Em tempos de pandemia, o e-commerce veio para ficar, abrindo espaço também para fabricantes de eletrodomésticos e eletrônicos terem suas próprias lojas online. O chamado “D2C” (direto ao consumidor) é uma das estratégias de atração e retenção de clientes da Whirlpool, detentora das marcas Brastemp, Consul e Kitchen Aid, e da Eletrolux.
De acordo com pesquisa do Ibre/FGV, antes da pandemia, a maior parte das vendas do varejo na categoria eletrodomésticos e móveis se concentrava nas lojas físicas: 6 em cada 10 empresas ouvidas afirmaram que as vendas online eram menos de 20% do total.
Após a quarentena, a proporção se inverteu: agora, 6 em cada 10 empresas dizem que mais de 20% das suas vendas nessa categoria acontecem por canais virtuais.
Movimento semelhante acontece na indústria. Segundo o levantamento do Ibre, 58% das fabricantes de bens duráveis (categoria que inclui eletrodomésticos e eletrônicos, entre outros) passaram a adotar novos canais de vendas depois da pandemia.
Investimento em eletrodomésticos
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, com as mudanças de hábito promovidas pelo distanciamento social imposto pelo coronavírus, a Whirlpool vê oportunidades de vendas conforme os consumidores passam a investir mais em produtos para a casa e cozinha, segundo relatório de resultados apresentado na quarta-feira (22).
A Electrolux faz avaliação parecida. O crescimento das vendas digitais, apesar do freio no consumo no período, reforça a estratégia online da empresa e acelera o desenvolvimento de serviços de e-commerce próprios, afirma o presidente da empresa, Jonas Samuelson, no relatório de resultados do segundo trimestre, publicado no dia 17.
O setor também espera que os efeitos da pandemia sobre as prioridades e a rotina do consumidor levem a um aumento na demanda por produtos associados a saúde e higiene. A Electrolux, por exemplo, vê potencial no aumento na demanda por aspiradores de pó, filtros de água e ar e máquinas de lavar louça e roupa.
As vendas online no Brasil de eletrodomésticos e produtos de ar e ventilação cresceram 95,4% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, afirma André Dias, diretor-executivo do Neotrust/Compre&Confie.
O dado leva em conta tanto marketplaces do varejo quanto e-commerces de fabricantes.
Investimento e desafios do setor
O investimento em lojas virtuais próprias não é novidade entre a indústria, mas se acelera na conjuntura atual, afirmou Dias à reportagem. O movimento coloca um desafio para os marketplaces do varejo, uma vez que a indústria consegue oferecer preços menores, já que elimina o elo intermediário.
“É necessária uma concertação entre varejo e indústria para não gerar discrepâncias no preço e canibalizar as vendas do varejista”, segundo Dias. Ele diz que, para além do preço, outros fatores influenciam a decisão de compra, como custo do frete, tempo de entrega e opções de pagamento.
Um desafio para expandir a atuação online é a operação logística das entregas. Apesar do crescimento das vendas online no Nordeste durante a pandemia — foi a região cuja participação mais cresceu no período —, esse mercado ainda é concentrado no Sudeste. Nesse sentido, a capilaridade das redes de varejo favorece sua operação online, avalia Dias.
No entanto, grandes marketplaces sem loja física vêm criando novos centros de distribuição para ampliar seu alcance. Em junho, o Mercado Livre anunciou a abertura de um centro de distribuição na Bahia, o primeiro fora de São Paulo. Em dezembro, a Amazon também abriu um centro de distribuição no Nordeste, localizado em Pernambuco.
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