A transformação digital tem sido tema prioritário na agenda de líderes e executivos do mundo inteiro. Mais do que uma tendência, é um movimento necessário para empresas se adaptarem às novas diretrizes do mercado e também às necessidades demonstradas pelo consumidor. No Fórum E-Commerce Brasil 2022, empresas de grande porte compartilharam com o público detalhes da trajetória de transformação. A Dafiti foi uma delas.
“Depois de alguns anos, é comum se deparar com o time to market alongado, com muita complexidade. É necessário repensar a experiência do cliente para pensar como a evolução da própria web e das pessoas com o digital continue sendo atraente”, disse Anderson Braz, líder de Engenharia de Software na fashiontech.
Os últimos 3 anos foram marcados por um intenso processo de modernização na Dafiti, o maior e-commerce de moda e lifestyle da América Latina. E segundo Braz, essa jornada é bastante desafiadora e ainda está em andamento. Com a transformação digital, foi necessária a modernização da arquitetura do desenvolvimento do app. Mas como aplicar isso dentro de uma empresa de alto crescimento?
Modernização: como dar esse passo a mais
O mais importante de tudo é olhar para os dados. E se a sua empresa ainda não os têm, antes de inserir a modernização de arquitetura no roadmap, é preciso fazer com que os dados existam. “Os números vão te dizer o que você precisa fazer. Quantos incidentes você tem, quantos bugs, tudo que está na jornada digital e faz parte da entrega. Para modernizar, entenda qual o fluxo crítico da sua jornada. Atue nos pontos que realmente vão te dar resultado, tanto no backend, no front e até na web. Tudo isso é o produto, tudo é a experiência”, destaca Anderson Braz.
Conectando a visão de engenharia com a visão de produto através dos dados intercambiáveis entre ambos os setores, a Dafiti efetuou as tomadas de decisões e iniciou o processo de modernização. A empresa optou por congelar o aplicativo atual e voltar todos os esforços do time de tech para o desafio, porém, Braz ressalta: “Não é só o time de tecnologia envolvido nisso, é toda a empresa. É importante garantir que o futuro que estamos imaginando, e que vai se consolidar em algum momento, esteja na cabeça dos desenvolvedores e de todas as pessoas”.
Com dois códigos fonte em atividade, seria preciso pagar duas vezes por uma mesma funcionalidade. Além disso, no caso da Dafiti, o número de desenvolvedores Android era superior ao de iOS, o que estava explicitamente impactando a experiência dos usuários de iPhone. Como solução para um processo que poderia se tornar custoso e uma experiência desequilibrada entre usuários Android e iOS, a saída encontrada pelo time foi apostar em uma tecnologia híbrida. “O Google estava, no mesmo momento, lançando o Flutter. Ele não é igual a um app nativo, mas também não é um container que demora muito para renderizar as coisas. O Android tinha mais features do que o iOS, e isso começou a desfavorecer o iOS. Em algum momento, tudo isso se uniria no Flutter ”, afirma Braz.
Ao invés de reescrever toda a estrutura do aplicativo, somado ao Flutter, o time Dafiti também encontrou a solução no uso do BFF, ou Back-end for Front-end. Dessa forma, foi possível acelerar o desenvolvimento e realizar mudanças nas APIs sem gerar grandes alterações nos outros componentes do software.
Qual a melhor estratégia de modernização?
Independente de qual for a estratégia escolhida pelo negócio, é de suma importância que ela chegue a todas as pessoas que serão impactadas por ela. “Garanta que a estratégia chegue a todas as pessoas envolvidas: à liderança, às pessoas que fazem as entregas e às pessoas que usam aquilo que você entrega, inclusive dentro da própria empresa”, afirma Anderson.
Em termos de plano tático, o mais simples é, de fato, não fazer nada – manter tudo como está. Porém, esse pode ser um caminho insustentável a longo prazo. Sem fazer nada, é fato que a transformação digital – ou a ausência dela – não demorará muito a jogar luz sobre as defasagens da empresa e suas soluções em relação às expectativas do consumidor e do mercado.
Na Dafiti, o caminho escolhido foi o front-end only, com uso do Flutter e do BFF. Dessa forma, a exposição de APIs que se conectam ao backend existente com poucas ou zero alterações, entregando experiências novas para testar novas hipóteses.
Há também o caminho re-hosting, que consiste em migrar o app para uma infraestrutura nova e melhor. Essa estrutura não precisa necessariamente estar em Cloud, aponta Braz. O importante é encontrar uma infra melhor dimensionada, possivelmente com novos parceiros.
O modelo refactoring ou re-architecting é escolhido em casos nos quais não é possível suportar a escala ou a solução se tornou muito complexa dada sua evolução, tornando-se uma solução custosa para ser mantida no ar. “Nesses casos, eu diria que aqui você começou a ter um problema bom para resolver”, brinca Braz.
Por fim, existe também a estratégia full rewrite, que como o nome sugere, consiste em reescrever toda a arquitetura do zero. Mas Anderson alerta: “Essa eu nunca vi funcionar. Não recomendo Big Bang: eu parei de tentar”.
Cada empresa tem sua realidade, portanto, só os dados do seu negócio têm a resposta para quais são as necessidades do seu negócio e qual estratégia de modernização melhor se aplica a ele. Mas, para Anderson, isolar as partes a serem modernizadas é uma dica preciosa. “Isole as partes e faça elas se encaixarem na solução atual de alguma forma. Tudo é movimento”, pontua.
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Por Itala Assayag, especial para a Redação do E-Commerce Brasil