Pois é, imagine que quero ver você e sua empresa num fosso fundo e largo. Warren Buffet tambem quer… Antes de execrar três gerações da minha família ou me cancelar, deixe-me explicar o que quero dizer com isso…
Você já ouviu falar do conceito de fosso como estratégia empresarial? Deixe-me compartilhar contigo o que aprendi e entendi sobre esse assunto.
O termo “moat” (fosso, em inglês) foi criado por Warren Buffet e representa uma vantagem competitiva a longo prazo que uma empresa constrói em relação aos concorrentes do mesmo setor.
Vamos viajar por um momento até a Idade Medieval. Imagine que você esteja prestes a invadir um castelo. Agora, visualize duas opções:
a) Um castelo cercado por um longo e profundo lago.
b) Um castelo cercado por pouca água.
Certamente o seu general escolheria o castelo mais fácil de invadir, aquele que parece menos protegido, mais próximo do solo e com uma pequena faixa de água ao redor.
Essa faixa de água é o moat/fosso. Quanto mais largo e profundo, mais protegido o castelo estará.
Agora voltemos ao presente. Vamos aplicar essa metáfora ao nosso dia a dia. Uma empresa com um diferencial competitivo difícil de ser copiado, alcançado ou superado será um concorrente difícil ser conquistado, concorda? Posto isso, a tendência é de que o capital flua para as áreas de maior potencial de retorno, de modo que, devido à alta concorrência, as empresas acabam forçando para baixo os altos retornos sobre o capital. No entanto, outras conseguem gerar altos retornos por um longo período.
Como? Construindo um fosso largo e profundo ao redor de seus negócios.
Estamos, na prática, falando de um moat/fosso econômico, que permita a uma empresa gerar retornos econômicos excepcionais por um período prolongado, gerando, entre outras coisas, fluxos de caixa mais previsíveis, mitigação de riscos e atratividade, o que cria uma espiral positiva. Quanto maior a taxa de retorno mantida ao longo do tempo, maior a capacidade de investir, maior o crescimento dos lucros, maior o fosso fica. E quanto maior o fosso, maiores as chances de os benefícios citados se repetirem num looping sinérgico.
Resumindo: fossos tornam os negócios mais duráveis e permitem que sustentem retornos mais altos por mais tempo. Isso também significa que as empresas podem reinvestir esses lucros a taxas superiores às de seus concorrentes.
E quais são os tipos de fosso?
Em geral, existem cinco tipos:
1. Custos de mudança
Quando os custos de mudança superam o valor esperado dos benefícios, surgem os custos de mudança. Empresas com custos de mudança elevados geralmente têm grande poder de precificação. Exemplos disso são Oracle e Salesforce.
2. Ativos intangíveis
Estamos falando de marcas, patentes e licenças regulatórias. Esses ativos intangíveis impedem que os concorrentes reproduzam os produtos de uma empresa com facilidade, proporcionando uma vantagem competitiva duradoura. Ou uma marca tão forte que gere uma propensão de escolha pelo seu produto nos clientes em detrimento dos concorrentes. Exemplos disso são Coca-Cola e Apple.
3. Efeitos de rede
Uma das fontes preferidas de um fosso econômico, o valor de um produto ou serviço aumenta e se torna mais valioso à medida que mais pessoas o utilizam. A Microsoft foi um fosso por anos, Facebook e Instagram também, mas hoje o TikTok já está fazendo sombra (isso é um assunto para outro artigo).
4. Vantagens de custo
Quando uma empresa pode operar com custos sustentáveis mais baixos do que os dos concorrentes, as vantagens de custo são criadas. Ikea e Walmart são duas empresas com fortes vantagens de custo, por exemplo.
5. Escala eficiente
Em um mercado de tamanho limitado, novos concorrentes em potencial têm pouco incentivo para entrar porque isso reduziria os retornos do setor abaixo do custo de capital. Ups nos Estados Unidos, por exemplo.
