O setor logístico brasileiro se destaca como um dos mais promissores da economia. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o PIB do país apresentou revisão positiva, passando de 2,3% para 3,3% em 2023. Esse ano, a expectativa é de um crescimento de 2%, impulsionando o setor logístico.
Para aproveitar este assunto, entrevistamos Eduardo Canicoba, vice-presidente da Geotab, empresa global de soluções de transporte — atende clientes como PepsiCo e Mercado Livre. A ideia foi explorar o cenário do e-commerce brasileiro sob a ótica da logística e entender os desafios e soluções encontrados.
ECBR – Como a utilização de tecnologias de Inteligência Artificial está impactando a eficiência na roteirização das entregas no e-commerce brasileiro?
Canicoba – A implementação de tecnologias de inteligência artificial está revolucionando a eficiência na roteirização de entregas last mile no setor de e-commerce no Brasil. Os algoritmos avançados de IA analisam uma variedade de dados em tempo real, como tráfego, estado do motor e do veículo, e histórico de viagens e paradas, que possibilitam a otimização das rotas de entrega. Isso reduz significativamente o tempo de percurso e os custos associados, como o consumo de combustível, e melhora a experiência do cliente ao garantir entregas mais rápidas, baratas e confiáveis — fatores essenciais em um mercado competitivo.
Além disso, a IA melhora a eficiência de custos e a segurança dos motoristas, identificando potenciais falhas mecânicas antes que elas ocorram, o que evita interrupções nas entregas e reduz o risco de acidentes. Adicionalmente, os sistemas baseados em IA também podem detectar sinais de fadiga, distração ou condução agressiva, possibilitando intervenções proativas para prevenção de acidentes pelos gestores.
ECBR – Quais as principais tendências em logística no e-commerce brasileiro para os próximos anos, considerando o aumento das vendas online e a exigência cada vez maior do cliente por uma experiência perfeita?
Canicoba – A logística de e-commerce é essencialmente dedicada a entregas de última milha e existem diferentes perfis de transportadoras. A demanda crescente por compras online pressiona cada vez mais por fretes mais rápidos e mais baratos e essa equação se resolve com tecnologia.
Acredito que a grande tendência é a excelência no controle de custos. Afinal, são frotas grandes e a melhoria em qualquer variação de indicadores, quando replicada para um universo maior de veículos, causa um grande impacto financeiro. Além disso, a segurança dos motoristas e o processo de eletrificação das frotas também estão no radar dos gestores.
Estar na vanguarda dessas tendências requer o uso de softwares de gestão e ferramentas da IA, que auxiliam na análise de informações e dados. E, neste processo, a eficiência da entrega de última milha é especialmente importante, pois influencia diretamente a experiência do cliente.
Além desses pontos, a preocupação com o meio ambiente é uma tendência global. Empresas devem adotar práticas sustentáveis na logística, como uso de veículos elétricos e o transporte ecoeficiente.
ECBR – Nos EUA, a entrega em até 3 horas já é uma realidade, com empresas como Target, Amazon e Walmart apostando cada vez mais nisso. Você acha que é possível esse modelo rodar no Brasil hoje? O que implica para que ele seja assertivo?
Canicoba – No Brasil, a implementação de entregas ultrarrápidas apresenta desafios específicos. Embora o modelo já seja uma realidade nos EUA, sua viabilidade no Brasil depende de vários fatores, como a infraestrutura logística e custo do frete para centros mais distantes.
As longas distâncias entre centros de distribuição e regiões mais afastadas, somadas a condições precárias das rodovias, oneram a entrega em relação ao tempo, custos de combustível e de manutenção, que encarecem a operação.
Além disso, a entrega ao cliente final é a última etapa do processo logístico e diz respeito à gestão de eficiência. Para atingir o patamar de entregas em até três horas, o desafio é de toda a cadeia de suprimentos.
No que diz respeito à eficiência, é crítico ter um planejamento operacional detalhado de ações, a partir dos dados gerados pela frota, e promover a cultura de melhoria contínua. A tecnologia é uma aliada, pois gera dados dos veículos em tempo real, oferece informações preditivas e indica as oportunidades de otimização.
