Logo E-Commerce Brasil

Quatro fatores que influenciam as divergências entre o comércio eletrônico no Brasil e em países asiáticos

Por: Vanessa Bianculli

Gerente Executiva

Com mais de 15 anos de atuação em lideranças de times comerciais e de marketing, assumiu como Gerente Executiva de Sales e Marketing no Melhor Envio em julho de 2023, após experiências em grandes nomes do varejo nacional, como Riachuelo, Netshoes e Centauro. Tem formação em Administração de Empresa e MBA em Gestão de Negócios pela USP ESALQ, Especialização de gerência de Produto pela FGV e formação de Design de Moda pela UNIP.

Ao mesmo tempo em que o comércio eletrônico revoluciona a forma como a população consome produtos e serviços, o setor também se estabelece como uma força poderosa no cenário econômico global. Impulsionado por avanços tecnológicos, aumento da conectividade e mudanças no comportamento do consumidor, que incluem as alterações pós-restrições de isolamento, o Brasil é um dos países que testemunharam esse notável crescimento nos últimos anos.

De acordo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, em 2023, as vendas do setor chegaram a R$ 185,76 bilhões, um aumento de 10% em comparação ao ano anterior, representando mais de 10% das vendas no varejo. No entanto, quando comparado ao mercado asiático, torna-se evidente que essas regiões têm trajetórias distintas quando falamos em e-commerce.

Descubra como o e-commerce transforma a economia no Brasil e na Ásia, impulsionado por tecnologia, infraestrutura logística e regulamentações. Entenda as diferenças culturais e os desafios enfrentados por cada região.

Na China, por exemplo, dados da empresa de pesquisa de mercado eMarketer, referentes a janeiro e a fevereiro de 2021, apontaram que as vendas efetuadas em lojas digitais ultrapassaram o total de todas as vendas realizadas em estabelecimentos físicos, representando 52,1% do consumo total. Em segundo lugar, ficou a Coreia do Sul, com 28,9%.

Mesmo com o sucesso de marcas entre os brasileiros – dos dez e-commerces mais acessados no país, um quarto é asiático, segundo o Relatório dos Setores do E-commerce, divulgado pela Conversion -, há alguns fatores que influenciam essas divergências, como adoção tecnológica, infraestrutura logística, regulamentações governamentais e o impacto da cultura das nações. Abaixo, deixo a explicação e comparação sobre cada um deles:

1. Adoção tecnológica

O primeiro ponto a ser mencionado está relacionado à comparação tecnológica entre as nações. Enquanto os países asiáticos, especialmente a China, se destacam como líderes incontestáveis em inovação e adoção tecnológica há tempos, o Brasil ainda enfrenta desafios relacionados à infraestrutura digital e ao acesso à internet em algumas áreas remotas do país. Apesar da alta penetração de dispositivos móveis entre os brasileiros, que se configuram em 5º lugar no ranking de usuários de smartphones do mundo, segundo um estudo divulgado pelo The World Bank e Statista, enquanto a China está na primeira posição, a disponibilidade de conexões de internet de alta velocidade em âmbito nacional é um fator crucial para o crescimento do setor e, nesse aspecto, os países asiáticos têm uma vantagem bem considerável. Além disso, soluções de pagamento digital e o uso generalizado de plataformas de mídia social como ferramentas de comércio eletrônico também são características proeminentes do mercado asiático que destacam sua posição de vanguarda tecnológica.

No entanto, nos últimos anos, o Brasil tem avançado gradualmente em termos de tecnologia, com um número crescente de empresas e consumidores adotando soluções digitais para compras online, além da chegada do 5G ao país.

2. Infraestrutura logística

Neste tópico, novamente é ponto para a Ásia. Enquanto os países do continente têm se destacado por suas infraestruturas logísticas altamente eficientes e avançadas, o Brasil enfrenta desafios relacionados à sua vasta extensão territorial, complexidade tributária e infraestrutura de transporte menos desenvolvida em algumas áreas. Na Ásia, notavelmente na China, gigantes do e-commerce têm estabelecido redes logísticas extremamente eficazes, com sistemas de entrega rápida e serviços inovadores, permitindo que os consumidores recebam seus pedidos em prazos reduzidos. Além disso, a adoção de tecnologias como a inteligência artificial e o uso de drones e veículos autônomos para entregas têm impulsionado ainda mais as entregas. Por outro lado, o Brasil enfrenta desafios logísticos devido à sua vasta geografia e infraestrutura de transporte menos desenvolvida, o que pode resultar em prazos de entrega mais longos e custos mais elevados.