Um fosso garante vantagem competitiva em relação a seus concorrentes
E no Brasil, quais seriam os exemplos? Podemos citar alguns:
Ambev: a Ambev é uma das maiores empresas de bebidas do mundo e possui um MOAT consolidado devido à sua ampla rede de distribuição, marcas fortes e economias de escala. A empresa detém marcas populares como Brahma, Skol, Antarctica, entre outras, e tem uma ampla presença no mercado brasileiro. Além disso, a Ambev possui uma extensa rede de distribuição, o que lhe confere uma vantagem competitiva significativa.
Petrobras: a Petrobras é uma das maiores empresas de energia do Brasil e possui um MOAT baseado em suas vastas reservas de petróleo e gás, bem como em sua infraestrutura de exploração e produção. A empresa detém conhecimentos técnicos avançados e uma cadeia de suprimentos complexa, o que torna difícil para novos concorrentes entrarem no mercado e competirem em igualdade de condições.
Embraer: a Embraer é uma fabricante brasileira de aeronaves e possui um MOAT baseado em sua expertise em engenharia aeronáutica, tecnologia de ponta e forte presença no setor de aviação regional. A empresa tem uma reputação global por sua qualidade e inovação, e sua posição consolidada no mercado de aviação regional dificulta a entrada de novos concorrentes.
Tudo muito bom, tudo muito bem, agora a pergunta de milhões… E no nosso varejo? No commerce brasileiro?
O varejo e o mercado digital brasileiro têm uma competição muito forte, cada vez mais acirrada ao longo dos anos. Empresas como Americanas, Walmart.com, Magazine Luiza e Via Varejo não conseguiram consolidar um fosso devido à intensa competição entre si. Essa competição feroz, cliente por cliente, CAC por CAC, fez com que muitos ignorassem o crescimento do que eu considero o único fosso no varejo brasileiro: o Mercado Livre.
O que sustenta essa afirmação
Liderança no comércio eletrônico: o Mercado Livre é uma das principais plataformas de comércio eletrônico na América Latina, com uma posição dominante em diversos países, incluindo o Brasil. Sua marca é amplamente reconhecida e confiável pelos consumidores, o que gera uma base de usuários fiel.
Rede de vendedores e compradores: o Mercado Livre possui uma extensa rede de vendedores e compradores em sua plataforma. Essa base de usuários é difícil de ser replicada, o que cria uma vantagem competitiva significativa. A rede de vendedores atrai compradores em busca de uma ampla variedade de produtos, enquanto que a presença de compradores atrai vendedores interessados em alcançar um grande público.
Infraestrutura logística: o Mercado Livre tem investido em uma infraestrutura logística robusta para facilitar as operações de venda e entrega dos produtos. Isso inclui parcerias com empresas de logística e o desenvolvimento de centros de distribuição. Essa infraestrutura melhora a eficiência e a velocidade das entregas, oferecendo uma melhor experiência para os usuários e criando uma barreira de entrada para novos concorrentes.
Mercado Pago: o serviço de pagamentos online oferece aos usuários uma forma segura e conveniente de efetuar transações financeiras na plataforma. A integração entre o e-commerce e o sistema de pagamentos cria uma sinergia que aumenta a fidelidade de clientes e usuários, criando um fosso adicional. Sem falar nas transações realizadas fora do site.
Experiência do usuário e confiança: o Meli tem se dedicado a oferecer uma experiência positiva para seus usuários, implementando recursos como avaliações de vendedores, políticas de proteção ao comprador e um atendimento ao cliente eficiente. Esses esforços aumentam a confiança dos usuários na plataforma, fortalecendo o fosso da empresa.
Encontrar e/ou criar fossos talvez não seja nem o maior desafio, se pararmos para pensar. O verdadeiro desafio é conservar-se como um fosso, sem permitir que os concorrentes repliquem suas vantagens competitivas. Chave para garantir que seu castelo não seja invadido.
O importante é ter a clareza sobre suas vantagens competitivas e buscar constantemente aprimorá-las, garantindo assim uma posição de destaque e proteção contra a concorrência.
Quero saber sua opinião: você enxerga algum outro fosso no nosso cenário digital brasileiro ou no nosso varejo?