Na próxima semana, dia 20/04, a Caixa Econômica Federal começa a liberar o saque de parte do FGTS. Pela estimativa do Ministério da Economia, serão liberados cerca de R$ 30 bilhões para 42 milhões de pessoas. Como mostramos recentemente, as vendas no varejo (apesar da inflação e dos reflexos da guerra entre Ucrânia e Rússia) seguem em ascensão pelo Brasil. Para traçar uma estratégia de vendas, entrevistamos Felipe Mendes, Diretor Geral da GfK na América Latina, a fim de entender o cenário e as possibilidades que a liberação do FGTS pode proporcionar aos lojistas de e-commerce.
Segundo Mendes, não há dúvidas de que ambas as notícias são positivas para o consumo. “No entanto, é importante ajustar as expectativas, entendendo o que está ocorrendo no mercado”, frisou. Para tanto, o executivo destacou 3 situações a serem levadas em conta:
Privilegiados
Em geral, os mais privilegiados trabalham na indústria do conhecimento ou em escritórios. Portanto, seguem em home-office, ainda que parcial. “Neste caso, têm renda média mais alta e deixaram de viajar e gastar com restaurantes e serviços pessoais. Ou seja, puderam economizar na pandemia e estão dispostos a gastar essa economia”. Para esse perfil, segundo Mendes, o FGTS é um complemento, mas não necessariamente algo que estão precisando para tomar decisões de compra.
Remediados
Pertencem ao grupo dos que mantiveram o emprego. Em geral trabalham no varejo ou em fábricas, tendo portanto voltado ao dia a dia fora de casa já há bastante tempo. “São pessoas que estão sempre contando suas economias para poder comprar o que precisam para suas casas. Neste caso, a liberação do FGTS funciona como um ‘bônus’, seja para comprar novas coisas ou quitar dívidas, como parcelas de financiamento, crediários de eletrodomésticos, etc.”.
Endividados
Infelizmente são pessoas que passam por situação de emprego precária. Ou seja, nem sempre possuem direito ao FGTS. Em geral, segundo o especialista, compram a crédito e estão com dificuldade de pagar suas parcelas. “A recuperação do emprego ainda é lenta e não tem poupança. Suas necessidades são mais básicas e o Auxílio Brasil tem mais efeito do que a liberação do saque do FGTS”.
Outro elemento importante apontado por Mendes é que, com os juros mais altos e a inflação persistente, a disposição a gastar é menor que em 2020 e início de 2021. Também é fato que muita compra de bens duráveis já foi feita. Entretanto, Mendes cita algumas categorias que tem potencial de vendas com a liberação do FGTS:
- Televisores – pela Copa do Mundo, é sempre um potencial. Afinal, trata-se de uma categoria que sofreu mais nos últimos meses e a redução do IPI pode ajudar bastante. Neste caso, para “Privilegiados” e “Remediados”;
- Celulares – também pela Copa do Mundo. Com o acesso cada vez mais “mobile”, tem potencial para acelerar crescimento. Modelos mais caros, aproveitando a exposição que o 5G começará a ter, será atrativo para “Privilegiados”. Entretanto, é uma categoria que os 3 públicos poderão ir atrás;
- Ar-condicionado – pode surpreender, já que a Copa irá ocorrer próxima ao Verão, da mesma forma. Aliás, refrigeradores, Freezers, Micro-ondas e Fritadeiras / Air Fryers podem pegar a mesma carona.
“Em resumo, as marcas e varejos precisarão trabalhar para gerar consumo. Copa do Mundo, redução do IPI e liberação do FGTS ajudarão”, disse o executivo. Porém, completou que “as vendas não virão tão facilmente quanto em 2020 e o 1º semestre de 2021”.
Por Giuliano Gonçalves, da redação do E-Commerce Brasil