Se antes da pandemia o delivery representava um porcentual irrelevante das vendas de restaurantes, hoje a participação flutua entre 15% e 30% do faturamento total. Com o aumento da demanda, as empresas começam a criar sistemas próprios, em detrimento da utilização de aplicativos de entrega como iFood e Rappi. O objetivo é, entre outros motivos, fugir das taxas cobradas pelos aplicativos, que chegam a 30% do pedido, além de criar uma maior fidelização dos clientes.
Antes da pandemia, o Burger King vendia menos de 5% de seus pedidos por entregas. Agora, esse número ultrapassa os 15%, mesmo com a reabertura das lanchonetes. No mês passado, a rede lançou um sistema de entregas. Até agora 300 lojas da empresa já estão recebendo pedidos pela ferramenta, e a ideia é chegar a 700 até dezembro.
“Criamos um hub logístico que vai nos conectar com todas as etapas do pedido e que recebe automaticamente todos os cadastros e pedidos no País”, diz Ariel Grunkraut, vice-presidente do Burger King.
Inteligência do delivery
Concorrente do Burger King, o Bob’s tomou este caminho em 2020. De acordo com Antonio Detsi, diretor-geral da rede, com o delivery próprio, foi possível reter dados dos clientes que auxiliam na hora de criar promoções. “Não vou encher o cliente com promoções que não servem para ele. Se eu souber que no dia 23 acabou o vale-refeição dele, por exemplo, posso mandar sugestões de sanduíches mais baratos”, diz Detsi.
Com estratégias como essa, o Bob’s saltou de 7% para 22% na participação do delivery em seu faturamento, crescimento fundamental para manter a rede de pé – a receita caiu 18% em 2020 por causa da pandemia. No ano passado, a situação melhorou e a companhia voltou aos R$ 1,1 bilhão em faturamento e quer crescer cerca de 20% em 2022. A ideia é aumentar a participação do delivery próprio (hoje em cerca de 10%).
Sem debandada
Nenhuma das empresas, no entanto, planeja sair do cardápio de aplicativos como iFood e Rappi, considerados uma forma relevante na captação de clientes. O problema, porém, é que esse setor caminha para virar um monopólio: no mês passado, o Uber Eats anunciou que deixaria de operar no Brasil. Assim, o iFood, cuja participação de mercado é estimada em 80%, amplia seu domínio, não só do serviço em si, mas também dos dados dos clientes.
“As empresas estão ficando fora da jornada do cliente com os dados ficando apenas com as plataformas”, diz Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail.
E os pequenos também estão indo atrás desse modelo. É o caso do restaurante Espetos Ferreira, em São Paulo. Por causa dos efeitos da Covid-19 nas vendas, a empresa precisou encerrar uma de suas duas unidades. Como compensação, o delivery passou a representar uma fatia de 30% do negócio. O restaurante atende a pedidos também pelo iFood, que representa 90% das vendas por delivery, mas está para colocar em prática um plano de marketing direcionado a migrar os clientes fiéis para o seu aplicativo. “A ideia é não ficar refém do iFood”, diz a proprietária Adriana Ferreira.