os comportamentos do usuário, como produtos que ele já pesquisou anteriormente para exibir resultados personalizados quando esse usuário retornar ao e-commerce. A busca por voz ou por imagem também utiliza o mecanismo de Inteligência Artificial, permitindo que o usuário possa enviar uma imagem ou áudio identificando o produto que está procurando e, assim, encontrá-lo no catálogo do e-commerce.

Voice Commerce

Como abordamos no tópico acima, o uso da voz é um dos grandes potenciais a ser explorado no e-commerce e mais uma tendência em ascensão no mercado. O conceito de Voice Commerce não se restringe ao uso da voz para pesquisar produtos dentro de uma loja virtual, mas para guiar todo o processo de compra – da busca à conversão. O Voice Commerce mescla o uso da interface interativa e de baixa fricção dos assistentes digitais como Siri, Google Assistant, Alexa e Cortana com as competências do design conversacional para conectar todos os elos das transações do e-commerce.

Com a popularização de homekits e dos assistentes pessoais digitais, muitas das tarefas rotineiras já são executadas por meio do comando de voz. De solicitar um resumo das notícias do dia até a previsão do tempo da semana, a tendência é que os assistentes sejam cada vez mais incorporados, também, ao comportamento de consumo. No caso das compras rotineiras e recorrentes, como itens de supermercado, farmácia e pet shops, o potencial é ainda maior. No Brasil, a tendência do uso da voz no digital se comprova com os volumes de áudios em ferramentas como o WhatsApp. De acordo com pesquisa da Opinion Box, de abril, aproximadamente 81% dos brasileiros afirmam utilizar mensagens de áudio pelo aplicativo.

Logística

Por muito tempo, a operação logística foi encarada apenas como mais um custo para os gestores de e-commerce. Contudo, essa realidade tende a se transformar na medida em que a operação de entrega se torna um trunfo comercial e uma poderosa estratégia de marketing. A experiência de compra não termina no checkout do seu e-commerce, mas sim quando o produto chega à casa do consumidor, que tem cada vez mais expectativas com relação à qualidade e à agilidade dessa entrega.

Hoje, o cliente espera receber a compra no momento em que estiver em casa e lhe for conveniente, além da possibilidade de acompanhar em detalhes cada etapa da entrega. Recursos de operação last mile com mensagens genéricas e prazos de entrega imprecisos estão ficando para trás e abrindo espaço para o uso da logística como instrumento de geração de valor e fortalecimento de marca. A onda de varejistas e até de marketplaces adquirindo transportadoras ou investindo em frota própria comprova esse movimento.

Portanto, é necessário oferecer sempre mais de uma modalidade de entrega com velocidade e agilidade. O sistema de rastreamento da entrega precisa oferecer visibilidade em tempo real sobre a operação de last mile. A comunicação com o cliente – mesmo que por chatbots – deve ser acessível e personalizada em todas as etapas do processo. Entregando para pessoas e não para endereços, a logística deixa de ser um custo para se tornar uma estratégia de negócio.