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Homenagem à Jack London: uma história de pioneirismo e inovação

Por: Alice Wakai

Jornalista, atuou como repórter no interior de São Paulo, redatora na Wirecard, editora do Portal E-Commerce Brasil e copywriter na HostGator. Atualmente é Analista de Marketing Sênior na B2W Marketplace.

Jack London, criador da Booknet, considerada a primeira loja online do Brasil faleceu ontem (14 de Agosto) no Rio de Janeiro, segundo informações divulgadas por sua esposa, em uma rede social. London, faleceu aos 67  anos devido a um câncer. O enterro aconteceu hoje, dia 15 de Agosto no Cemitério Israelita de Vilar dos Teles, no Rio. “A família, inconsolável, acredita que Jack, um incansável criador, provavelmente foi trabalhar em outras dimensões”, disse sua esposa.

“Black Friday: Este é o primeiro passo para a obsolescência dos velhos feriados dos séculos dezenove e vinte”, Jack London.

Jack London print

Empreendedor, visionário e planejador, London tinha mais de cinquenta anos de experiência trabalhando na área de Comunicação, Mecanismos de Informação, E-commerce, Tecnologia e Serviços. Em seu perfil na rede social Linkedin, London se definia como alguém “que tentava refletir permanentemente sobre o mundo, suas transformações e desassossegos”.

“O Jack foi uma das figuras que mais nos inspiraram na concepção do projeto E-Commerce Brasil. E foi muito importante na nossa missão de educar, transmitindo conhecimento ímpar ao nosso público em várias ocasiões. O e-commerce deve muito a ele. O E-Commerce Brasil deve muito a ele. É um dia extremamente triste para todos nós”, disse Tiago Baeta, fundador do E-Commerce Brasil.

Jack London, autografando seu último livro, durante o Fórum E-Commerce Brasil 2015

Jack London autografando seu último livro durante o Fórum E-Commerce Brasil 2015

Trajetória de London

Jack London criou, em 1995, a Booknet, considerado o primeiro e-commerce do Brasil, que, depois de vendida a um grupo financeiro foi renomeada de Submarino. Foi um dos membros do GT que deu origem à Anatel e toda a base operacional da Internet no país, deu forma final ao texto de criação da Certificação Digital, criou e presidiu a Camara e-net, trabalhou em parceria e como consultor em mais de 100 empresas e projetos, tem cerca de 600 artigos e nove livros publicados.
Não se imaginava um INfluencer, mas apenas um Com.fluencer.

  • 1971: Gerente de Pesquisas do Índice Banco de Dados, primeira empresa brasileira de informações econômicas. Criou a Matriz Econômica Brasileira, pioneiro banco de dados informatizado sobre a Economia do país;
  • 1974: Gerente de Operações de duas subsidiárias da José Olympio Editora. Nesta função foi representante no Brasil das empresas Time-Life Films, BBC TV e Museu do Louvre. Implantou projetos de treinamento para muitas empresas, entre elas a General Motors do Brasil e o Ministério do Planejamento.Em 1976 comprou o controle acionário destas empresas;
  • 1980: foi Diretor da CBC- Cinema, executando a maior operação de M&A no setor no país: a aquisição de todos os ativos da empresa mexicana Pelmex;
  • 1982: foi Secretário de Cultura de Petrópolis;
  • 1994: foi Secretário Estadual de Esportes e Cultura do Estado do Rio de Janeiro;
  • 1995: criou a Booknet, a primeira empresa de e-commerce do país, que em 1999 foi vendida e renomeada como Submarino;
  • 2000-2004: criador da Câmara E-net, dos sites Valeu, Tix e Armazém Digital. Gestor do Conselho Consultivo da IdeiasNet
  • 2001-2004: Foi Google Ambassador no Brasil. Operou a gestão de Acesso e Mobilidade do Rock In Rio de 2001 e de 2004, em Lisboa. Foi Key Note Speaker, no Brasil, em Portugal, nos EUA (Wharton, Harvard e Michigan) e na Argentina. Foi Professor Convidado na Coppead, GV/SP, no ITA/SP, na Eceme e na FGV/Rio.
  • 2004-2016: professor do MBA do IAG da PUC/RJ, e atuava como escritor e articulista e CEO da Jix Empreendimentos.

