O filme “De Volta para o Futuro II” é um clássico sempre lembrado. A obra lançada na década de 80 mostra o nosso futuro em 2015, um cenário cheio de novidades que aguardávamos ansiosos, como os carros voadores. Apesar de não vivenciarmos isso ainda, o filme chegou bem perto ao mostrar outras coisas que já fazem ou logo farão parte da nossa realidade, como os meios de pagamento sem dinheiro ou cartão. Na narrativa, o vilão paga um táxi utilizando apenas a sua impressão digital — e os aplicativos de transporte confirmaram isso. Mas, será que, como na ficção, vamos realmente eliminar o dinheiro vivo e o cartão das nossas vidas?
Na minha opinião, ainda é prematuro afirmar. Uma migração assim precisa passar por várias fases, regulações, sistemas de segurança e, principalmente, por uma transformação cultural de consumidores e estabelecimentos comerciais. Recentemente, estamos acompanhando a entrada do WhatsApp nesse segmento, com as notícias da parceria entre seu dono, o Facebook, e a Cielo. Essa união obteve a bênção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas falta a aprovação do Banco Central.
De concreto nesse momento é a chegada do Pix no Brasil em novembro. Trata-se de um meio de pagamento instantâneo anunciado pelo Bacen, que permitirá a realização de transferências e pagamentos em até dez segundos. Todos os bancos, como o BMG, e fintechs com mais de 500 mil contas ativas deverão se adequar para oferecer e receber o serviço. Assim como o WhatsApp Pay, o Pix funcionará pelo celular: as operações serão feitas via geração e escaneamento de QR Code.
Ou seja, muito em breve os pagamentos e transferências por meio de TEDs e DOCs, boletos e transações físicas por cartões ou com dinheiro deixarão de ser as únicas possibilidades. Já é possível enxergar muitas oportunidades utilizando o Pix, como o fato de ele agregar serviços, reduzindo o poder dos grandes bancos em limitar quais podem ser prestados ou não. Além disso, o Pix é um arranjo próprio do Bacen, regulado, sem interesse privado e que busca criar isonomia no setor. Características importantes que ainda não foram percebidas no WhatsApp Pay.
Como ferramenta de comunicação rápida, não há dúvidas sobre a eficiência do WhatsApp. O receio reside no aplicativo como meio de pagamento. Isso porque é um arranjo fechado, com 120 milhões de usuários que já utilizam o app de mensagens instantâneas — e que pertence a uma empresa privada, com interesses privados. Ou seja, ele pode não respeitar a isonomia entre os participantes.
Por essa e outras questões, precisa ser regulado e ser complementar ao Pix, e não um concorrente. Se dois sistemas concorrentes são criados, ao invés de dividir para conquistar, você divide para não acontecer. Primeiro é necessário um sistema único para poder ganhar penetração de mercado. Depois disso, se fizer sentido, entra a concorrência. Mas, começar com vários players é ruim, você divide esforços.
Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte e precisamos acompanhar como outros países, como a China, estão se saindo com essas “modernidades”. Sendo assim, considerando a entrada do WhatsApp, Pix e outros players nesse segmento, será o fim do dinheiro e do cartão? Pode até ser, mas não somente por conta da tecnologia. Essas novas ferramentas são alternativas aos meios que conhecemos, mas não acredito que vão substituí-los tão cedo. Para isso acontecer, é preciso mudar hábitos e processos, o que pode ser mais demorado. Mas, uma coisa é certa, a segurança financeira para quem compra e para quem vende é o que vai pautar nosso caminho para o futuro de fato. E nós estamos trabalhando para isso.