Um dos pontos altos do Fórum E-Commerce Brasil 2024 foi a palestra de Daniel Dias, multimedalhista paraolímpico. Quem teve o privilégio de acompanhar seu conteúdo, permaneceu grande parte do tempo com o sorriso no rosto (e a outra parte, com lágrimas de emoção). Apresentado por Nathália Torezani, colaboradora do portal E-Commerce Brasil e também atleta paraolímpica de natação, Dias insistiu em afirmar que o sorriso faz a diferença em todos os âmbitos da vida.
Para ele, inclusive, o sorriso tem um valor ainda maior. O atleta contou como o seu nascimento foi marcado por muitas dificuldades, a ponto de sua mãe só poder vê-lo momentos depois. “Foi um parto complicado, e eu fui direto para a incubadora. Imagine só o choque para os meus pais, que souberam depois de algum tempo das minhas condições, um bebê sem os braços e uma perna”.
Nesta hora, ele lembrou o público sobre a expectativa de uma mãe e de um pai durante um processo de gravidez. “Só o que se espera é que a criança seja perfeita, repleta de saúde. E, quando algo como o meu caso acontece, é um verdadeiro choque”. Após essa fala, ele preparou os espectadores para mostrar o poder que um sorriso exerce sobre qualquer situação — e, nos telões do auditório, uma foto sua na incubadora, sorrindo de volta para a sua mãe. Ali, segundo Dias, acontecia a primeira conquista em sua vida: o amor de seus pais.
Os desafios da primeira infância
Avançando um pouco na linha do tempo de sua vida, ele reforçou como o período escolar foi desafiador. Porém, lembrou como o apoio de seus pais também foi fundamental para superar. “Um dia eu cheguei em casa triste, dizendo ao meu pai que haveria um concurso de desenho, mas que eu não participaria porque não conseguiria desenhar. Meu pai olhou pra mim e disse: ‘claro que você consegue. Se inscreva e veja o seu potencial’. Foi o suficiente para eu aceitar o desafio”. Dias não só conseguiu, como ganhou o seu primeiro prêmio na vida: o de melhor desenho da escola!
Os próximos desafios, segundo Dias, vieram de maneira ainda mais intensa, pois envolviam (entre outras coisas) o bullying. “Lembro que um dia decidi entrar para o time de futebol. O próprio professor questionou se eu tinha certeza daquilo, e eu disse que sim. “Se ficar para último na escolha dos jogadores é ruim, imagine só ficar para último e, ainda assim, os colegas de turma não quererem você no time. Eu poderia ter desistido ali, mas estava decidido a seguir em frente”.
No jogo, Dias era colocado próximo do gol adversário e recebia a ordem de não se mexer. “Aquilo se repetiu por algumas partidas, e todas ela nós perdemos”. Até que, um dia, ele se empoderou e disse tanto para o professor como para o time: “daqui em diante eu vou me mover no jogo. Assim o fez e, não só marcou gols, como dali para a frente passou a vencer alguns dos jogos.
Resiliência e propósito
Para correlacionar seus desafios com o mundo corporativo, Dias compartilhou algumas de suas experiências. Disse, por exemplo, que após cada prova nos jogos Paralímpicos, já começava a pensar na próxima competição, sempre buscando superar seus próprios resultados. Porém, salientou que muitos fatores podem fugir do controle, como lesões ou problemas com a infraestrutura de treinamento. “É preciso resiliência para continuar, mesmo quando as circunstâncias não são ideais”.
Para ele, a chave para lidar com essas adversidades está no propósito. “Não busque motivação, pois ela é passageira. Busque um propósito real que o faça levantar todos os dias e seguir em frente, apesar dos desafios”. Dias também ressaltou a importância de aproveitar o momento presente e valorizar as pequenas vitórias.
Segundo ele, assim como os atletas, nem sempre os colaboradores estão motivados e engajados. “Liderar uma equipe é desafiador, pois as pessoas têm dias bons e ruins. A chave é buscar propósito e encontrar formas de motivar e inspirar continuamente. E o sorriso tem uma capacidade incrível de mudar o ambiente e tornar os desafios mais leves”.
Diversidade e inclusão: um chamado à unidade
Fundador do Instituto Daniel Dias, ele ressalta a importância da diversidade e como ela deve nos unir, e não nos afastar. “Somos 8 bilhões de pessoas e cada um é único, mas iguais na capacidade de realizar nossos sonhos e objetivos”. Para ele, três pontos fundamentais devem ser considerados: foco, determinação e constância. “O problema não é a falta de conhecimento, mas a falta de constância”.
Ao compartilhar sua rotina extenuante de treinos, mostrou como a dedicação diária foi crucial para suas conquistas nas Paraolimpíadas. “O extraordinário é uma soma do ordinário. Portanto, a medalha de ouro é fruto da minha rotina de treinos”. Ainda assim, lembrou da importância do trabalho em equipe, como quando seu treinador o motivou a acreditar na vitória, mesmo diante de um adversário aparentemente imbatível. “Acredite em você e não perca o foco. Muitas vezes, precisamos de alguém para nos lembrar do nosso potencial”.
Superstição e justificativas: barreiras autoimpostas
Com bom humor, Daniel desmistificou superstições e justificativas que muitas vezes usamos para explicar nossas falhas. Contou como, apesar de todas as medalhas e recordes, nunca acordou “com o pé direito” — brincando pelo fato de ter nascido sem o membro.
Para ele, portanto, o sucesso vem da preparação e do foco, e não de detalhes insignificantes. “Nós somos especialistas em dar boas justificativas, mas precisamos parar com isso e focar no que realmente importa”, aconselhou.
Ao final da palestra com o público aplaudindo de pé, Dias deixou uma mensagem poderosa: “Saia da zona de conforto, mude, faça acontecer e tenha histórias para contar. Sorria para a vida e comece cada dia acreditando no seu potencial para alcançar o extraordinário”.
Daniel dias contabiliza mais de 100 medalhas em sua carreira esportiva, 27 delas olímpicas. Entre os prêmios, destaque para:
Jogos Parapan-Americanos:
- 2007 - Rio de Janeiro: 8 de ouro
- 2011 - Guadalajara: 11 de ouro
- 2015 - Toronto: 8 de ouro
- 2019 - 6 de ouro
Mundiais de Natação:
- 2006 - Durban: 3 de ouro e 2 de prata
- 2010 - Eindhoven: 8 de ouro e 1 de prata
- 2013 - Montreal: 6 de ouro e 2 de prata
- 2015 - Glasgow: 7 de ouro e 1 de prata
- 2017 - CDMX: 6 de ouro
- 2019 - Londres: 1 de ouro, 3 de prata e 3 de bronze
Jogos Paralímpicos:
- 2008 - Pequim: 4 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze
- 2012 - Londres: 6 de ouro
- 2016 - Rio de Janeiro: 4 de ouro, 3 de prata e 2 de bronze
- 2020+1 - Tóquio: 3 de ouro
Troféu Laureus (melhor atleta com deficiência do mundo):
- 2009
- 2013
- 2016