Leia o último texto de Jack London publicado em 19 de Maio

“O pânico não é uma boa ferramenta de trabalho, nem a desesperança, mas a ingenuidade e a desinformação são ainda piores”, Jack London

Um pioneiro das ideias

“Aos 20 anos de idade, tinha certeza que minha vida seria uma mistura de livros, tecnologia e cinema. E me dediquei a vida toda a isso”, contou, já nos seus 60 anos de idade, em entrevista ao programa Man in the Arena (que passou a ser publicado no Startupi). Assista:

“Quem vive na escuridão, no silêncio do conhecimento, não é capaz de, ao perceber a desordem do mundo, encontrar seus caminhos”, Jack London.

Como todo bom empreendedor e não empresário, como ele mesmo costumava dizer, London era observador. Foi após uma visita à Amazon em 1994 em Nova York que ele se inspirou para criar a Booknet. “Quando entrei (na Amazon) vi uma mesa de pingue-pongue, as pessoas jogando livros de um lado para o outro, fazendo pacotes”, relembra. De volta ao Brasil, levou em consideração a dimensão continental do país, o baixo número de livrarias, o acesso limitado à leitura, e decidiu: replicaria o modelo da empresa de Jeff Bezos por aqui, disse em entrevista à Pequenas Empresas Grandes Negócios.

Leia:

Jack London participa de Painel no Fórum E-Commerce Brasil sobre internet das coisas

Autoentrevista com Jack London para a Revista E-Commerce Brasil 

Rio lança primeira livraria virtual do Brasil

Para Vivianne Vilela, Diretora Executiva do E-Commerce Brasil, Jack era um daqueles seres formidáveis que demostrava, em cada fala, uma avidez juvenil quando começava a lembrar das histórias da sua trajetória profissional. Um leitor voraz com ideias e raciocínios muito bem fundamentados e construídos. Um inspirador, nas palavras da executiva. Ela cita o texto do famoso escritor americano Jack Kerouac, grande ícone da cultura beatnik daqueles anos e serve para descrever a jornada pessoal e empreendedora do Jack London.

“Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras e não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas.”

“Um misto de pensador, questionador, professor e empreendedor incansável. Estou bem triste com esta perda irreparável para o e-commerce brasileiro. Mas principalmente, triste, porque em tempos de reconstrução, o Brasil perde mais um dos seus pensadores e mentores”, disse Vivianne.

Para Mariana Anselmo, editora da Revista E-Commerce Brasil há dois anos, Jack London foi “uma fonte de conhecimento inesgotável para o e-commerce. Sempre solícito, transmitia sua experiência, dúvidas e esperanças para o e-commerce. Mas uma vez me disse: o que não abro mão mesmo é do título de avô babão; e me agradeceu por tê-lo dado”, disse Mariana.

Assista ao Talk Show do com Jack London no Fórum E-Commerce Brasil 2013: do início à maturidade do e-commerce no Brasil

Conheça alguns livros de Jack London:

Adeus, Facebook

O mundo real vai acabar amanhã

Navegar é preciso

Antenado, London acompanhou todos os avanços tecnológicos do comércio eletrônico e nunca parou no tempo. Por isso, ele acreditava que a linguagem digital já tinha ficado velha. “Internet das Coisas não é nada, é apenas uma maneira de chamar a atenção e ampliar o uso de tecnologias que já bateram no teto. Este e-commerce que nós conhecemos hoje, nada tem a ver com o e-commerce de 20 anos atrás. E não terá mais nada a ver com o e-commerce do futuro”, disse.

Para London, a estabilidade é uma constante mudança e a jornada em busca da compreensão do mundo e das tecnologia nunca acabará. “Sempre vamos querer mais, saber mais, compreender melhor o mundo que a gente vive”. Para nós, começa hoje uma outra jornada: a de perpetuar o legado de London. O legado da incansável sede por inovação, pelo desenvolvimento humano e por tornar o mundo um lugar melhor.

Em memória de Jack London – 16 de Fevereiro de 1949 > 14 de Agosto de 2016