É importante destacar que o Brasil tem buscado melhorar sua infraestrutura e enfrentar esses desafios, buscando soluções inovadoras para tornar as operações de e-commerce mais ágeis e eficientes, mas ainda está longe do ideal. Segundo pesquisa da Quanta Consultoria, cerca de R$ 267 bilhões em entregas perdem movimentação no mercado devido à dificuldade de locomoção no país.

Analisando, hoje, no país, pouquíssimas empresas são autorizadas a fazer entregas por meio de veículos aéreos não tripulados – os drones, por exemplo -, o que pode ser uma incrível solução para esse problema. Uma pesquisa realizada pela Drone Industry Insights estima que, até 2026, esse recurso pode ajudar a movimentar aproximadamente US$ 373 milhões anuais, se atingir os investimentos necessários pela indústria local.

Apesar das diferenças notáveis, a comparação logística entre o Brasil e a Ásia revela a importância crítica da logística no sucesso do comércio eletrônico e ressalta a necessidade contínua de melhorias para impulsionar o crescimento sustentável do setor em ambas as regiões.

3. Regulamentações governamentais

Enquanto alguns países asiáticos têm implementado políticas pró-inovação e incentivado o desenvolvimento do e-commerce, o Brasil ainda enfrenta um cenário regulatório mais complexo e muitas vezes restritivo. A China, por exemplo, criou zonas de livre comércio e desenvolveu programas específicos para promover a expansão do e-commerce, enquanto o Brasil lida com questões relacionadas a impostos, burocracia e regulamentações fiscais que podem dificultar a operação de empresas do setor, especialmente para pequenos empreendedores. Além disso, as regulamentações de proteção ao consumidor e privacidade de dados podem variar entre as duas regiões, afetando a confiança do consumidor nas compras online. Embora o Brasil tenha feito esforços para modernizar suas leis e regulamentações relacionadas ao e-commerce, a comparação com a Ásia destaca a importância de uma abordagem governamental favorável e ágil para promover um ambiente propício ao crescimento do digital, estimulando a inovação e protegendo os direitos dos consumidores.

4. Impacto cultural

É claro que não posso deixar de citar outro fator extremamente relevante: a cultura das populações. Enquanto o Brasil é marcado por uma diversidade cultural rica com influências de diferentes origens étnicas, a Ásia é uma região composta por nações com culturas distintas e milenares. Essas características culturais moldam os hábitos de compra e as expectativas dos consumidores em cada local.

No Brasil, a interação social e o aspecto lúdico das compras são valorizados, e a preferência por lojas físicas ainda é alta, especialmente em certas categorias de produtos. Segundo um estudo divulgado pelo Melhor Envio, Moda é a categoria que mais vende na internet entre os brasileiros. Já na Ásia, a cultura de negociação e a importância dada ao coletivismo e às opiniões sociais são refletidas nas decisões de compra e na influência das redes sociais no e-commerce. Segundo dados divulgados em junho pelo Ministério de Comércio da China, oito das 18 categorias de bens monitoradas pela entidade registraram crescimento de dois dígitos no primeiro semestre de 2023 – especificamente as vendas de ouro, prata e joias aumentaram 33,5%, enquanto as vendas de equipamentos de comunicação aumentaram 23,3%.

A percepção de segurança nas transações online e a confiança nas marcas também são influenciadas pelas normas culturais em cada região. Enquanto a cultura chinesa é baseada em valores coletivistas, em que a lealdade à família, à comunidade e às marcas é valorizada, o Brasil, sendo uma cultura de alto individualismo, valoriza a confiança pessoal nas transações.

No ranking da América Latina e Caribe, divulgado pela Fortinet, o Brasil é o segundo com mais registros de ataques cibernéticos. Por isso, os brasileiros também podem ser mais cautelosos em relação às transações online. A segurança das informações pessoais é um fator crucial na construção da confiança do consumidor. Enquanto isso, a China é líder global no uso de pagamentos móveis.

Ambos os países possuem características culturais distintas que moldam a forma como os consumidores percebem a segurança nas transações online e confiam nas marcas. Portanto, as empresas que operam nesses mercados devem estar cientes dessas nuances culturais e adaptar suas estratégias de marketing e segurança de acordo com as expectativas dos consumidores locais. A construção da confiança do cliente e a segurança de suas informações são essenciais para o sucesso das operações online em ambos os países.