À primeira vista, o universo de assuntos que tratamos pela sigla de ESG (do inglês “Environmental, Social and Governance”) pode parecer de uma complexidade sem fim, especialmente para empreendedores e líderes que atuam na linha de frente de pequenos e médios negócios, com equipes reduzidas ou, em determinados casos, em jornada solo. Por isso, descontruir essa visão é o primeiro passo para deixarmos de lado a inércia e entrarmos numa espiral de ações que, mesmo simples, têm o poder de proporcionar diferentes vantagens competitivas para qualquer tipo de empresa. Antes de seguirmos, como curiosidade, vale dizer que a tradução para a sigla em português é ASG, de Ambiental, Social e Governança.
Destrinchando o ESG
Ao fazer contratações que respeitem as leis trabalhistas, por exemplo, estamos contribuindo para o pilar Social. Quem destina corretamente os resíduos de uma fábrica, seguindo as leis ambientais, está fazendo o seu papel em termos de Meio Ambiente. Ao longo dos anos, acompanhando os mais variados projetos, entendi que mesmo quando o empreendedor lida com a falta de recursos – tempo, dinheiro, equipe etc. – há sempre a possibilidade de canalizarmos esforços para os assuntos que fazem parte do pilar Governança.
Em outras palavras: quando atuamos em conformidade com a legislação e as regras de negócio estabelecidas com o restante da cadeia de que fazemos parte, de fornecedores a clientes, passando por colaboradores, automaticamente teremos uma empresa que é aderente ao contexto geral de ESG. A base de todo trabalho ligado à sustentabilidade está em quão eficientes podemos ser na hora de nos mantermos aderentes às regras. “Mas isso não é o básico?”, você pode se perguntar e, infelizmente, a minha resposta é “deveria ser”.
Comportamentos corporativos no Brasil
Por uma série de fatores econômicos, sociais e culturais, o Brasil é um cenário muito plural em termos de comportamentos corporativos e há decisões que miram o sucesso, mas pecam por infringirem a lei ou algum combinado entre fornecedor e cliente, por exemplo. Há quem prefira se pautar pelo que pode gerar mais ganhos. Por exemplo, na hora de abrir uma empresa, é fundamental ter em mente a finalidade do negócio para determinar características básicas de uma pessoa jurídica, como o tipo de empresa. Ao optar por ser uma MEI (microempreendedor individual) ou uma ME (microempresa), o empreendedor está se comprometendo com aspectos como atividade e rendimento bruto anual. É claro que isso vai ter impacto no montante final de impostos a serem recolhidos, direta ou indiretamente, mas isso é uma consequência, não pode ser o motivador da escolha.
Quer outro exemplo? É preciso refletir e investir tempo na hora de optar pelo CNAE, sigla para Classificação Nacional das Atividades Econômicas. De acordo com os produtos e/ou serviços que irá ofertar ao mercado, você terá um pacote de responsabilidades e não podemos tentar escolher as que mais nos agradam ou parecem simples. Aqui, de novo, não podemos tomar a decisão de trás para frente, tendo em mente a escolha que irá gerar um custo total menor (não só financeiro, mas em todos os sentidos).
Ainda que pareça atrativo, pensar mais nos benefícios que podemos colher no presente imediato é uma armadilha para quem deseja criar negócios que possam ter uma longa vida. Conhecendo a mente dos empreendedores, acredito que todos buscam criar e manter uma empresa por muitos e muitos anos. Por isso, precisamos empregar toda a nossa atenção aos detalhes desde o momento zero de vida dessa pessoa jurídica.
Condutas antiéticas e transparência
Hoje, em um ambiente altamente conectado, digital, é questão de tempo para que condutas antiéticas sejam descobertas, e o preço disso sempre será muito mais alto do que “fazer o que é certo”, como disse no início do nosso papo. Quando olhamos para o varejo digital, as grandes marcas, responsáveis pela gestão dos ambientes mais disputados, são muito rigorosas na avaliação dos seus vendedores em suas plataformas (também conhecidos como “sellers”). Pela dimensão que o comércio digital tomou no Brasil, especialmente pós-pandemia, pode até ser que demore um pouco, mas o fato é que os vendedores serão, em algum momento, auditados. Nesse momento, todos que estão fora de conduta, fora de compliance, desejam voltar no tempo para que pudessem feito a coisa certa. Vejo isso todos os dias, uma vez que contratos importantes podem ser desfeitos em instantes, por deslizes mínimos.
Outro ponto de atenção cada vez mais relevante é a transparência em relação à cadeia de fornecimento do seu negócio. De novo, isso parece muito simples, mas é fundamental ter a capacidade de comprovar a origem dos produtos que você comercializa. Manter a documentação organizada e atualizada são atitudes totalmente aderentes ao pilar Governança de ESG. As equipes que gerenciam os maiores e melhores marketplaces do Brasil conhecem de cor as tentativas de contornar as regras do jogo.
Em questão de segundos, podemos identificar se um determinado fornecedor decidiu ter vários CNPJs, em vez de um, apenas para tentar pagar menos tributos. Ou, então, se o CNAE está correto para o produto ofertado. Na atualidade, diria que é impossível burlar o sistema. Trata-se de uma questão de tempo e irão sobreviver – ou melhor dizendo, vencer! – os que optam por tomar as decisões corretas. Nesse sentido, a minha dica final é: comunique-se! Faça bom uso das tantas possibilidades de comunicação para compartilhar tudo o que tem feito. De alguma forma, é natural que a gente fique com aquela sensação de “mas isso é tão básico, será que devo destacar isso, divulgar como se fosse uma conquista?”. E por parte de quem atua do outro lado do balcão, posso dizer que o básico, quando bem-feito, tem muito valor! Use as redes sociais e os canais diretos de comunicação com seus parceiros para falar do zelo que tem pelo que é certo. Encontre formas que tenham a ver com a sua marca e explique o que o levou a tomar as decisões certas. Os seres humanos são apaixonados por boas histórias, e eu tenho certeza de que você deve ter ótimas delas para contar. Então, faça isso!