A contínua queda nos gastos com produtos de luxo na China não deve se reverter este ano. Este alerta vem de analistas e executivos, que analisam a crise que eliminou quase US$200 bilhões do valor do setor nos últimos meses. Em abril, mostramos como o e-commerce de luxo já estava esperando uma grande redução nas vendas. Inclusive, algumas marcas de luxo mudaram suas estratégias para continuar engajando o público.
Nesta semana, avisos de lucro da Burberry e Hugo Boss, juntamente com uma queda de 27% nas vendas trimestrais na China, Macau e Hong Kong da Richemont (CFR.S), aumentaram as preocupações sobre a fraqueza na demanda na China. A “bomba”, neste caso, seria em relação aos consumidores chineses de classe média, que estão reduzindo gastos com itens caros, impactando severamente o setor.
A consultoria Bain informou que a China representou 16% dos US$393,8 bilhões gastos globalmente com luxo no ano passado. No entanto, dados divulgados na segunda-feira mostraram que a segunda maior economia do mundo cresceu muito mais lentamente do que o esperado no último trimestre. Uma crise imobiliária prolongada e a insegurança no emprego têm prejudicado a recuperação econômica do país.
Expectativas e realidade
As expectativas para a temporada de lucros do segundo trimestre já eram baixas no setor de luxo. Porém, uma série de relatórios sombrios frustrou as esperanças de recuperação no segundo semestre. “A China está na oficina de reparos”, disseram analistas da Bernstein após uma visita recente ao país. O relatório trimestral de vendas da Richemont, proprietária da Cartier, confirmou os temores sobre a fraca demanda na China continental.
Segundo a Bain, que em junho previu que este ano seria o mais fraco para o mercado global de luxo desde o auge da pandemia, os consumidores mais ricos da China estão evitando exibir sua riqueza em favor de uma moda mais discreta.
Reação do mercado
O nervosismo em relação à China assustou os investidores, que perderam €180 bilhões no setor desde março, de acordo com cálculos da Reuters com base em dados do LSEG. Uma grande parte dessa perda — cerca de €85 bilhões — veio da LVMH, que foi ultrapassada pela ASML em junho como a segunda empresa mais valiosa da Europa.
Analistas do JPMorgan disseram que sinais de melhora nos negócios são necessários para sustentar as expectativas para o segundo semestre do ano.
Dependência do mercado chinês
O setor de luxo depende há anos do forte apetite da China por produtos premium, com seu mercado triplicando de tamanho entre 2017 e 2021, conforme a Bain. Até o início de 2023, os ricos e a classe média chinesa gastaram em itens de luxo (como bolsas a roupas de grife) após a suspensão dos rigorosos bloqueios da Covid-19. No entanto, essas compras começaram a perder força no no mesmo período do ano passado, à medida em que a crise imobiliária se aprofundava.
Este ano, as Olimpíadas de Paris também podem pesar ainda mais nas vendas de luxo, já que grandes áreas da capital da moda da Europa estão isoladas dos consumidores. Por conta desses efeitos, a Bain prevê um crescimento orgânico do setor de 4% neste ano, com um aumento de 7% no segundo semestre.