Para que o modelo seja assertivo, é necessário que o gestor esteja atento às informações para implantar as iniciativas e corrigir os gaps. Com mais visibilidade sobre as operações, é possível pensar em estratégias para diminuir o tempo de entrega e garantir a satisfação dos clientes.
ECBR – Quais são as oportunidades emergentes para os lojistas de e-commerce brasileiros na otimização da cadeia de suprimentos e na redução dos custos logísticos?
Canicoba – No processo logístico de e-commerce, a grande oportunidade está para as transportadoras, que podem integrar soluções como plataformas de telemática em suas operações para otimizar a cadeia de suprimentos e reduzir custos.
Com o apoio dos dados e com mais visibilidade sobre as operações, é possível corrigir falhas relacionadas a eficiência das operações, como comportamentos inadequados dos motoristas, direção agressiva e o tempo ocioso do veículo estacionado com o motor ligado durante as entregas, que podem trazer prejuízos financeiros e de reputação para as companhias.
Além disso, também é possível monitorar o estado do veículo, identificar e antecipar problemas de manutenção, relacionados a desgaste dos pneus, nível de combustível e temperatura do motor.
Para os lojistas, com a otimização de tempo e custos, a oportunidade se encontra na oferta de prazos de entregas mais rápidos, assertivos e com custos controlados.
ECBR – Como você percebe a abordagem da logística reversa pelos lojistas de e-commerce no Brasil, especialmente diante do aumento das devoluções de produtos?
Canicoba – A implementação de uma logística reversa também exige uma gestão eficiente da frota e, para isso, aplica-se a mesma necessidade da tecnologia para monitorar e otimizar as operações nas duas etapas do processo: a entrega e a coleta do objeto. Quando há eficiência nesses dois momentos, os benefícios se estendem à toda a cadeia.
Apesar de não termos um contato direto com os lojistas de e-commerce, analisando as demandas e desafios dos nossos clientes, identificamos que muitos (lojistas) estão investindo em infraestrutura de logística reversa para lidar com o aumento das devoluções. Isso inclui parcerias com empresas que oferecem serviços de devolução conveniente para os clientes, como pontos de coleta ou agendamento de retirada.
ECBR – Quais os impactos da logística sustentável no e-commerce brasileiro? Você reconhece alguma atenção das empresas em busca da redução da pegada ambiental nas operações de entrega? O que a logística sustentável pode trazer de benefícios ao negócio além da questão do impacto global?
Canicoba – Além de reduzir o impacto ambiental, as práticas de logística sustentável, como a adoção de veículos elétricos e ações para reduzir o consumo de combustível e o tempo ocioso nas entregas, pode resultar em economia de custos para as empresas a longo prazo, relacionados à manutenção e à eficiência.
Além disso, com o aumento da regulamentação ambiental em todo o mundo, e da demanda dos consumidores por ações afirmativas por parte das companhias em prol do meio ambiente, esse movimento é cada vez mais essencial para a conformidade legal e para a reputação das empresas.
No e-commerce, muitas transportadoras e frotas próprias de última milha que atendem o segmento no Brasil estão começando a adotar veículos elétricos para reduzir o impacto ambiental de suas operações de entrega. O Mercado Livre, por exemplo, conta com uma frota de aproximadamente 700 VEs.
ECBR – Qual é o principal desafio logístico enfrentado pelo e-commerce na distribuição de alimentos frescos no Brasil? Indique algumas estratégias mais eficazes para garantir a qualidade e a segurança desses produtos durante o transporte e armazenamento?
Canicoba – Os principais desafios no transporte de alimentos frescos são a segurança, o controle de temperatura e a agilidade na logística de última milha. A entrega rápida e eficiente dos alimentos frescos até a porta do cliente é fundamental para garantir que os produtos cheguem em condições ideais. Isso pode ser desafiador, especialmente em áreas urbanas densamente povoadas ou em regiões remotas.
Para enfrentar esses desafios e garantir a qualidade e segurança dos alimentos frescos durante o transporte e armazenamento, o uso de tecnologia de monitoramento e sensores de temperatura permite às empresas acompanharem o status dos produtos em tempo real e identificarem rapidamente qualquer desvio das condições ideais.