Desde que a pandemia da Covid-19 chegou ao Brasil, a quarentena e o isolamento social são medidas decretadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a propagação da doença e diminuir a curva de infectados no país. Talvez ainda não tenhamos tido tempo o suficiente para entender que as nossas vidas mudaram profundamente nos últimos meses e que os novos hábitos de consumo com os quais estamos aprendendo a lidar, provavelmente ficarão para sempre inseridos no mundo pós-coronavírus.
Antes da doença se espalhar por aqui, a expectativa era de que o e-commerce brasileiro, por exemplo, apresentasse um crescimento de 18% e alcançasse um faturamento de R$ 106 bilhões esse ano, de acordo com dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Apesar de ainda não termos números atualizados até o momento, acredito que a Covid-19 vai acelerar ainda mais a evolução do setor, já que incentiva consumidores digitais — que até então não eram tão engajados — a realizarem compras online.
As lojas virtuais devem estar preparadas para atender com eficiência todos os seus consumidores. Isso inclui aqueles que não estão formalmente inseridos no mercado financeiro e que, por isso, se veem sem muitas alternativas de pagamento para comprarem pela internet. Levando em consideração que o Brasil conta com 45 milhões de desbancarizados que movimentam cerca de R$ 800 bilhões anualmente, segundo o Instituto Locomotiva, o varejo será obrigado a oferecer novos meios de pagamento para proporcionar uma melhor experiência de compra aos clientes neste momento.
Esse movimento vem acompanhado de uma outra mudança de comportamento da sociedade: a utilização dos pagamentos por aproximação para conter o uso do dinheiro físico, uma vez que dispensam o contato com as cédulas e os cartões com as maquininhas, impedindo que algum objeto possivelmente contaminado toque as mãos. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela Mastercard — empresa que apresenta soluções de pagamentos — mostrou que 77% dos brasileiros têm usado o dinheiro com menos frequência ou abandonado o uso do papel moeda desde o início do surto de coronavírus.
Durante a quarentena, dezenas de shows digitais foram transmitidos ao vivo pelo YouTube, a fim de levarem entretenimento para os lares e arrecadarem doações em espécie, toneladas de alimentos e itens para hospitais e instituições de caridade em combate a pandemia. As lives, como são popularmente chamadas, além de conterem anúncios e fazerem propagandas de marcas reconhecidas no mercado, também incentivam o uso do QR Code e das carteiras digitais, por meio de aplicativos específicos que permitem aos doadores fazerem transações com segurança.
É até difícil acreditar que há mais de um ano esse método de pagamento vem tentando ganhar força no Brasil, por meio de projetos-pilotos, e que até então não tinha conseguido espaço. O cenário só caminhou no país por conta dos artistas e seus milhares de fãs, que estão sendo orientados pelos órgãos governamentais a permanecerem em casa. Em entrevista para um grande portal de notícias, o PicPay — conta digital aberta pelo celular que visa facilitar compras pela internet — afirmou ter participado de mais de 15 lives até o momento e arrecado mais de R$ 5 milhões de reais em doações. Com isso, podemos afirmar que, finalmente, os brasileiros estão criando uma familiaridade com a tecnologia.
É verdade que o dinheiro físico ainda é muito presente na vida das pessoas, mas com esse artigo quero mostrar que a Covid-19 já está impulsionando novos meios de pagamento e permitindo que mercados que antes engatinhavam, passem a ficar de pé. Antes que eu me esqueça: todos esses métodos de pagamentos dependem apenas de um dispositivo móvel como os smartphones. Alguém tem dúvida de que a inclusão financeira será o próximo efeito da pandemia? Vamos aguardar!